Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e
trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na
língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do
Sul de Minas Gerais.
(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)
Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,
é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.
(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)
Fraseologia Brasileira
"Não foi grande a minha tarefa. Mestre João Ribeiro quase nada deixou para os que viessem após ele".
(Palavras reverentes sobre o livro FRASES FEITAS, de JOÃO RIBEIRO, anotadas por ANTENOR NASCENES no prefácio do seu precioso TESOURO DA FRASEOLOGIA BRASILEIRA.)
Neste número 6 da Série VOCABULÁRIO DE AGUINHAS, prestamos homenagem a dois dos mais importantes mestres da língua: os escritores, gramáticos e dicionaristas — João Ribeiro e Antenor Nascentes.
Duas obras desses autores são inspiradoras deste modesto VOCABULÁRIO DE AGUINHAS, quais sejam:
Frases Feitas está disponível no site da Academia Brasileira de Letras, neste link: aqui
Abaixo vai o número 6 da série VOCABULÁRIO DE AGUINHAS.
Confira.
Faniquito: Ataque de nervos sem importância nem gravidade; xilique.
Farejar: Procurar, esquadrinhar, descobrir.
Farronca: Entidade fantástica que amedronta as crianças. Bicho-papão, cuca.
Fazer vista grossa: Omitir-se; fazer que não viu.
Feijão-pagão: Feijão cozido, mas não socado, que se usa para preparar o feijão tropeiro.
Ficar de butuca: Ficar de olho, vigiar.
Fiote-de-cruz-credo: Pessoa feia, desajeitada.
Féria: Apuração da venda do dia no estabelecimento comercial.
Festão: Ramalhete de flores e folhagens.
Fifó: Fofoqueira de língua venenosa, intrigante.
Finco: Jogo de finco, ou de faquinha, em que se vai lançando, sem errar, os fincos (ou faquinhas) e traçando linhas no chão.
Forreca: Caminhonete velha e estragada.
Fuá: Barulho; confusão.
Fubica: Automóvel antigo e muito estragado.
Fulustreco: Designação de alguém que não se quer nomear, ou cujo nome é ignorado; fulano.
Fraga: Rocha escarpada; penedo, penhasco. Terreno escabroso.
(*) Fontes de consultas principais: Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda - Aurélio Eletrônico, Século XXI - Dicionário de Vocábulos Brasileiros, Beaurepaire-Roban - O Dialeto Caipira, Amadeu Amaral -Dicionário Sertanejo, Cornélio Pires - Dicionário da Terra e da Gente de Minas, Waldemar de Almeida Barbosa - Novo Dicionário da Gíria Brasileira, Manuel Viotti.
(**) Este Vocabulário de Aguinhas faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.
Veja os demais números desta Série:
Letra "A" - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36347
Letra "B" - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37267
Letra "C" - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37892
Letra "D" - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=41044
Letra "E" - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=42798
Neste ano de 2015, serão comemorados os 100 anos das Festas de Congadas de Lambari (MG), conforme anunciado na página da internet da Prefeitura Municipal de Lambari (aqui).
Assim, neste post vamos recordar um pouco das Congadas de antigamente de nossa terra. Vamos lá!
Uma música famosa feita por Fernando Dias para nossas Congadas
Inicialmente, é bom relembrar uma música de congada, feita pelo compositor lambariense Fernando Dias (autor de Poema, bolero de sucesso internacional.) (Veja aqui)
Trata-se de uma música que todos conhecemos pelo nome de São Benedito, e que é tocada em nossas festas desde os anos 1960. A origem dessa música, conta João Ribeiro (João Vital), violonista lambariense que foi parceiro de Fernando Dias (aqui), se deu do seguinte modo:
No início dos anos 60, em Lambari, durante um ensaio de Congadas, no bairro Campinho, estavam Fernando Dias e João Ribeiro, com diversos amigos, conversando e cantando no Bar do Azarias. Dali a pouco — diz João Ribeiro — Fernando apanhou uma caixa de fósforos e começou a batucar, pediu a João que tomasse do violão e desse o tom de congada, e soltou o refrão que se tornaria famoso:
Oilê, Oilá, meu São Benedito mandou me chamar /
Vai o Rei, vai a Rainha, não demora eu vou pra lá...
