Ilustração: Recorte da Casa dos artistas, na Volta do Lago, em Lambari, MG
Apresentação
Conforme dissemos no número 1 desta série, dedicado ao RETIRO DO LAGO de Gustavo Barroso aqui, nosso objetivo é recordar antigas vivendas e casas de veraneio na Volta do Lago, um dos recantos mais belos de nossa cidade. Assim, também já falamos da vivenda OLHO D'ÁGUA, que pertenceu à museóloga e professora Nair de Moraes Carvalho, colega de trabalho de Gustavo Barroso no Museu Histórico Nacional (MHN) por longos anos (aqui).
Pois bem, hoje vamos falar da vivenda intitulada CASA DOS ARTISTAS.
Vamos lá.
Segundo conta Bibianinho Carvalho1, um dos últimos memorialistas de Lambari, a vivenda hoje conhecida por CASA DOS ARTISTAS foi construída nos anos 1940 por um português de nome Boaventura, um funcionário da embaixada de Portugal, radicado no Rio de Janeiro, que frequentava a estância de Águas Virtuosas de Lambary. Boaventura acertara um grande prêmio de loteria e resolveu construir aquela bela casa na Volta do Lago.
Anos mais tarde, a tal vivenda foi adquirida pelo casal Paulo Gonçalves e Teresinha Moreira — atores e dubladores — que por várias temporadas frequentaram Lambari. E em suas vindas, traziam muitos convidados, artistas como eles, advindo daí o nome: CASA DOS ARTISTAS.
(Na casa de Lambari) ... eu vou pescar, passear de barco, fazer tudo que há muito tenho vontade e não consigo curtir, por absoluta falta de tempo, devido a compromissos profissionais
PAULO GONÇALVES
Atores e dubladores, Paulo Gonçalves e Teresinha passaram pelo rádio, cinema, teatro e televisão com grande sucesso, com tipos marcantes e ainda hoje reconhecidos do público.
De fato, novelas como O bofe, Cavalo de aço e Bandeira 2, ainda estão na memória afetiva de quem passou pelos anos 1970-80; em todas elas Paulo Gonçalves atuou. Como dublador, sua voz está em personagens como Zorro e Homem de Ferro, entre muitos outros.
Teresinha também passou pelas novelas (ela atuou em O Cafona, por exemplo) e por programas humorísticos (Faça amor não faça a guerra). Como dubladora fez a inesquecível Olívia Palito, do desenho Popeye.
Revista Amiga, n. 142, de 06/02/1973 - bn.digital.gov.br (Reprodução)
Fonte: Casa da dublagem
No site Casa da Dublagem (aqui), que disponibiliza uma memória riquíssima dessa arte no Brasil, encontramos os seguintes registros sobre Paulo Gonçalves e Teresinha Moreira, e bem assim áudios por eles produzidos. Confira:
Youtube - Desenho Popeye e Olivia Palito (esta dublada por Teresinha Moreira)
No início dos anos 1990, defronte a casa foi construída uma pracinha — a Praça dos Artistas — que se tornou um agradável ponto turístico em face da casa famosa, da vista do Lago Guanabara e do conhecido bougainville*, tido como o maior do mundo na espécie.
Fonte: Joseane Astério - reprodução
Vista atual da Casa dos Artistas
Em 2016, a casa começou a ser reformada - Reprodução - Google Maps
Na página do Facebook do site GUIMAGUINHAS (https://www.facebook.com/historiasdeaguinhas/), foi grande a repercussão deste post, com muitos comentários e compartilhamentos, inclusive novas informações sobre a história da CASA DOS ARTISTAS.
Confira:
Ilustração: Capa do livro Cinza do tempo, de Gustavo Barroso, com contos versando sobre histórias e pessoas de Águas Virtuosas de Lambari
Como já dissemos aqui, aqui, aqui e aqui, o jornalista, escritor e ensaísta Gustavo Barroso [Fortaleza, CE, 29/12/1888. Rio de Janeiro, RJ, 3/12/1959] foi diretor do Museu Histórico Nacional, por mais de 30 anos e membro da Academia Brasileira de Letras.
