Ilustração: Postal n. 3 - Fachada lateral Cassino de Lambary - João Gomes de Almeida Filho - recorte
João Gomes D'Almeida
Sobre João Gomes D'Almeida [1847-1907] e seu filho João Gomes de Almeida Filho [1893-1961], os primeiros fotógrafos de Águas Virtuosas de Lambary, já fizemos alguns posts:
Pois bem, hoje voltamos a esses lendários personagens da história de nossa cidade e aos cartões postais clássicos que compuseram com paisagens de Águas Virtuosas de Lambary, fato que já referimos ao mencionar o trabalho de Francislei Lima da Silva (aqui)*
(*) O olhar de um fotógrafo e suas paisagens aquáticas - Francislei Lima da Silva - In Leituras Paisagísticas 5 - teoria e práxis - Rio de Janeiro EBA/UFRJ, 2015.
Fonte: O olhar de um fotógrafo e suas paisagens aquáticas - Francislei Lima da Silva [1]
Postais raros de Águas Virtuosas
Como se vê acima, os postais legendados por João Gomes de Almeida foram os seguintes:
Em seu trabalho, Francislei Lima reproduz alguns desses postais.
Pois bem, seguem abaixo alguns outros postais raros dessa coletânea. Confira.
Postal n. 3 - Fachada lateral do Cassino - Lambary
No alto pode-se ver o telhado original do Cassino, modificado posteriormente
Postal n. 6 - O grande Lago - Lambary
Foto provalmente tirada no dia da inauguração das obras de Werneck, quando se lançou ao lago a gôndola importada de Veneza (Itália) (veja aqui)
Postal n. 20 - Um horisonte (sic) do parque - Lambary
O primitivo laguinho do Parque Novo
Postal n. 10 - O rio Mombuca - Lambary
Essa foto raríssima mostra ponte sobre o Rio Mumbuca, que dava acesso aos Laticínios Silvestrini, onde se criou o famoso Catupiry (veja aqui)
Postal n. 2 - Paisagem de Lambary
Vista da chegada ao centro da Vila de Águas Virtuosas, vindo da Volta do Ó
Nota: Agradecemos a colaboração da sra. Luíza Silvestrini da Cruz, neta de João Gomes d'Almeida e sobrinha de João Gomes de Almeida Filho, pelas informações prestadas e cessão das fotos utilizadas neste post.
Ilustração: Roberto e Xepinha seguram a camisa do Águas Virtuosas, rubricada por ambos
Como sabem, o site GUIMAGUINHAS vem resgatando a história do futebol de nossa cidade, especialmente a do ÁGUAS VIRTUOSAS FUTEBOL CLUBE, que carrega o nome e as raízes históricas de Águas Virtuosas de Lambari.
Assim, na Série Águas Virtuosas Futebol Clube
podem ser encontradas histórias, fotos, reportagens e entrevistas de antigos craques de nossa cidade, como estes: Chá, Alemão, Criosóstomo, Tatá, Zezé Gregatti, Joãozinho Fernandes, Betinho Nascimento, os Barlettas, Quinzinho, Zanata, entre outros.
Pois bem, na semana passada, em companhia do Xepinha, velho amigo e companheiro de bola, fomos visitar o Roberto, que foi colega nosso no mirim/juvenil do Águas, no Vasquinho (de 1971), no GR.ABI e no Águas Virtuosas (início dos anos 70).
Abaixo, o relato desse saudoso encontro.
Roberto Silva vem de uma família de jogadores de futebol, entre eles Guelinha (o mais velho) e Pedro Guela (que jogou no Vasquinho, no GR. ABI e no Águas), conforme já contamos na Série Futebol em Família:
Roberto começou no mirim e depois juvenil do Águas Virtuosas, isso nos anos 1967-70.
Mirim do Águas, 1967: Alexandre, Geraldinho, Ieié, Celinho, Décio e Biguá. Agachados: Andrezinho, Zé Maria, Xepinha, Rubens Nélson e Roberto.
Ataque do Juvenil do Águas Virtuosas (1969): Xepinha, Roberto, Pedro Guela, Rubens Nélson e Dílson
Em 1970, o juvenil do Águas Virtuosas foi vice-campeão da cidade, perdendo a final para o experiente time do Vasquinho, por 1 x 0.
Juvenil do Águas, vice-campeão municipal, 1970: Ieié, Vaca, Adão, Guima, Firmino e Celinho. Agachados: Roberto, Xepinha, Zé Paulo, Pedro e Dílson.
Em seguida, passou pelo Vasquinho (1971), GR. ABI (1972-74) e Águas Virtuosas (1975-76).
Vasquinho de 1971, que disputou o campeonato amador Sul Mineiro da Liga de Varginha. Em pé: João Fubá, Zezé Gregatti, Édson, Vaca, Celinho, Bita, Cafezinho, Guima, Sérgio, Adão e Augusto (Presidente). Agachados: Roberto, Valmando, Véio, Picolé, Betinho, Pedro, Xepinha e Tuccinho.
GRABI X Ubiratan (Carmo de Minas), 1974. Edson, Vaca, Tinz, Tucci, Guima e Delém. Agachados: Roberto, Xepinha, Tatá, Chiquinho Barletta e Sérgio.
Gol de Roberto, jogo GR.ABI x Ubiratan, de Carmo de Minas, em 1974. Chiquinho Barletta, Xepinha, Roberto, Sérgio e Tucci comemoram.
O estilo de Roberto era o do ponta-direita clássico: técnico, driblador, rápido, bom chute na perna direita e fazedor de gols. Essas características o levaram a tentar a sorte em times profissionais de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
Roberto conta que, em 1973, esteve no juvenil do América Mineiro. Nesse início dos anos 1970, o Coelho tinha um esquadro poderoso, comandado pelo célebre Orlando Fantoni, no qual jogaram craques como Pedro Omar, Neneca, Juca Show, Hélio Alves, Hilton Oliveira.
No Juvenil do Coelho, cujo treinador era o preparador físico Célio Lara, Roberto conheceu Éder Aleixo e Dirceu Bisliquete, entre outros.
América de 1971: Nego, Oswaldo Cunha, Pedro Omar, Alemão, Vander e Cláudio Mineiro, em pé Hélio, Dirceu Alves, Jair Bala, Amaurí e Hilton Oliveira, agachados.(Reprodução/Fonte: http://sosumulas.blogspot.com.br)
Eder Aleixo, no América Mineiro (Reprodução/Fonte: Super Esportes)
Saindo do América, passou pelo time profissional do Muriaé, que então disputava o campeonato mineiro.
Em 1976, de volta ao Sul de Minas, jogou pelo Juventus, de Elói Mendes, que participava do campeonato da Liga de Varginha.
Depois foi para o São José Esporte Clube (Vale do Paraíba, SP), onde jogou com Serafim e Roberto Botu, entre outros.
Em 1979/80, tentou a sorte no Rio de Janeiro, tendo passado pelos times juuvenis do Flamengo, Vasco e Bangu.
No Flamengo, levado por Ivan Drummond, conheceu alguns dos craques que formariam o grande Flamengo dos anos 1980: Zico, Júnior, Júlio César.
No Vasco, no início dos anos 1980, treinou com Marcelo e Mamão, entre outros. No Bangu, trabalhou com Moisés, o Xerife, grande zagueiro do clube, que depois jogou no Vasco e Botafogo.
Há anos residindo novamente em Lambari, Roberto hoje dedica-se a escrever letras de músicas, atividade que começou quando, em sua passagem pelo Rio de Janeiro, conheceu o compositor e sambista João Nogueira.
Em seu acervo particular, Roberto tem várias letras de músicas, homenageando Pelé, Ronaldinho Gaúcho, o Galo Mineiro, e também artistas famosos, como Roberto Carlos e Hebe Camargo.
