Ilustração: O velho sobrado, na grande curva do Lago Guanabara, em Lambari, MG, e que foi demolido (Fonte: GoogleMaps)
Conforme está no número 1 desta série, nosso objetivo é recordar antigas vivendas e casas de veraneio na Volta do Lago, um dos recantos mais belos de nossa cidade.
O referido post número 1 foi dedicado ao RETIRO DO LAGO de Gustavo Barroso (aqui)
No número 2, falamos da vivenda OLHO D'ÁGUA, que pertenceu à museóloga e professora Nair de Moraes Carvalho (aqui)
E no número 3, da vivenda intitulada CASA DOS ARTISTAS (aqui).
E neste número 4, vamos focalizar o velho sobrado, que ficava próximo da grande curva do lago.
Vamos lá.
Muitos se recordam do sobrado abaixo, que se projetava imponente na Volta do Lago.
Por muitos anos sem moradores, o velho sobrado foi aos poucos se acabando, e em 2017 foi vendido e logo depois demolido.
O terreno vazio, após a demolição
Atualmente, o local tem o seguinte aspecto:
É o ritmo natural das coisas — as velhas edificações vão cedendo espaço a construções modernas. De qualquer sorte, é doído ver o prejuízo que isso traz aos pósteros e à memória urbanística das cidades...
Esta série sobre as antigas vivendas da Volta do Lago trata-se apenas um modesto registro para a memória das gerações futuras.
Veja o que comentamos sobre a Rua dos Italianos:
Gerações de lambarienses passam por esta rua sem conhecer sua importância na história de nossa cidade, surdas ao vozerio de suas pedras centenárias, indiferentes aos ecos de suas antigas casas...
Ilustração: Recorte da Casa dos artistas, na Volta do Lago, em Lambari, MG
Apresentação
Conforme dissemos no número 1 desta série, dedicado ao RETIRO DO LAGO de Gustavo Barroso aqui, nosso objetivo é recordar antigas vivendas e casas de veraneio na Volta do Lago, um dos recantos mais belos de nossa cidade. Assim, também já falamos da vivenda OLHO D'ÁGUA, que pertenceu à museóloga e professora Nair de Moraes Carvalho, colega de trabalho de Gustavo Barroso no Museu Histórico Nacional (MHN) por longos anos (aqui).
Pois bem, hoje vamos falar da vivenda intitulada CASA DOS ARTISTAS.
Vamos lá.
Segundo conta Bibianinho Carvalho1, um dos últimos memorialistas de Lambari, a vivenda hoje conhecida por CASA DOS ARTISTAS foi construída nos anos 1940 por um português de nome Boaventura, um funcionário da embaixada de Portugal, radicado no Rio de Janeiro, que frequentava a estância de Águas Virtuosas de Lambary. Boaventura acertara um grande prêmio de loteria e resolveu construir aquela bela casa na Volta do Lago.
Anos mais tarde, a tal vivenda foi adquirida pelo casal Paulo Gonçalves e Teresinha Moreira — atores e dubladores — que por várias temporadas frequentaram Lambari. E em suas vindas, traziam muitos convidados, artistas como eles, advindo daí o nome: CASA DOS ARTISTAS.
(Na casa de Lambari) ... eu vou pescar, passear de barco, fazer tudo que há muito tenho vontade e não consigo curtir, por absoluta falta de tempo, devido a compromissos profissionais
PAULO GONÇALVES
Atores e dubladores, Paulo Gonçalves e Teresinha passaram pelo rádio, cinema, teatro e televisão com grande sucesso, com tipos marcantes e ainda hoje reconhecidos do público.
De fato, novelas como O bofe, Cavalo de aço e Bandeira 2, ainda estão na memória afetiva de quem passou pelos anos 1970-80; em todas elas Paulo Gonçalves atuou. Como dublador, sua voz está em personagens como Zorro e Homem de Ferro, entre muitos outros.
Teresinha também passou pelas novelas (ela atuou em O Cafona, por exemplo) e por programas humorísticos (Faça amor não faça a guerra). Como dubladora fez a inesquecível Olívia Palito, do desenho Popeye.
Revista Amiga, n. 142, de 06/02/1973 - bn.digital.gov.br (Reprodução)
Fonte: Casa da dublagem
No site Casa da Dublagem (aqui), que disponibiliza uma memória riquíssima dessa arte no Brasil, encontramos os seguintes registros sobre Paulo Gonçalves e Teresinha Moreira, e bem assim áudios por eles produzidos. Confira:
Youtube - Desenho Popeye e Olivia Palito (esta dublada por Teresinha Moreira)
No início dos anos 1990, defronte a casa foi construída uma pracinha — a Praça dos Artistas — que se tornou um agradável ponto turístico em face da casa famosa, da vista do Lago Guanabara e do conhecido bougainville*, tido como o maior do mundo na espécie.
