Ilustração: Meninos brincando, gravura de Cândido Portinari. Reprodução. Internet
Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e
trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na
língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do
Sul de Minas Gerais.
(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)
Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,
é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.
(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)
A Série Vocabulário de Aguinhas trata-se de uma coleção de palavras e expressões, típicas de Lambari (MG) e região Sul do Estado de Minas Gerais, utilizadas no livro Menino-Serelepe.
Entre essas palavras e expressões, há algumas que são caracteristicamente lambarienses, como já mostramos aqui.
E quem por aqui do Sul de Minas já não ouviu também estas expressões:
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Abaixo vai o número 12 da série VOCABULÁRIO DE AGUINHAS.
Confira.
Jacá: Espécie de cesto feito de taquara ou de bambu. Em sentido figurado: roupa ou sapato grandes.
Mais dali a pouco, com as crianças ficando pra trás e o Verinho com um conga jacá que lhe saía toda hora dos pés, tio Rubens falou: — Larga de ser teimoso, Verinho, e me dá essa muchila pesada, que ocê num pode cuma gata pro rabo e fica teimando, querendo carregá esse peso todo!
Reprodução. Internet (www.propagandashistoricas.com.br)
Jangar: Balançar; Jogar. Rodear. Andar jangando. Ficar com o sapato jangando no pé. O peru ficou jangando em torno.
E assim, logo juntamos em frente ao bar do João da Mariaça pra jogar bolinha de gude, às brinca, porque era tudo amigo. Pois foi só botar bolinha na barca, nem deu tempo de jogar a tacadeira no ponto, que o Babão chegou com sua colondria, corpos jangando, encostou-se ao barranco e começou a azucrinar nossa turma.
Jardineira rasga-roupa: Corresponde aos ônibus velhos, com bancos soltando molas, que costumavam rasgar as roupas dos usuários. [Gíria ocorrente em Aguinhas.]
E o fato triste se deu quando a monstrenga da jardineira rasga-roupa de Jesuânia atropelou a Futrica, uma perdigueira ainda filhote, que o tio João vinha ensinando a caçar, pois que o Biriba já trabalhara bastante e estava na hora de pendurar as chuteiras.
Reprodução. Internet. Ônibus antigo Chevrolet na garagem da Util em BH com Waguinho Guitar (https://www.youtube.com/watch?v=qRZm-tmXxMk)
Judeu: Espécie de virado feito com as sobras do almoço.
À noite, pra janta, na terrina: sopa, caldo, canjas; ou mexidão na panela; ou judeu com queijo na frigideira. Num domingo farto, no almoço, angulê; no lanche da tarde, bolo de laranja. (Xii, mãe, o bolo batumou!)
Juízo verde: Pouca experiência.
E aí, como em terra de mineiro qualquer bobo aparta o gado, uma professorinha substituta, sem sal e sem gordura, vinda recentemente de outro Estado e de juízo verde na lida com crianças, foi posta para concluir o ano letivo.
(**) Este Vocabulário de Aguinhas faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.
Veja os demais números desta Série: