Ilustração: André Gesualdi, em 2012, em viagem a Latronico (Itália), terra de seus bisavós, os emigrantes italianos Egydio Di Vicenzo Gesualdi e Felicia Di Nunziato Mileo, que chegaram a Águas Virtuosas de Lambari em 1893
Fomos dormir [em Latronico, 24-05-2012] com a lembrança dos antepassados, em quem não podíamos pensar muito, devido a forte emoção, como a que agora me atinge ao escrever tudo isto, e, também, ao lembrar que estava realizando o sonho do meu pai e — por que não dizer? — de meu avô ou algum tio querido.
ANDRÉ LUIZ MARTINS GESUALDI (*) - Relato de viagem a Latronico, 2012.
(*) Filho de Ismael, neto de Annunciato e sobrinho-neto de Vicente, Maria, Egídia e Isabel — todos esses GESUALDI
Dentro da série Imigração italiana para Águas Virtuosas de Lambari, vimos comentando sobre os cidadãos italianos que emigraram para nossa cidade no final dos anos 1800, início dos 1900.
Neste post, falaremos sobre a viagem que André Gesualdi e sua esposa Deborah fizeram a Latronico, terra dos antepassados de André — os GESUALDI que chegaram a Águas Virtuosas de Lambari, em 1893.
Vamos lá.
Esta Série está dividida em 5 partes:
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A parte 1 - Visão geral está aqui. A parte 2 - Latronico: terra de origem de famílias italianas de Lambari está aqui. A parte 3 - Breve histórico de famílias italianas de Lambari - 1 - Família GESUALDI está aqui. A parte 3 - Breve histórico de famílias italianas de Lambari - 2 - Família BASILE está aqui. A parte 4 - Viagens à terra dos antepassados - Família GESUALDI (este post) A parte 4 - Viagens à terra dos antepassados - Família BASILE está aqui. |
Vejamos, agora a parte 4 - Viagens à terra dos antepassados - Família GESUALDI (Latronico, Itália).
Este post foi feito com a grande colaboração de André Gesualdi (veja aqui), que gentilmente cedeu cópias de fotos e do relatório da viagem que fez a Latrônico, em 2012, para conhecer a terra de seus bisavós: Egydio Di Vicenzo Gesualdi e Felicia Di Nunziato Mileo.
Egydio Di Vicenzo Gesualdi e Felicia Di Nunziato Mileo, italianos de Latronico
Nessa viagem a Latronico, André e Déborah seguiram um roteiro pouco habitual aos turistas brasileiros, que geralmente ali chegam pelas autoestradas, via Napoli. O casal escolheu subir as montanhas, passar por rodovias secundárias (até estradas de fazendas) e chegar vindo do alto.
Nesse trajeto, passaram por Campobasso, cidade da família Biaso, que também migraram para Águas Virtuosas. O avô de André, Annunciato Gesualdi, viria a se consorciar com uma Biaso: Thereza, filha de Francisco de Biaso e Pascoalina de Biaso.
O imponente Monte Alpi (1800 m), próximo ao roteiro seguido por André Gesualdi
Depois, por Pietrelcina, San Giovanni Rotondo e dormiram em Foggia, partindo em direção a Latronico, passando por Potenza.
De Foggia para Potenza, seguiram pela tradicional E 847, e desviaram a seguir pela estrada que passa por Tito: a SS 95var, uma "Strada Statale". A seguir, tomaram a SS 598, até encontrar a SS 104, passando por pequenos vilarejos tão comuns na Itália. Alguns desses caminhos, apesar de asfaltados, somente davam passagem para um veículo por vez.
Pequena estrada vicinal asfaltada
No dia 24/05/2012, às 13h15min, o casal chegou a Latronico pela SS 104, de onde se tem uma magnífica vista da cidade.
André e Deborah na foto tradicional com Latronico ao fundo
E não se vai à Itália sem comer bem e beber bom vinho!
O primeiro almoço foi na La taverna dei gesuiti (que quer dizer taverna do jesuíta, e não dos Gesualdi, como pode parecer).
Excelente escolha pela recepção e pela comida, talvez a melhor de toda a viagem: um antepasto de vários salames, pães, bacon, peperoni da região e brusqueta, seguido por um macarrão largo com bacalhau, acompanhado de um vinho próprio do estabelecimento.
Isso tudo ao som de Caetano, Vinicius e bossa nova — paixão de Benito Vecchio, o simpático e caloroso proprietário da taverna.
Um antepasto generoso e um vinho da casa
Saiba mais
Reprodução. Fonte: Tripadvisor.com.br
Após o almoço, o casal se hospedou num b&b - bed&breakfast (quarto com sala, cozinha e banheiro), de propriedade do geólogo Vincenzo Delcimarotto, cuja mãe, já falecida, chamava-se Maria Gesualdi, mas não era parenta de André.
Nessa mesma tarde, acompanhados por funcionários do b&b, rumaram à prefeitura (comune), para obter informações sobre a família: sua origem, cópias de documentos, existência de parentes ainda vivos, etc. Foram bem recebidos e orientados a retornar no dia seguinte.
Após a visita à prefeitura, André e Deborah foram conhecer a cidadezinha.
Sim, Latronico é uma pequena cidade, cuja população, historicamente, nunca ultrapassou 7.000 habitantes. Chegou a possuir 3.000 habitantes no início do século XIX e cerca de 5.000 à época da imigração (final do Século XIX). Em 2008, havia 4.906 moradores, conforme dados oficiais da prefeitura.
Era uma quinta-feira — nesse dia o comércio de Latronico não funciona — e assim, em cerca de duas horas, o casal completou um giro pela cidade, visitando lugares tradicionais e tirando centenas de fotos.
Ao cair da tarde, foram ao mirante, onde recolheram algumas pedras e fizeram esta bela foto da cidadezinha:
Latronico vista do alto. No centro da foto, pode-se ver o local de hospedagem (casa amarela, com telhado cinza)
Durante aquele passeio, conversa aqui, pergunta acolá, conseguiram identificar 5 diferentes famílias de sobrenome Gesualdi, e dentre eles duas parentas: Dra. Fellicetta Gesualdi, médica, e Emma Gesualdi, lojista.
Loja de Emma Gesualdi
Placa da loja de Emma Gesualdi
Placa existente no consultório de Felicetta Gesualdi
Outros Gesualdi não parentes também foram localizados.
Na visita ao pequeno cemitério, por exemplo, havia 22 túmulos de pessoas com sobrenome Gesualdi — o que faz pensar ser Latronico a "terra dos Gesualdi"...
Passaram por uma oficina mecânica pertencente a Egidio Gesualdi, mas o proprietário não se encontrava. Um jovem atendente, de sobrenome Gesualdi, que não era parente do citado Egídio, estava no local, e, parecendo ocupado, pouca atenção lhes deu.
Mas é natural que eventual parentesco não seja reconhecido pelas distantes gerações futuras, separadas por dezenas de anos e milhares de quilômetros...
Após breve descanso e um banho, retornaram à La taberna dei gesuiti, lugar onde os esperavam uma gentil acolhida, uma boa refeição e um excelente vinho. Os pratos foram pizza al baccio (de atum) e capricciosa (de queijo, presunto, cogumelo). Que pizza! Que molho! Ao fim, levaram um vino rosso para desgutarem com os filhos no Brasil e guardar a garrafa como lembrança.
Fora um dia intenso e pleno de emoções, e ao dormir veio-lhes suave lembrança dos antepassados e, para André, a certeza de que estava realizando o sonho do pai e — por que não dizer? — do avô ou de algum tio querido.
Ao acordar, Vincenzo serviu-lhes um café simples, mas preparado com carinho (afinal, a mãe era uma Gesualdi!), e também, claro, com o interesse profissional de bem servir o cliente.
Em busca de antigos documentos
Era hora de voltar à prefeitura, em busca de antigos documentos da genealogia dos Gesualdi que, há mais de um século, haviam emigrado para Águas Virtuosas.
O arquivo da comune é bem organizado, sendo catalogado a partir de 1870, data essa posterior ao nascimento dos bisavós. Havia arquivos mais antigos, mas entre esses faltava exatamente a pasta de 1851 — ano em que nascera o bisavô Egydio Gesualdi.
No entanto, a busca não fora de toda infrutífera, pois conseguiram uma cópia do registro de nascimento do tio-avô Vincenzo, nascido em 1883.
Certidão de nascimento de Vicenzo Gesualdi. Obtida em Latronico. 2012
Foram ainda à casa paroquial, onde os recebeu o pároco Dom Gioavanni, que aparentemente os esperava, mas nem lá foi possível encontrar as antigas informações de que necessitavam. Afinal, os bisavós italianos haviam deixado Latronico há mais de 120 anos!
