Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e
trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na
língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do
Sul de Minas Gerais.
(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)
Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,
é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.
(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)
Como já foi dito, a Série Vocabulário de Aguinhas trata-se de uma coleção de palavras e expressões, típicas de Lambari (MG) e região Sul do Estado de Minas Gerais, utilizadas no livro Menino-Serelepe*.
Entre essas palavras e expressões, há algumas que são caracteristicamente lambarienses. Os casos abaixo, por exemplos, pelo que sabemos, só ocorrem em nossa região:
Há outras expressões nossas, que não foram incluídas no vocabulário citado, e que são bastante curiosas, como estas:
Abaixo vai a letra "F" do nosso Vocabulário de Aguinhas.
Confira.
Vocabulário
Faniquito: Ataque de nervos sem importância nem gravidade; xilique.
Farejar: Procurar, esquadrinhar, descobrir.
Farronca: Entidade fantástica que amedronta as crianças. Bicho-papão, cuca.
Fazer vista grossa: Omitir-se; fazer que não viu.
Feijão-pagão: Feijão cozido, mas não socado, que se usa para preparar o feijão tropeiro.
Ficar de butuca: Ficar de olho, vigiar.
Fiote-de-cruz-credo: Pessoa feia, desajeitada.
Féria: Apuração da venda do dia no estabelecimento comercial.
Festão: Ramalhete de flores e folhagens.
Fifó: Fofoqueira de língua venenosa, intrigante.
Finco: Jogo de finco, ou de faquinha, em que se vai lançando, sem errar, os fincos (ou faquinhas) e traçando linhas no chão.
Forreca: Caminhonete velha e estragada.
Fuá: Barulho; confusão.
Fubica: Automóvel antigo e muito estragado.
Fulustreco: Designação de alguém que não se quer nomear, ou cujo nome é ignorado; fulano.
Fraga: Rocha escarpada; penedo, penhasco. Terreno escabroso.
(**) Este Vocabulário de Aguinhas faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.
Veja nos números anteriores desta série:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36347
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37267
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37892
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=41044
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=42798
Ilustração de abertura: Capa do Dicionário de Vocábulos Brasileiros, de Beaurepaire-Rohan, publicado em 1889, no Rio de Janeiro, pela Imprensa Nacional. A obra é fruto da cultura humanística do autor e da observação acurada, em trabalho de campo, em que ia fazendo a recolha de vocábulos e frases que ouvia em suas andanças pelo Brasil, onde foi, dentre outras atividades públicas exercidas, ocupante dos cargos de Presidente das Províncias do Pará, Paraná e Paraíba.
Ilustração: Logo Som das Águas. TV Manchete. 1987. Reprodução
Em 1987, foi realizado em Lambari o festival de música O SOM DAS ÁGUAS, promovido pela TV Manchete e Adonis Karan, com o apoio das Secretarias de Estado e Cultura e Esporte, Lazer e Turismo de Minas Gerais.
Transmitido ao vivo pela TV Manchete, para todo o Brasil, o festival contou com grandes nomes da Música Popular Brasileira e trinta músicas foram classificadas para a fase semifinal.
Abaixo algumas informações, fotos e vídeos desse festival. Confiram.
Ao fundo, palco do evento Som das Águas
(1) Ícone da extinta TV Manchete (2) O produtor musical Adonis Karan
A chamada para o festival, na TV Manchete
Veja a chamada para o festival O SOM DAS ÁGUAS, feito pela TV Manchete.
Reportagem da Revista Manchete
A revista Manchete divulgou o evento:
Reprodução. Revista Manchete n. 1857, de 1987
Reprodução. Revista Manchete n. 1857, de 1987
De Tadeu Franco e Sérgio Santos, a música Canoeiro.
Aqui na interpretação de Juca Novaes, confira:
Canoeiro, interpretado por Juca Novaes. Youtube - aqui: https://youtu.be/wKxmzISs1PI
Agradeço a contribuição de Juarez Cavalcanti Botelho.