Essa música, com o título de Princesa Izabel, foi gravada por Luizinho, Limeira e Zezinha, nos anos 1960, e consta deste LP do trio:
Princesa Izabel foi também gravada por Sérgio Reis, como está neste vídeo no Youtube: (aqui)
Programa das Congadas, Lambari, 1977
Uma tradição de nossas Congadas é a visita que fazem à Igrejinha de São Benedito, no bairro Vila Nova, por ocasião da festa anual desse santo, em Lambari. Nesses dias, os termos costumam cantar este refrão:
São Benedito está triste na bandeira /Seus olhos correm água /
Que cheira a flor de laranjeira
Congadas na Festa de São Benedito, Vila Nova, em 1939
Congadas com a bandeira de São Benedito, na Igrejinha da Vila Nova
Levantamento do mastro na Igreja de São Benedito (Lambari, MG)
Zé Rosa e terno, em Jesuânia
Terno de Zé de Souza, em visita a Aparecida do Norte, anos 1960
Bandeira de São Benedito
Congadas - Terno do seu Zé Marques
Terno do seu Zé Marques
A partir da esquerda: Emérson, seu Zé Rosa e seu Zico
Com informações de João Ribeiro e José de Souza. Fotos: Museu Américo Werneck e José de Souza.
Ilustração: Seu Zé de Souza e o violão, instrumento que aprendeu a tocar sozinho (Vídeo)
A propósito do 13 de Maio que se aproxima, vamos recordar um pouco da história do terno de Congadas de Seu José de Souza, de 92 anos, ele que é o veterano de nossas festas populares de Congadas e Dia de Reis.
Vamos lá!
Seu José de Souza começou cedo nas Congadas, na época dos ternos de Joaquim Baiano e Zé Sabino. Tocava caixinha, cavaquinho, e ele mesmo fazia instrumentos de percussão com couro de cabrito para os membros da congada. Depois, aprendeu violão e violino, tudo de ouvido.
Três ternos tradicionais de nossa cidade
Mais tarde, montou seu terno, que ao lado dos ternos de Zé Vicente e Zé Marques abrilhantaram nossas festas populares por décadas.
Seu Zico e Zé Marques, expressivas figuras de nossas Congadas
Zé de Souza conta que para custear o desfile das Congadas corria uma lista de ajuda pela cidade e muita gente colaborava — pessoas comuns, autoridades, comerciantes, e algumas dessas faziam doação em gêneros: arroz em casca, feijão, açúcar. Por essa época a Prefeitura não ajudava com recursos financeiros.
Ele trabalhava de pedreiro, garçon e ajudante de cozinha no Hotel Ideal, e todo ano, com ajuda da mulher D. Elisa, cozinhava para os membros das congadas. Eram paneladas e paneladas de arroz, feijão, angu, carne, e bateladas de doces — arroz doce, doce de cidra, doce de abóbora — e um licorzinho de figo especial.
Aos 92 anos, Zé de Souza não participa mais das Congadas, mas sempre tem à mão o violão e o violino
Ensaio do Terno de Zé de Souza. Na foto 1, Carlos, filho de Zé de Souza
O terno de Zé de Souza preparando-se para desfilar
Zé de Souza comandando o ensaio de seu terno
Seu José de Souza, que comandou um dos mais tradicionais ternos de Congadas da cidade de Lambari (MG), aos 92 anos, tocando seu violão e soletrando letras antigas, ou afinando o velho violino, saudoso do ofício de tantos anos.
Agradecemos a José de Souza e seus familiares pela gentileza das fotos e da entrevista.
Seu José de Souza faleceu na madrugada do dia 29 de outubro de 2019.
Ilustração: Maria Werneck, primogênita de Américo Werneck, e o burro Zacarias
Já publicamos aqui no GUIMAGUINHAS diversos posts sobre Américo Werneck, como se pode ver nesta Série (aqui).