Santo Egídio, Abade — protetor de Latronico
Fizeram duas tentativas de conhecer a antiga igreja matriz dedicada a Santo Egídio, Abade, o protetor de Latronico, e em ambas ela se encontrava fechada.
Santo Egídio, Abade. Protetor de Latronico.
Visitaram assim a atual matriz, onde fizeram este registro fotográfico:
Interior da igreja de Santo Egídio. Latronico. 2012
O casal acabou conhecendo alguém da família Ponzo, que tem parentes no Rio de Janeiro. Há também uma família Ponzo em Cambuquira, MG, terra dos Martins, de Dona Leda, mãe de André.
Com o citado Ponzo, André conseguiu cópias de antigas fotos de Latronico, como esta:
Antiga foto de Latronico (meados dos anos 1800)
Poderia ser a emoção de rever a terra dos bisavós, mas André de fato achou Latronico uma pequena bela cidade.
Com razão, pois trata-se de uma cidade no topo da montanha, tão comum na Itália, composta de duas partes: a antiga com suas ruas muito estreitas, labirintos para pedestres, casas antigas, algumas de pedras com varandas, como na maioria das cidades italianas; e uma área mais nova, mas ainda pequena.
Cidade muito limpa, com nenhum carro mais moderno, e muitos triciclos motorizados, conduzidos por senhores, alguns deles distribuindo verduras pela manhã.
No comércio, nos poucos lugares em que tiveram tempo de procurar, não encontraram antiguidades ou artesanatos, ou, ainda, livros sobre a história da cidade, que existem, mas as edições estavam esgotadas.
A maioria da população é composta por pessoas mais velhas, poucos jovens andavam pelas ruas. À noite, há um ponto de encontro para a juventude na praça principal (Piazza Umberto I) — um local chamado Rendez-vous.
O Rendez-vous, ponto de encontro dos jovens em Latronico (2012)
Hora de retornar! Chegara ao fim a rápida visita de 24 horas à terra dos bisavós...
Pagaram 60 euros pelo apartamento (café da manhã, aquecimento central regulado a 20 graus e muito conforto), e Delcimarotto, o proprietário, ajudou-os com as malas e foi com eles ainda ao mirante e às termas, para novas fotos e um olhar de despedida.
E partiram... Talvez para nunca mais voltar!
Na viagem de volta, no aeroporto de Roma, André dirige-se à Alfândega, para tratar do reembolso de alguns euros. Lá foi recebido por um funcionário, já idoso (Genaro?), que ao ver o sobrenome Gesualdi no passaporte pergunta-lhe se é italiano.
— Sim, responde André, de família de Latronico.
E o senhor diz:
— Ah, da região de Lagonegro e Maratea!
Após isso, sai André a procura da caixa vermelha do correio, onde deveria postar documentos do reembolso, mas não a encontra, e volta então ao sr. Genaro, que, ao vê-lo, comenta com um colega:
— Ele é um italiano, Gesualdi.
E o senhor Genaro, gentilmente, se dispõe a postar a encomenda e acompanha o casal à sala de embarque.
No fim da aventura na Itália, tratado como um italiano!
Natural de Lambari, MG (29-04-1955), casado com Deborah Maura Gorgulho Valério Gesualdi, pai de dois filhos, ANDRÉ LUIZ MARTINS GESUALDI é filho de Ismael Gesualdi e Leda Maria Martins Gesualdi, descendendo, pelo lado materno, de João Paulino Martins e Joana de Oliveira Martins, e, pelo lado paterno, de Annunciato Gesualdi e Thereza de Biaso.
Pelo lado paterno, é bisneto de Egydio Di Vicenzo Gesualdi e Felicia Di Nunziato Mileo, casal de italianos que veio para o Brasil em 1893, originários de Latronico (Itália), e se instalaram em Águas Virtuosas de Lambari.
Formado em Engenharia Elétrica pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá - EFEI e Gestão Avançada pelo INSEAD, na França, André tem vasta experiência empresarial (Schlumberger/Balteau, Alstom e Areva).
Residindo em Itajubá desde 1971, André Gesualdi é empresário e Diretor Administrativo/Financeiro da Balteau Produtos Elétricos Ltda. e Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Matérias Elétricos de Itajubá - SIMMMEI.
Fonte: https://www7.fiemg.com.br/
Reprodução. Fonte: https://www7.fiemg.com.br/