Cacaso, como se recorda, é o apelido pelo qual ficou conhecido Antônio Carlos Ferreira de Brito, mineiro de Uberaba (1944), professor universitário, letrista e poeta. Cacaso é um dos principais nomes da "poesia marginal" brasileira. Sua obra, influenciada por Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Oswald de Andrade, tematizou a política e o amor em tempos de ditadura e liberação sexual, com humor e crítica social.
Em 1987, conquista o 1º lugar no Festival de Música Som das Águas, realizado em Lambari (MG), com a música O Dia do Juízo, em parceria com Sueli Costa. E no dia 27 de dezembro, deste mesmo ano, morre, de enfarte, no Rio de Janeiro (Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Literatura Brasileira, disponível aqui)
Vídeos apresentações de O SOM DAS ÁGUAS
Apresentação de Oswaldo Montenegro e banda (Pierre Simões nos teclados, Milton Guedes no sax e Lui Coimbra no cello Pierre Simões), com a música Lume de estrelas. Veja no Youtube, aqui
Apresentação de Zé Alexandre, com a música Terra Sã. Veja no Youtube, aqui
Rosa Amor (Homenagem a Cartola), de Ubiratan Souza, com Eduardo Costa. No Youtube, aqui
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Na crônica A Seleção em Aguinhas, extraída do livro Menino-Serelepe*, anotei a lista dos 44 jogados da Seleção Brasileira que estiveram em Lambari, durante os preparativos da Copa do Mundo de 1966.
Como se recorda, esta é a lista:
Fábio, Gilmar, Manga, Ubirajara e Valdir (goleiros); Carlos Alberto Torres, Djalma Santos, Fidélis, Murilo, Édson Cegonha, Paulo Henrique e Rildo (laterais); Altair, Bellini, Brito, Ditão, Djalma Dias, Fontana, Leônidas, Orlando Peçanha e Roberto Dias (zagueiros); Denílson, Dino Sani, Dudu, Edu, Fefeu, Gérson, Lima, Oldair e Zito (apoiadores); Alcindo, Amarildo, Célio, Flávio, Garrincha, Ivair, Jair da Costa, Jairzinho, Nado, Parada, Paraná, Paulo Borges, Pelé, Servílio, Rinaldo, Silva e Tostão (atacantes).
Pois bem, nesse ano e meio em que o site GUIMAGUINHAS está no ar, alguns desses craques vieram a falecer, e noticiamos isso aqui. Veja o caso de Gilmar, Djalma Santos e De Sordi (aqui).
Dias atrás (31 de outubro), deu-se o falecimento de outro craque, ligado a essa Seleção e ao Galo Mineiro. Trata-se de Oldair, o grande capitão da conquista do Campeonato Brasileiro de 1971, vítima de câncer, aos 75 anos.
Oldair realizou 282 partidas com a camisa do Galo e marcou 61 gols.
Oldair (entre Alcindo e Jairzinho) na famosa foto da Seleção de 66, tirada no Cassino
Veja também:
Referências: Supersport (Estado de Minas); Youtube; Terceiro tempo
O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS, pode ser examinado no tópico Livros à Venda, acima.
Eu conheci Bob (foto acima) em Lambari, apresentado pelo Jurandyr, seu irmão. O Jurandyr, que todos conhecemos por Alemão, se instalou em Lambari nos anos 1960, e durante muito tempo jogou pelo Fluminense de Caxambu, e depois pelo Vasquinho e Águas Virtuosas. (Veja este post: Craques do Águas - Chá e Alemão - aqui).
Isso se deu nos anos 1970, numa lojinha (Charutaria do Alemão) que o Jurandyr possuía no antigo Bar do Juca, e se situava onde hoje é o Banco do Brasil.
Alemão (de óculos), nos tempos do Fluminense de Caxambu, ao lado de Terinho e Lilico, que também jogaram no Águas Virtuosas.Eles eram oriundos da Ilha do Governador.