E, como se sabe, coube a Werneck — o primeiro prefeito da cidade — a construção das obras fundadoras de Águas Virtuosas — cassino, lago, cascata do lago, farol, parque novo. (aqui)
E deve-se também a ele a demanda Werneck X Estado de Minas, que se deu em face da rescisão do contrato de arrendamento da estância, efetuado em 1912 entre ele e o Governo de Minas (aqui). Por causa desse litígio, Werneck se afastou de Lambari e diversos projetos que idealizara para a estância não se concretizaram.
Pois bem, à vista desses fatos históricos, neste post vamos registrar algumas críticas feitas a Werneck, e bem assim uma autocrítica que ele fez em razão do insucesso de seus planos para Águas Virtuosas. Vejamos.
Críticas
As supracitadas obras realizadas por Werneck em Águas Virtuosas tratava-se de um ambicioso plano de tornar a estância um centro balneário de reputação internacional, nos moldes de uma Vichy, ou Carlsbad, ou Aix-les-Bains — como disse Werneck na discurso de inaguração das obras (aqui) — sonho que, nem de longe, se concretizou.
Mas as obras grandiosas, e seu elevado custo, realizadas em poucos meses, entre 1909 e 1911, com equipamentos, matérias-primas e artigos de decoração importados da Europa e da Ásia, por um formidável contingente de artistas, mestres de obras, pedreiros, operários, geraram diversas criticas. Como a que vai abaixo, extraída do livro Memória dos Setenta, de Antônio Fonseca Pimentel, livro este que já comentamos em outra oportunidade (aqui).
Diz Fonseca Pimentel que a nomeação de seu pai — Antônio Pimentel Júnior [1] — para prefeito de Lambari se deu em razão
da decisão de Bueno Brandão de substituir, na prefeitura [de Águas Virtuosas]... a Américo Werneck, que, dentre numerosas outras obras, concluíra a construção do cassino de Lambari e o inaugurara em 1911.
Bueno Brandão, como chefe do executivo estadual, estivera presente às festas de inauguração, verdadeiramente de mil-e-uma noites, segundo a tradição conservada. [2] E em sua conhecida simplicidade e austeridade, regressara a Belo Horizonte, segundo os íntimos, escandalizado com tamanha pompa e, de acordo com uma anedota, achando que, naquele andar, Américo Werneck quebraria não só Lambari, mas o próprio Estado de Minas, o que era evidentemente um exagero.
Meu pai era, assim, nomeado com a recomendação expressa de não gastar, ou gastar o menos possível, para compensar os gastos da administração anterior.
Era uma tarefa antipática e ingrata perante uma comunidade que esperava que Américo Werneck transformasse Lambari na Monte Carlo não só de Minas, mas do Brasil, o que não ocorreu nem sequer com o cassino de Quitandinha, construído trinta anos depois em Petrópolis, a algumas dezenas de quilômetros apenas do Rio de Janeiro.
(Obra citada, págs. 57/58)
E o cassino de Werneck, inacabado, por tantos anos fechado ou subutilizado, tornou-se alvo de cáusticos comentários, tornando-se um chiste para obras faraônicas, ou inacabadas, como este que se fazia em relação à construção de Brasília:
... obra do agoiro: "Não vai adiante. Outro presidente que vier fica por aqui mesmo. Gastar tanto dinheiro para nada! Essas obras não serão terminadas. E as que forem ficarão para os morcegos, como as do Cassino de Lambari"...
Osvaldo Orico. Brasil, capital Brasilia., pág.119
Uma suposta autocrítica
Na Fazenda Pinheiros, em Nova Baden, onde Werneck residiu no final dos anos 1800/início dos anos 1900, atualmente funciona a sede do Parque Estadual de Nova Baden.
Antiga foto da Fazenda Pinheiros, em Nova Baden, Lambari (MG)
E lá se encontra a foto abaixo, que retrata Maria, primogênita de Werneck, em companhia de um burro. Sobre essa alimária, "batizada por Zacarias", e depois "crismada por Werneck", teria dito o artífice de Águas Virtuosas:
Só existe um jerico mais obtuso que Zacarias: Eu, Werneck, que quis fazer de Águas Virtuosas uma grande fonte de renda para Minas Gerais.
Maria Werneck e Zacarias
Dizeres ao pé da foto acima
Ilustração: Pavilhão das Fontes - Lambari (MG), início dos anos 1900.
Conforme já narramos na Série Parque das Águas, foi o engenheiro Benjamin Jacob o responsável pela captação de nossas águas minerais (aqui).
Benjamin Jacob, no primeiro plano, examinando a captação das águas de Lambari
A captação das águas se deu em 1905, mas já antes dessa data Benjamin Jacob exercia o cargo de Engenheiro Fiscal das Aguas Mineraes do Estado, e foi nessa qualidade que produziu, em 1904, um relatório sobre o Parque das Águas de Águas Virtuosas, documento esse que foi apresentado pelo Secretario de Estado dos Negócios das Finanças, Dr. Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, ao sr. Dr. Antônio Francisco de Salles, então Governador de Minas Gerais.
Tal relatório, que vai abaixo reproduzido, conservando a ortografia daquela época, fornece uma descrição da precária situação do parque das águas e de nossas fontes, no início dos anos 1900.
Acima pode-se ver o Parque das Águas e parte das edificações descritas no relatório abaixo, tais como: o antigo cassino (existente no interior do parque), o balneário, as fontes e o gradil de ferro que circundava o parque.
SECÇÃO DE LAMBARY
Esta estancia está situada na Villa de Aguas Virtuosas, distante 6 kilometros da povoação de Lambary. A altitude acima do nivel do mar é de 900 metros.
As fontes mineraes são em numero de quatro, sendo 2 gazosas e 2 férreo gazosas: uma destas ultimas, a fonte Maria ou Ferreira Netto, é considerada sulfurosa, porém nada justifica essa crença do povo.
Turistas, no Parque das Águas, em 1905
A fonte mais importante é a chamada do Parque: pertence ao grupo «las gazosas" e tem uma vasão do 48.000 litros em 24 horas.
Esta fonte cujos primeiros trabalhos de beneficiamento foram executados pelo engenheiro Gerber [1], vae ser agora captada em maio próximo por ordem do governo, dando assim cumprimento a clausula 6a. do contracto de 5 de outubro de 1900.
A fonte do Parque é abrigada por um vasto chalet de madeira com duas paredes de venezianas, forrados de mozaico o solo e as paredes até uma certa altura; a bocca do poço que tem 0,80 do diâmetro é também forrada de mozaico. Ha um empregado encarregado de apanhar agua para os aquáticos: para esse fim ele serve-se de um copo de prata suspenso a uma corrente do mesmo metal, de modo que as mãos não ficam em contacto com agua.
Ao lado dessa fonte fora do chalet que a protege, existe uma espécie de chafariz ao qual a agua da fonte do Parque devia chegar por meio de uma bomba aspirante. Segundo fui informado, semelhante combinação nunca deu resultado, provavelmente devido a grande quantidade de gaz carbónico que é também aspirada pela bomba.
Chalet que abrigava as fontes de águas minerais
A outra fonte gazosa acha-se em frente à precedente, abrigada por uma casinha de tijolo coberta de telhas chamada casa da bomba.
Ahi está installada uma bomba que leva a agua para o estabelecimento balneário: esta fonte não está captada e a sua agua é exclusivamente utilisada para usos externos; no logar existe um poço de 2,35 de altura ocupando a agua 73 centimetros no fundo.
As duas fontes ferreo-gazosas são conhecidas pelos nomes de Paulina e Maria ou Ferreira Netto; a primeira contém uma agua límpida, transparente, incolor, inodora, de sabor picante e ligeiramente estiptico; a agua da segunda é também limpida, transparente, incolor de sabor picante e levemente hepático de cheiro muito pouco pronunciado de acido sulphydrico; com o tempo deixa depositar flocos avermelhados de oxydo de ferro.
Cada uma destas fontes está abrigada per um elegante chalet octogonal com columnas de ferro fundido. Estão ambas mal captadas e situadas num pequeno jardim de 1.260 metros quadrados de superfície, fronteiro ao parque, cercado de gradil de ferro sobre sapata de alvenaria nos dous lados que dão para as ruas e de muro de tijolo, do 1, 50 m de altura nos outros lados: parte de um desses muros está ameaçando ruina. Este jardim está bem tratado, contendo flores em profusão, e pertence, ao Estado, em virtude da clausula 2ª. do contracto em vigor.