Fonte: Joseane Astério - reprodução
Vista atual da Casa dos Artistas
Em 2016, a casa começou a ser reformada - Reprodução - Google Maps
Na página do Facebook do site GUIMAGUINHAS (https://www.facebook.com/historiasdeaguinhas/), foi grande a repercussão deste post, com muitos comentários e compartilhamentos, inclusive novas informações sobre a história da CASA DOS ARTISTAS.
Confira:
Ilustração: Capa do livro Cinza do tempo, de Gustavo Barroso, com contos versando sobre histórias e pessoas de Águas Virtuosas de Lambari
Como já dissemos aqui, aqui, aqui e aqui, o jornalista, escritor e ensaísta Gustavo Barroso [Fortaleza, CE, 29/12/1888. Rio de Janeiro, RJ, 3/12/1959] foi diretor do Museu Histórico Nacional, por mais de 30 anos e membro da Academia Brasileira de Letras.
Barroso era apaixonado por Águas Virtuosas de Lambary, e aqui construiu o Retiro do Lago, a sua vivenda postada na beira do Lago Guanabara, que frequentou por anos e anos. Em razão disso, trazia amigos para conhecerem a estância e fez muitos outros em Lambari, e sobre esse período escreveu diversos textos, especialmente crônicas e contos.
Pois bem, alguns desses contos foram reunidos no livro Cinza do tempo, que comentamos a seguir.
Confira.
Dos 29 contos reunidos em Cinza do tempo, de 1952, treze deles fazem referências a Águas Virtuosas: pessoas, lugares, histórias.
De fato, lá estão menções ao Mericão (alugador de Cavalos), a Chico Peão (Francisco Costa Prado), às crianças voltando da escola, aos caboclos a cavalo, às tropas de burros vindo da Capelinha do Imbirizal, de Jesuânia, de Olímpio Noronha, de Silvestre Ferraz; ao Lago Guanabara, à Volta da Mata, à estrada para o Pinhão Roxo e Vila dos Coqueiros (atual Heliodora), à antiga fábrica de garrafas, às paineiras, fronteiras ao seu Retiro do Lago, aos caniços, patos selvagens e jaçanãs no entorno do lago.
Índice de Cinza do tempo, de Gustavo Barroso
A maioria dos contos acima fazem referências a pessoas, lugares e histórias de Águas Virtuosas de Lambari
Reprodução. Revista O Cruzeiro
A equitação era o esporte preferido de Gustavo Barroso, e seus cavalos —entre eles os puros-sangues Honey e Juriti — eram cuidados por Chico Peão, numa cavalariça existente ao lado da propriedade de Barroso, na Volta do Lago.
Chico Peão e Barroso eram amigos, cavalgavam juntos e contavam-se muitas histórias. Entre elas, coletadas no livro acima, está a que foi narrada em O burro preto.
Confira:
O Burro Preto, extraído de Cinza do tempo, de Gustavo Barroso (Editora A Noite, RJ, 1952)
Seu Chico Peão, personagem do conto O burro preto
Ilustração: Escudos do Águas Virtuosas e do América, de Baependi, ambos inspirados no América do Rio de Janeiro.
- Aspirante e Mirim do Águas Virtuosas
Em 1975, o Águas Virtuosas Futebol Clube disputou o Campeonato da Liga de Caxambu e acabou o torneio em 3o. lugar.
Neste post, vamos resgatar uma brilhante vitória do Águas Virtuosas sobre o América F. C., em Baependi, ocorrida em 13 de julho de 1975, que classificou o time para as semifinais do campeonato de 1975.
Abaixo, a história do jogo.
Time do Águas Virtuosas - 1975: Edgar, Tucci, Tinz, Sérgio, Dimas e Celinho. Agachados: Zé Gabriel, Xepinha, Véio, Rubens Nélson e Décio.
Joãozinho, Xepinha e Gabriel. Xepinha foi o artilheiro do campeonato de 1975
Aspirantes e Mirim do Águas Virtuosas
A reportagem acima menciona o time de Aspirantes, dirigido por Delém, e o Mirim do Águas, esse dirigido pelo sr. Teixeira. Naquela época, o segundo quadro (ou quadro de aspirantes) disputava também o campeonato regional.
O destaque do aspirante, como se vê, era o Joãozinho do Crisóstomo, que vai ingressar no time titular ainda em 1975, fazendo, inclusive o gol da classificação do Águas Virtuosas para a final do campeonato. (veja aqui).