Roberto também assinou a histórica camisa do Águas Virtuosas, na qual o GUIMAGUINHAS vem coletando assinaturas de jogadores que atuaram pelo clube, e que pretende expor num futuro local que venha a guardar a memória do do A.V.F.C.
Ilustração: A Usina de Força, na data de sua inauguração (1911), onde funciona atualmente a Prefeitura Municipal de Lambari
Como já foi dito neste espaço eletrônico, as obras planejadas e parcialmente realizadas por Américo Werneck, na estância hidromineral de Águas Virtuosas de Lambary, no início dos anos 1900, constituem um dos mais importantes fatos históricos de nossa cidade.
Por isso, temos dedicado a esse tema diversos textos, com o objetivo de compartilhar registros históricos e fotográficos de Águas Virtuosas, visando a preservar nossa memória e informar as novas gerações de lambarienses e o grande número de pessoas que estimam e frequentam nossas águas minerais.
Veja os textos que já publicamos:
Pois bem, neste post, vamos resgatar algumas raras fotografias desse evento, reproduzidas de livros, revistas e álbuns citados abaixo.
É um extraordinário passeio histórico nos começos de nossa Águas Virtuosas de Lambary.
Confiram.
ASPECTOS DA VILA DE ÁGUAS VIRTUOSAS NOS ANOS 1900
A seguir, veja algumas fotografias da Vila de Águas Virtuosas, antes das obras de Américo Werneck.
A vila de Águas Virtuosas, na virada do Século XIX para o Século XX
Área central da Vila de Águas Virtuosas, perto dos anos 1900
A vila de Águas Virtuosas vista da várzea (próximo dos anos 1900)
A programação da inauguração das obras e dos festejos foi publicada no Anuário de Minas Gerais, de 1913 (aqui), e ocorreu no dia 24 de abril de 1911, tendo começado às 10h da manhã, quando as autoridades foram recepcionadas na Parada Melo, e encerradas à meia noite, após o baile, serenata e fogos.
Duas comitivas presidenciais estavam presentes às festividades de inauguração. A do Presidente da República, Hermes da Fonseca, e a do Presidente do Estado de Minas Gerais, Júlio Bueno Brandão.
Hermes da Fonseca e Júlio Bueno Brandão
Eis a lista dos principais eventos:
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Veja a descrição detalhada das solenidades e festejos:
Fonte: Anuário Minas Gerais de 1913.
FOTOS HISTÓRICAS DA INAUGURAÇÃO DAS OBRAS DE WERNECK
Desde o final do Século XIX, mais precisamente desde 1894, Águas Virtuosas de Lambary era acessível por meio de trem.
Logo abaixo, a primeira foto mostra a Parada Melo, pouco tempo depois de sua inauguração, ocorrida em 1908.
A segunda retrata o Presidente da República Hermes da Fonseca e outras autoridades, dirigindo-se a Águas Virtuosas, para inauguração das obras de Werneck.
Autoridades, convidados e pessoas do povo comparecem à inauguração da Leiteria (prédio à esquerda da foto).
A Leiteria, conforme o projeto original, não chegou a ser concluída, e assim, nunca cumpriu sua finalidade: servir leite fresco, ao pé da vaca, para os turistas, crianças e convalescentes.
Na foto abaixo, autoridades, convidados e uma multidão de visitantes dirigem-se ao Hotel Mello, para o almoço, que se deu às 12h.
No alto, à direita, pode-se ver uma placa (Mello), indicativa do famoso hotel de Águas Virtuosas, depois transformado no Hotel Imperial.
"O presidente da República e os seus companheiros foram acolhidos na parada do Hotel Mello às 11 horas da manhã (a estação de Águas Virtuosas ainda não se encontrava pronta), de onde seguiram para a inauguração da leiteria, almoço e visitariam as fonte minerais, tendo sido abrilhantado o passeio no parque pelos músicos da banda, que interpretou obras de Carlos Gomes – Sinfonia da ópera II Guarani, G. Verdi e R. Wagner, dentre outros."