Alemão, entre Roberto Nascimento e Baiano, no Bar do Juca
Eu, botafoguense de coração, a época jogava de volante, no time do Águas, do qual Alemão era o técnico. E Alemão brincou: — Vem conhecer o maior volante da história do seu time!
De fato, Robert James Neil,
conhecido apenas como Bob, nasceu no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1928, e começou a atuar no Cocotá, time da Ilha do Governador no início dos anos quarenta. Era um jogador raçudo — que "molhava a camisa com sangue", como gostava de dizer o botafoguense Roberto Porto — e possuidor de um forte poder de marcação. Formado no juvenil do Botafogo, profissionalizou-se em 1949, quando começou a ser aproveitado na equipe principal ao substituir Ávila.
No começo dos anos cinquenta, Bob formou uma consagrada linha média junto com Araty e Juvenal. Sempre atuando como médio, hoje equivalente a posição de volante.
Bob foi o capitão na primeira excursão do clube ao continente Europeu em abril de 1956, e pelo Botafogo ganhou o Torneio Municipal do Rio de Janeiro (1951), mas não chegou a ser campeão estadual em 1957, pois foi vendido para o Grêmio, e lá foi campeão em 1956,1957, 1958, 1959 e 1960.
(Fonte: www.tardesdepacaembu.wordpress.com/)
Ainda em Lambari, anos depois, nos treinos do time de Veteranos do Águas Virtuosas, formado em 1982, quando nos sagramos campeões Sul Mineiros, às vezes o Bob ia bater uma pelada com a gente. Mas ficava ali pela ponta-esquerda, bem na borda do campo, dizendo: — Eu fico aqui parado, só pra não deixar a bola sair pela lateral.
Veteranos do Águas, Campeão Sul Mineiro de 1982. Em pé: João Fubá, Édson, Fábio, Chá, João do Banco, Zoinho, Nem e Zezé Gregatti. Agachados: Xepinha, Alemão, Paulo, Betinho, Guima e Egberto.
E numa das festas anuais do time de Veteranos do Águas, que organizávamos em minha casa, convidamos o Bob, e preparamos uma surpresa. Quando ele chegou, botei o Hino do Botafogo e despejei sobre a mesa revistas esportivas com fotos dos times do Botafogo de 1940/1950, nos quais ele atuara. E Bob chorou de emoção, e recordou lances e contou histórias de Juvenal, Arati, Nílton Santos, Didi, Garrincha e tantos outros craques geniais...
Bob morava na Ilha do Governador, onde residiu por toda a vida, e continuou amigo de Nílton Santos, que também nunca saiu da Ilha. Bob faleceu em 2004, vítima de um ataque cardíaco. Alemão também faleceu, alguns anos depois.
Bob e Alemão, na Ilha do Governador
Botafogo de 1953, de Nílton Santos e Garrincha, e da famosa linha média do Botafogo: Arati, Bob e Juvenal.
Botafogo dos anos 1950, com Nílton Santos, Bob, Garrincha e Didi.
Veja também:
Referências:
Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e
trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na
língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do
Sul de Minas Gerais.
(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)
Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,
é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.
(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)
Gladstone Chaves de Melo
Gladstone C. de Melo
Gladstone Chaves de Melo (biografia, aqui), natural de Campanha (MG), linguista e professor renomado, teve diversos laços com a cidade de Lambari. Na foto acima, por exemplo, ele aparece discursando na Igreja de Nossa Senhora da Saúde, em 1955, por ocasião do Congresso Eucarístico e da Sagração de nossa igreja matriz. (Veja este vídeo - aqui)
Estudioso do português do Brasil, Gladstone deu, com o livro A Língua do Brasil, contribuição valiosa para combater a ideia de língua brasileira. Quis, com sua tese, provar que não temos outra língua: usamos a mesma de Portugal, com algumas alterações e estilo brasileiro.
É deste livro de Gladstone a citação acima, que abre este post, que retiramos de um trecho em que comenta que diversos termos do português arcaico foram conservados no interior do Brasil, especialmente no Sul de Minas e interior de São Paulo.