Eu não participei deste jogo, em razão de uma contusão no joelho, que me afastou por cerca de 40 dias. A rápida recuperação, eu a devo ao sr. Morais e suas duchas quentes, na hidroterapia ainda existente no Hotel Imperial.
Guima, no Águas Virtuosas de 1975
Nos anos 1970, muitos outros atletas do Águas foram tratados pelo sr. Morais neste estelecimento hidroterápico.
Ilustração: Recorte da inscrição OLHO D'ÁGUA, existente na vivenda do mesmo nome, que pertenceu à professora e museóloga Nair de Moraes Carvalho, situada na Volta do Lago, em Lambari, MG.
Conforme dissemos no número 1 desta série, dedicado ao RETIRO DO LAGO de Gustavo Barroso aqui, nosso objetivo é recordar antigas vivendas* e casas de veraneio na Volta do Lago, um dos recantos mais belos de nossa cidade.
Pois bem, hoje vamos falar da vivenda OLHO D'ÁGUA, que pertenceu à museóloga e professora Nair de Moraes Carvalho, colega de trabalho de Gustavo Barroso no Museu Histórico Nacional (MHN) por longos anos (aqui).
Vamos lá.
(*) Lugar onde se vive; CASA; HABITAÇÃO; MORADA; RESIDÊNCIA:
Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, (...) tinha o aspecto tristonho de residência eclesiástica... [Eça de Queiroz, Os maias]
Quem foi Nair de Moraes Carvalho
Nascida em Salvador, BA, a 27 de junho de 1914, Nair de Moraes Carvalho se formou no Museu Histórico Nacional (MHN), em 1937, no Curso de Museus, vindo a ocupar o cargo de 3º Oficial do MHN. Depois se tornou, inicialmente, professora e depois coordenadora desse mesmo curso, no período de 1944 a 1967, formando várias gerações de museólogos.
O diploma de Nair, no primeiro curso de museologia do Brasil
Lista de artigos publicados por Nair de Moraes nos Anais do MHN
Ao centro, Gustavo Barroso e Nair de Morais Carvalho, em visita à sede da revista Epopéia, no Rio de Janeiro.
Em 1935, Nair morava no Rio de Janeiro, na casa de seu irmão Bertino, e por essa época, incentivada por ele, iniciou um curso de Biblioteconomia, mantido pela Biblioteca Nacional.
Depois, levada por uma amiga, assistiu a uma aula do Curso de Museus, no Museu Histórico Nacional, se encantou com a disciplina e mudou de curso, vindo a se formar em 1937.
Nair de Moraes trabalhou com Gustavo Barroso no Museu Histórico Nacional de 1937 — quando ingressou — até 1959 — ano em que Gustavo Barroso faleceu.
Muito dedicada a Barroso, foi responsável pela meticulosa elaboração de sua hemeroteca, que pode ser vista hoje no acervo virtual do MHN (aqui).
Fonte: Aline Montenegro Magalhães. In Tecendo memórias. Gustavo Barroso e as escritas de si
Referência ao artigo publicado por Nair de Moraes, quando do aniversário de 70 anos de Gustavo Barroso. Fonte: Ana Cristina Audebert Ramos de Oliveira /PUC/RJ
Vídeo: Nair de Moraes Carvalho: 100 anos de vida e trabalho
O vídeo Nair de Moraes Carvalho: 100 anos de Vida e Trabalho, produzido pelo Núcleo de Memória da Museologia no Brasil, narra a vida da brilhante professora e museóloga.
Ex libris de Nair de Moraes Carvalho
Esta casa pequenina Onde não há dor nem mágoa Cheia de rosa e bonina Tem o nome de Olho d'água |
Nesta fonte, sem perigo, Água fresca tomarás E se fores meu amigo Muito tempo ficarás. |
A vivenda Olho d´Água, que pertenceu a Nair de Moraes Carvalho
Extraído de crônica de Lourdite Cunha
Vista recente da vivenda Olho D'Água (Fonte: GoogleMaps)
A vivenda de Lígia de Paula Pinto
Defronte às vivendas de Gustavo Barroso (Retiro do Lago) e de Nair de Moraes (Olho D'Água), na grande curva do Lago Guanabara, situava-se a residência da escritora Lígia de Paula Pinto, atraída a Águas Virtuosas de Lambari por conta de sua amizade com Barroso e Nair de Moraes.
Na curva da Volta do Lago, entre a vegetação, vê-se a antiga vivenda de Lígia Paula Pinto
Os três amigos numa conferência de Gustavo Barroso, em 1957
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1957, Vol. 233