Barroso era apaixonado por Águas Virtuosas de Lambary, e aqui construiu o Retiro do Lago, a sua vivenda postada na beira do Lago Guanabara, que frequentou por anos e anos. Em razão disso, trazia amigos para conhecerem a estância e fez muitos outros em Lambari, e sobre esse período escreveu diversos textos, especialmente crônicas e contos.
Pois bem, alguns desses contos foram reunidos no livro Cinza do tempo, que comentamos a seguir.
Confira.
Dos 29 contos reunidos em Cinza do tempo, de 1952, treze deles fazem referências a Águas Virtuosas: pessoas, lugares, histórias.
De fato, lá estão menções ao Mericão (alugador de Cavalos), a Chico Peão (Francisco Costa Prado), às crianças voltando da escola, aos caboclos a cavalo, às tropas de burros vindo da Capelinha do Imbirizal, de Jesuânia, de Olímpio Noronha, de Silvestre Ferraz; ao Lago Guanabara, à Volta da Mata, à estrada para o Pinhão Roxo e Vila dos Coqueiros (atual Heliodora), à antiga fábrica de garrafas, às paineiras, fronteiras ao seu Retiro do Lago, aos caniços, patos selvagens e jaçanãs no entorno do lago.
Índice de Cinza do tempo, de Gustavo Barroso
A maioria dos contos acima fazem referências a pessoas, lugares e histórias de Águas Virtuosas de Lambari
Reprodução. Revista O Cruzeiro
A equitação era o esporte preferido de Gustavo Barroso, e seus cavalos —entre eles os puros-sangues Honey e Juriti — eram cuidados por Chico Peão, numa cavalariça existente ao lado da propriedade de Barroso, na Volta do Lago.
Chico Peão e Barroso eram amigos, cavalgavam juntos e contavam-se muitas histórias. Entre elas, coletadas no livro acima, está a que foi narrada em O burro preto.
Confira:
O Burro Preto, extraído de Cinza do tempo, de Gustavo Barroso (Editora A Noite, RJ, 1952)
Seu Chico Peão, personagem do conto O burro preto
Ilustração: Escudos do Águas Virtuosas e do América, de Baependi, ambos inspirados no América do Rio de Janeiro.
- Aspirante e Mirim do Águas Virtuosas
Em 1975, o Águas Virtuosas Futebol Clube disputou o Campeonato da Liga de Caxambu e acabou o torneio em 3o. lugar.
Neste post, vamos resgatar uma brilhante vitória do Águas Virtuosas sobre o América F. C., em Baependi, ocorrida em 13 de julho de 1975, que classificou o time para as semifinais do campeonato de 1975.
Abaixo, a história do jogo.
Time do Águas Virtuosas - 1975: Edgar, Tucci, Tinz, Sérgio, Dimas e Celinho. Agachados: Zé Gabriel, Xepinha, Véio, Rubens Nélson e Décio.
Joãozinho, Xepinha e Gabriel. Xepinha foi o artilheiro do campeonato de 1975
Aspirantes e Mirim do Águas Virtuosas
A reportagem acima menciona o time de Aspirantes, dirigido por Delém, e o Mirim do Águas, esse dirigido pelo sr. Teixeira. Naquela época, o segundo quadro (ou quadro de aspirantes) disputava também o campeonato regional.
O destaque do aspirante, como se vê, era o Joãozinho do Crisóstomo, que vai ingressar no time titular ainda em 1975, fazendo, inclusive o gol da classificação do Águas Virtuosas para a final do campeonato. (veja aqui).
Eu não participei deste jogo, em razão de uma contusão no joelho, que me afastou por cerca de 40 dias. A rápida recuperação, eu a devo ao sr. Morais e suas duchas quentes, na hidroterapia ainda existente no Hotel Imperial.
Guima, no Águas Virtuosas de 1975
Nos anos 1970, muitos outros atletas do Águas foram tratados pelo sr. Morais neste estelecimento hidroterápico.