As fontes números 5 e 6, conhecidas por Fontes Paulina e Maria
O parque propriamente dito, de dimensões muito exiguas, apenas 5.500 metros quadrados, é cercado por três lados de ruas publicas e casas particulares; nelle estão as duas fontes gazosas, o estabelecimento hydro-therapico, e o cassino.
O seu cerco compõe se de gradil de ferro sobre sapata de alvenaria na maior parte do perimetro e de gradil de madeira sobre sapata, de alvenaria na parte restante. Existem cinco portões de entrada, 3 principaes e 2 de menor importância ; os portões principaes, de 2 metros de largura, estão collocados um ao lado do chalet da fonte do Parque, entre elle a casa da bomba: o segundo em frente ao primeiro e ao lado do cassino; o terceiro, em frente ao estabelecimento balneário.
Os dous outros portões abrem-se, um em frente ao chafariz da fonte do Parque, o outro em frente ao engarrafamento.
Vista do muro do parque, cercado de gradil de ferro, início dos anos 1900
O parque do Lambary foi convenientemente arborizado e ajardinado; mas hoje está muito mal conservado: as suas ruas muito estreitas, estão muito baixas, em nivel muito inferior ao das ruas que circumdam o parque, de modo que quando chove ficam alagadas, impedindo qualquer passeio dos aquáticos.
É necessário fazer -se um grande aterro no parque, numa altura de 0,50 m na media e ajardinal-o novamente.
No parque ha um caramanchão descoberto produzindo má impressão: seria melhor que fosse desmanchado.
A faixa do parque que liga os dous portões fronteiros e que é cimentada está muito gasta e cheia de buracos.
O estabelecimento hidroterápico
O estabelecimento hydro-therapico é de construcção antiga; as suas paredes são de enchimento: mede 30 m de frente por 12 do fundo e tem na frente uma varanda cimentada de 3,90 de largura com grade de madeira: é simétrico em relação à sala de duchas que está no centro do edifício: consta de dous pavimentos: no inferior estão a sala hydrotherapica, salas de espera, gabinete do medico, escriptorio da gerência, vestiarios, banheiras e rouparias; no pavimento superior estão a sala de electretherapia, o observatório meteorológico e uma vasta sala que não é aproveitada: acima estão as duas caixas de agua gazosa, quente e fria para as duchas; essas caixas têm respectivamente uma capacidade de 3.500 e 5.800 litros.
Estabelecimento hidroterápico. Anos 1890. Reprodução. Fonte: ALMEIDA, 1896
A agua commum é elevada por uma bomba a vapor, sendo o motor aproveitado para accionar a machina eléctrica: por esse motivo é essa a unica machina electricca que funciona regularmente de todas as estancias de aguas do Estado, e a única que tem dado alguma renda; essa agua commum é canalizada e captada a cerca de 150 metros do distancia, em terrenos do Estado.
As banheiras são todas de 1ª. classe, feitas de ferro esmaltado; a sala de duchas é muito acanhada e os apparelhos não são completos: é commum a homens e senhoras. A sala de espera do lado dos homens está ocupada com a gerência.
O estado de conservação desse edificio é a peor possivel; muitas das paredes apresentam enormes rachas de lado a lado, indicando abatimento: o soalho está todo desnivellado; ha cerca de cinco anos o pavimento superior precisou ser sustentado por fortes columnas de madeira de lei: as paredes do banheiro n. 5 estão rachadas e completamente fora do prumo. O soalho e as paredes da sala de duchas estão muito estragados: foi preciso ultimamente fazer a substituição de parte dessa parede, que tinha ruido. Os encanamentos condutores de agua para o estabelecimento estavam muito estragados, mas foram substituídos por novos em fins do mez de fevereiro ultimo.