(FRANCISLEI LIMA DA SILVA. Os monumentos da água no Brasil, p. 69)
Aspectos do salão de almoço/jantar do Hotel Mello
4 - Visita ao Parque das Águas
Conforme a programação, depois do almoço a comitiva presidencial dirigiu-se às Fontes das Águas Virtuosas.
Como se recorda, nossas fontes haviam sido objeto de separação e captação em 1905, pela equipe do engenheiro Benjamin Jacob.
Aspecto das Fontes das Águas, por volta de 1911
5 - Visita à Caixa d'Água, Fábrica de gelo e Mercado das Flores
Em seguida, as comitivas presidenciais visitaram a Caixa d'Água, a Fábrica de Gelo e o Mercado das Flores.
Autoridades, visitantes e locais se movimentam, para as inagurações das obras de Werneck
Veja como eram as edificações da Caixa d'água, da Fábrica de Gelo e do Mercado das Flores, em data próxima de sua inauguração (1911):
A pitoresca Caixa d'água de Águas Virtuosas, na época de Werneck
A Fábrica de Gelo e o Mercado das Flores situavam-se no Parque das Águas
6 - Solenidade de entrega das obras
Seguindo a programação, deu-se a solenidade de entrega das obras no Salão Nobre do Cassino.
Nessa oportunidade, Américo Werneck fez longo discurso.
Aspecto do Salão Nobre do Cassino de Lambari
Cassino de Lambari na data de sua inauguração, em 1911
7 - Visita ao Parque Wenceslau Braz
Em seguimento à programação oficial, as comitivas visitaram o Parque Wenceslau Braz, que, por aquela época, tinha o seguinte aspecto:
8 - Lançamento pedra fundamental do Grande Hotel e Esplanada da futura estação de trem
Como se sabe, duas obras que seriam construídas ao lado do Cassino não foram concluídas por Werneck.
O Grande Hotel ficou no lançamento da pedra fundamental, e a Esplanada da futura estação de trem, ao que se sabe, parou na armação de ferragem, como aparece na foto abaixo.
Eustáquio Garção Stockler [Campanha, MG (?) — Soledade de Minas (1927)]
No lançamento da pedra fundamental do Grande Hotel, discursou Garção Stockler, médico, político, correlegionário de Werneck, e considerado o "criador da estância de Águas Virtuosas."
Na esplanada à esquerda do Cassino,nesta foto de 1911, aparece uma armação do que parece viria a ser a futura estação do trem
9 - Inauguração Cascata do Lago
A seguir, veio a solenidade de inauguração da Cascata do Lago. Nessa oportunidade, discursou Nelson de Senna.
Professor, parlamentar e publicista mineiro. Em 1906, deu início à publicação do ANUÁRIO DE MINAS GERAIS, com estudos sobre história, geografia, literatura e estatística. Trabalhou pela criação do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MINAS GERAIS, que ocorreu em 1907.
10 - Inauguração do Lago Guanabara e Avenida do contorno ao lago
Abaixo fotos do Lago Guanabara, do Cais do Lago e das embarcações e gôndolas lançadas ao lago
Nessa oportunidade, quando se deu o lançamento ao lago da lancha Hylda, o senador Augusto de Lima proferiu o discurso
A gôndola veneziana, também lançada ao lago nesse dia, foi chamada de Odete em homenagem à filha de Wenceslau Braz, Presidente do Estado e depois Presidente da República.
Augusto de Lima, em discurso que proferiu por ocasião da inauguração do retrato de Américo Werneck, no Asilo São Luiz, no Rio de Janeiro, disse o seguinte a respeito do primeiro Prefeito de Águas Virtuosas:
Para Quintino Bocaiúva, Américo Werneck era o maior pensador brasileiro. Semeador de idéias denominava-o Alcindo Guanabara. Afirmava Nilo Peçanha ser ele o espírito mais profundamente liberal de seu tempo. O Ministro Heitor de Souza, que o enfrentou em pleito célebre de Minas, conceituava-o como a inteligência mais fulgurante do Brasil.