Ilustração: Recorte da inscrição OLHO D'ÁGUA, existente na vivenda do mesmo nome, que pertenceu à professora e museóloga Nair de Moraes Carvalho, situada na Volta do Lago, em Lambari, MG.
Conforme dissemos no número 1 desta série, dedicado ao RETIRO DO LAGO de Gustavo Barroso aqui, nosso objetivo é recordar antigas vivendas* e casas de veraneio na Volta do Lago, um dos recantos mais belos de nossa cidade.
Pois bem, hoje vamos falar da vivenda OLHO D'ÁGUA, que pertenceu à museóloga e professora Nair de Moraes Carvalho, colega de trabalho de Gustavo Barroso no Museu Histórico Nacional (MHN) por longos anos (aqui).
Vamos lá.
(*) Lugar onde se vive; CASA; HABITAÇÃO; MORADA; RESIDÊNCIA:
Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, (...) tinha o aspecto tristonho de residência eclesiástica... [Eça de Queiroz, Os maias]
Quem foi Nair de Moraes Carvalho
Nascida em Salvador, BA, a 27 de junho de 1914, Nair de Moraes Carvalho se formou no Museu Histórico Nacional (MHN), em 1937, no Curso de Museus, vindo a ocupar o cargo de 3º Oficial do MHN. Depois se tornou, inicialmente, professora e depois coordenadora desse mesmo curso, no período de 1944 a 1967, formando várias gerações de museólogos.
O diploma de Nair, no primeiro curso de museologia do Brasil
Lista de artigos publicados por Nair de Moraes nos Anais do MHN
Ao centro, Gustavo Barroso e Nair de Morais Carvalho, em visita à sede da revista Epopéia, no Rio de Janeiro.
Em 1935, Nair morava no Rio de Janeiro, na casa de seu irmão Bertino, e por essa época, incentivada por ele, iniciou um curso de Biblioteconomia, mantido pela Biblioteca Nacional.
Depois, levada por uma amiga, assistiu a uma aula do Curso de Museus, no Museu Histórico Nacional, se encantou com a disciplina e mudou de curso, vindo a se formar em 1937.
Nair de Moraes trabalhou com Gustavo Barroso no Museu Histórico Nacional de 1937 — quando ingressou — até 1959 — ano em que Gustavo Barroso faleceu.
Muito dedicada a Barroso, foi responsável pela meticulosa elaboração de sua hemeroteca, que pode ser vista hoje no acervo virtual do MHN (aqui).
Fonte: Aline Montenegro Magalhães. In Tecendo memórias. Gustavo Barroso e as escritas de si
Referência ao artigo publicado por Nair de Moraes, quando do aniversário de 70 anos de Gustavo Barroso. Fonte: Ana Cristina Audebert Ramos de Oliveira /PUC/RJ
Vídeo: Nair de Moraes Carvalho: 100 anos de vida e trabalho
O vídeo Nair de Moraes Carvalho: 100 anos de Vida e Trabalho, produzido pelo Núcleo de Memória da Museologia no Brasil, narra a vida da brilhante professora e museóloga.
Ex libris de Nair de Moraes Carvalho
Esta casa pequenina Onde não há dor nem mágoa Cheia de rosa e bonina Tem o nome de Olho d'água |
Nesta fonte, sem perigo, Água fresca tomarás E se fores meu amigo Muito tempo ficarás. |
A vivenda Olho d´Água, que pertenceu a Nair de Moraes Carvalho
Extraído de crônica de Lourdite Cunha
Vista recente da vivenda Olho D'Água (Fonte: GoogleMaps)
A vivenda de Lígia de Paula Pinto
Defronte às vivendas de Gustavo Barroso (Retiro do Lago) e de Nair de Moraes (Olho D'Água), na grande curva do Lago Guanabara, situava-se a residência da escritora Lígia de Paula Pinto, atraída a Águas Virtuosas de Lambari por conta de sua amizade com Barroso e Nair de Moraes.