Como ainda não me chegou às mãos o relatório desta secção, não posso indicar qual foi a renda do estabelecimento hydrotherapico durante o anno findo; devo, entretanto, declarar que examinando a escripturação fiquei agradavelmente impressionado com a renda da secção de electrotherapia, que foi de cerca de 1:000$000.
O edifício do engarrafamento que pertence ao Estado em virtude da clausula 2ª. já citada, tem 28 metros de frente por 20,30 m de fundo; repousa sobre fundações de alvenaria e as suas paredes são de taboas collocadas verticalmente; é dividido em três partes sendo duas antigas e a terceira do lado ribeirão, recente; aquellas duas partes são assoalhadas, esta não o é.
É coberto do zinco, o telhado é dividido em três aguas, sendo a do centro mais alta do que as lateraes. Ligando a fonte do parque ao edifício do engarrafamento, existe uma linha de bondes de 90 de bitola e 100 metros de extensão.
Vista do Parque das Águas. Primeira década de 1900
A lavagem das garrafas é feita no próprio edifício do engarrafamento em grandes tinas de madeira, sendo a agua para esse fim fornecida por uma caixa metallica circular, montada na parte central do edifício.
De accordo com a clausula 21ª. do contracto, a agua é esportada como sáe da fonte.
Durante o anno passado a exportação foi nulla.
Existe nesta estancia de aguas um cassino, que é o antigo estabelecimento balneareo construído pelo engenheiro Gerber. Está collocado dentro do parque, atraz do actual estabelecimento hydrotherapico.
Actualmente está o cassino arrendado ao operoso sr. Affonso de Vilhena [2], que não tem poupado esforços para transformal-o em ponto preferido de reunião dos aquáticos. Este edifício está bem conservado, contrastando o seu aspecto com o do seu vizinho; tem sala de leitura, de musica, de bilhar e outros jogos, latrinas e buffet. Seria para desejar que todas as nossas estancias do aguas tivessem o seu cassino.
As observações meteorológicas foram muito incompletas, e os motivos são os mesmos apontados na secção de Cambuquira: alguns instrumentos desarranjaram se e foram remettidos para o Rio, para serem concertados e de lá não foram ainda devolvidos.
É medico e gerente da empresa nesta secção o sr. Dr. João Braulio Moinhos de Vilhena [3], o qual não tem cessado, conforme tive ensejo de verificar, de reclamar da directoria da empresa os meios necessarios para introduzir na estação de aguas sob sua administração os melhoramentos de que precisa.
Caxambu, 15 de Março de 1905.
Benjamin Jacob.— Engenheiro Fiscal das Aguas Mineraes.
Notas
[1] Henrique Gerber: foi o engenheiro que na década de 1860, mandado pelo Governo da Província, realizou obras de saneamento e urbanização para melhor aproveitamento de nossas águas minerais. Construiu também o Estabelecimento Balneário, que, inaugurado em 1872, foi demolido em 1922, quando do aumento do parque.
[2] Afonso de Vilhena Paiva: nascido em Campanha (MG) estabeleceu-se em Águas Virtuosas em 1890 como comerciante e desenvolveu aqui intensa atividade política, ao lado de João Bráulio Júnior, seu cunhado. Elegeu-se vereador por diversas legislaturas.
[3] João Bráulio de Moinhos Vilhena Júnior: médico e político de grande prestígio no Sul de Minas, nascido em Campanha (MG), em 23 de julho de 1.860, e que se estabeleceu em Lambari em 1890. Foi eleito deputado por diversas legislaturas. No Governo João Pinheiro ocupou o cargo de Secretário de Finanças de Minas Gerais. Faleceu em um acidente automobilistico em Paris, em 1908.
Fonte: Relatorio apresentado ao Exmº. Sr. Dr. Francisco Antonio de Salles, Presidente do Estado de Minas Geraes, pelo Secretario de Estado dos Negocios das Finanças, Dr. Antonio Carlos Ribeiro de Andrada.
Referências: ALMEIDA, Dr. Pires de. Lambary e Cambuquira - Hydro-estações ao Sul do Estado de Minas Gerais - Brazil. Typ. Leuzinger, Rio de Janeiro, 1896
Sobre o Parque das Águas, veja também: (aqui)