Entre esses termos, por exemplo, está o arcaísmo salvar, que utilizamos no livro Menino-Serelepe*, no trecho abaixo, com o sentido primitivo de cumprimentar, saudar, num trecho em que falamos sobre as congadas que anualmente visitam a Igrejinha de São Benedito:
Entre os ternos das congadas, há os que para salvar a bandeira, em sua cantoria, recitam ao santo este refrão:
São Benedito está triste na bandeira /Seus olhos correm água / Que cheira a flor de laranjeira
Ternos de congadas na Igreja de São Benedito (Lambari, MG)
Abaixo vai a letra "F" do nosso Vocabulário de Aguinhas.
Confira.
Em tempo de: Em risco de; a ponto de; a pique de.
Em três tempos: Brevemente, em pouco tempo.
Embramar: Emaranhar; embaraçar.
Embrechar: Meter; introduzir.
Empachado: Diz-se do estômago muito cheio, sobrecarregado, obstruído, após a comedeira.
Empelicado: Diz-se da criança que nasce com uma pelica; daí empelicado, que, segundo se julga, será uma criança que terá muita sorte na vida.
Empencado: Junto, unido, que nem frutos em penca.
Empinhocado: Agrupado, agarrado.
Encamaçar: Preparar (um baralho de cartas) para enganar os parceiros.
Encarangado: Tremendo de frio.
Encarrancar: Anuviar-se; escurecer-se; carregar-se (o céu).
Encarriar: Corruptela de encarrilhar. Dispor ao lado, ou atrás, de forma bem arrumada.
Encravo: Mercadoria antiga, encalhada.
Encasquetar: Meter, teimosamente, algo na cabeça, no juízo. Obstinar-se.
Encovar: Retirar-se; esconder-se, ocultar-se.
Engambelar: Enganar com falsas promessas, jeitosamente; enrolar.
Engenhoca: Pequenos aparelhos e máquinas para fabricar ou preparar alimentos.
Engrossar o cangote: Crescer, fazer-se adulto.
Engronga: Geringonça. Enguiço: Urucubaca.
Entrão: Enxerido; abelhudo; confiado.
Engasgalhar-se: Embaraçar-se. Engasgar-se, entalar-se.
Enxerga: Manta de capim para selar animais, que se usa também como colchão.
Esbofado: Com os bofes de fora: cansado; esbaforido; esfalfado.
Escabichar: Examinar com cuidado, atentamente.
Escarranchar: Abrir as pernas para montar a cavalo.
Escomungado: Corruptela de excomungado. Xingamento: Péssimo; detestável; amaldiçoado.
Esconjuntado: Corruptela de desconjuntado = fora das articulações; destroncado.
Escovar a garganta: Pigarrear antes de falar.
Esculacho: Repreensão, esfrega, censura com palavras du- ras e enérgicas, de caráter disciplinar.
Esgoelar: Estrangular; esganar.
Estrompado: Gasto, estragado, deteriorado.
Escurricho: Diarréia de animais.
Esfola-caras: Barbeiro ruim, que não sabe fazer barbas.
Espandongado: Estragado, rebentado, quebrado, esfranga- lhado. Especula: Sujeito perguntador.
Espiolhar: Examinar minuciosamente, esmiuçar, investigar; pesquisar, perquirir.
Estar de enguiço: Estar com má sorte, com urucubaca, azarado.
Estentóreo: Que tem a voz muito forte.
Estirão: Grande trecho de rio ou terreno em linha reta. Grande distância em linha reta. Caminhada longa.
Estopada: Coisa penosa, grande dificuldade.
Estrupício: Coisa esquisita, despropositada, fora do comum. Estrovenga.
Estrupido: Grande estrondo; estrépito, estampido.
Estugar: Aligeirar; adiantar, apressar (os passos).
(**) Este Vocabulário de Aguinhas faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.
Veja nos números anteriores desta série:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36347
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37267