Na curva da Volta do Lago, entre a vegetação, vê-se a antiga vivenda de Lígia Paula Pinto
Os três amigos numa conferência de Gustavo Barroso, em 1957
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1957, Vol. 233
Ilustração: Recorte propaganda do Rotary Club de Lambari (Distrito 456) - Anos 1970 - Tipografia Castro
Neste post, vamos examinar aspectos dos pavilhões das fontes de nossas águas virtuosas, a começar dos anos 1865, até datas mais recentes.
Vamos lá.
Em 1834, os poços das duas nascentes de águas minerais não possuíam nenhuma proteção e se localizavam em um largo denominado Largo da Fonte.
Na segunda metade da década de 1860, o Largo da Fonte foi reformado e melhorado, e as duas nascentes foram reunidas em um único poço, abrigado em prédio ladrilhado, coberto de telhas e protegido por grades de ferro.
Em 1888, quando Garção Stockler era o concessionário das águas, a então chamada Praça dos Poços foi cercada com grades de ferros e o balneário foi reformado e posto em funcionamento. A partir daí passou o complexo passou a ser denominado de Parque das Águas (aqui)
Pavilhão protetor do poço da água (ano 1865) [2]
Cromo do pavilhão das fontes (início dos anos 1900)
Em 1906, após as obras de captação e separação das águas (veja aqui), o pavilhão das fontes recebeu a clássica cobertura de ferro que durou até os anos 1960, quando da reforma feita pela Hidrominas.
Postal dos anos 1900, com o novo pavilhão das fontes
Postal colorido - fontes - anos 1900
As fontes em 1906 - João Gomes d'Almeida
É de João Gomes d'Almeida/João Gomes de Almeida Filho, os principais fotógrafos de Águas Virtuosas de Lambary, de quem já falamos aqui, aqui e aqui, esta bela foto datada de 1906:
As fontes em 1906
As fontes em 1911 - Américo Werneck
Aspecto das fontes das águas minerais quando da inauguração das obras fundadoras de Aguas Virtuosas de Lambary, que contou com a presença de diversas autoridades da República, entre elas o presidente Hermes Fonseca (aqui, aqui e aqui),
Os planos de Werneck para o Pavilhão das Fontes
Conforme anotamos aqui, grande parte dos projetos de Américo Werneck para a estância de Águas Virtuosas de Lambary não foi realizada. Como este pavilhão das fontes:
Detalhe portal do Pavilhão das Fontes
Projeto novo Pavilhão das Fontes
As fontes em 1955 - Visita do Núncio Apostólico
Em junho de 1955, a cidade de Lambari sediou um grande evento da Igreja Particular da campanha: O Congresso Eucarístico Diocesano e dentro dele a solene Sagração da Nova Matriz, a terceira dedicada à Senhora da Saúde, Padroeira do Município, da Cidade e da Paróquia de Lambari.(aqui)
O Núncio Dom Rodrigo Lombardi e autoridades eclesiásticas bebem as águas virtuosas em 1955
Aspecto das fontes nos anos 1950
Propaganda das águas de Lambari dos anos 1950 (presume-se que essa criança seja o lambariense Edmar Bacha, economista e membro da ABL (veja aqui)
Conforme já contamos aqui, no início dos anos 1960, o Parque das Águas estava sob a direção da estatal Hidrominas, e então o pavilhão construído quando da captação das águas, corroído pelo tempo, e imprestável, veio a ser substituído e o parque totalmente reformado.
Na foto acima, dos anos 1960, ao fundo, podem ser vistos
que foram retirados quando das obras de reforma do Parque das Águas, nos anos 1980.
Fonte: [3]
Aspectos das fontes nos anos 1970
As fontes em 1971 (Reprodução Revista Petrobras)
Capa da revista A Cigarra de março de 1989
Revista A Cigarra - mar/89 - Reprodução
Atualmente, as fontes preservaram as bicas com formato de peixes e foram revestidas de aço inoxidável.
[1] Site Guimaguinhas - Série O PARQUE DAS ÁGUAS: aqui
[2] MILÉO, José Nicolau. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1a. edição, 1970
[3] CARROZZO, João. Lambari, outrora "Cidade de Águas Virtuosas da Campanha. Piracicaba, SP, 1985, 3a. edição