Fonte: LIMA, Augusto de. Retrato de Werneck [Discurso proferido por ocasião da inauguração do retrato de Américo Werneck, no AsiloSão Luiz para Velhice Desamparada, Rio de Janeiro] - Disponível em http://www.allnetmind.com.br.
AUGUSTO DE LIMA
Parlamentar, jurista, poeta, membro da Academia Brasileira de Letras, foi Presidente do Estado de Minas e amigo pessoal de Américo Werneck.
Lago Guanabara e Cascata do Lago, no ano da inauguração (1911)
Vista do Lago Guanabara e do Cais do Lago, na sua inauguração em 1911
11 - Lançamento das embarcações e gôndolas no Lago Guanabara
Na foto abaixo, veem-se, em primeiro plano, a lancha Hylda, e, ao fundo a gôndola Odete.
Autoridades, de chapéus à cabeça, se preparam para embarcar na lancha Hylda, que está toda enfeitada de bandeirolas.
12 - Inauguração da Usina de Força
Às 18h30 da tarde, foi inaugurada a Usina de Força, que gerava eletricidade e iluminação para a Vila de Águas Virtuosas.
Ao longo dos anos, esse prédio passou por diversas reformas e modelagens (mercado, feira, ponto de venda da antiga Cobal). Atualmente, é a sede da Prefeitura Municipal de Lambari.
Aspecto interno da Usina de Força, por volta de 1911
Conforme publicamos na página de abertura do site GUIMAGUINHAS (aqui), nosso objetivo é:
Assim, o autor deste blog solicita
ASPECTOS DE ÁGUAS VIRTUOSAS APÓS INAUGURAÇÃO DAS OBRAS DE WERNECK
Nesta fotografia, podem ser vistas as obras de Werneck, logo após a inauguração.
As informações e fotografias deste artigo foram reproduzidas de livros, revistas e álbuns, existentes em acervos físicos e virtuais mencionados abaixo.
Ilustração: João de Almeida, ainda jovem, no início de sua carreira política.
João de Almeida Lisboa desempenhou importante papel na história política de Águas Virtuosas de Lambari, tendo sido vereador na Câmara Municipal instalada em 1902, e depois deputado (estadual e federal) por várias legislaturas.
Casado com Maria Rita de Vilhena Lisboa, teve nove filhos, todos nascidos aqui, e alguns deles com destaque na vida social, política e literária.
Abaixo, seguem informações e fotos de Almeida Lisboa e de seus filhos.
Fonte: José Nicolau Mileo [1]
A primeira Câmara Municipal de Águas Virtuosas de Lambari
Ao centro, vê-se João de Almeida Lisboa, que presidiu a primeira Câmara Municipal de Águas Viirtuosas de Lambari.
PRESIDENTE: João Lisboa - VICE-PRESIDENTE: Gabriel Romão Carneiro
SECRETÁRIO: Oscar Paes Pinheiro -
VEREADORES DE ÁGUAS VIRTUOSAS: Joaquim Manoel de Melo, Bibiano José da Silva, Martinho Vaz Tostes, Egydio de Lorenzo
VEREADOR ESPECIAL DE CONCEIÇÃO DO RIO VERDE: Deusdedith Vieira
VEREADOR DE LAMBARY (atual Jesuânia): Francisco Antônio Correa
Os filhos do casal Almeida Lisboa — João e Maria Rita — são os seguintes: João, José Carlos, Alaíde, Henriqueta, Oswaldo e Pedro.
Desses, Oswaldo e José Carlos eram farmacêuticos e trabalharam na Pharmácia da Empresa, citada acima, de propriedade da família.
João Lisboa, médico, clinicou muitos anos em Lambari e também foi prefeito da cidade por quase duas décadas.
Alaíde, Henriqueta, e depois José Carlos, seguiram, com destaque, vida acadêmica e literária no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
Família Lisboa: João de Almeida Lisboa e Maria Rita de Vilhena Lisboa ladeados pelos filhos: João, José Carlos, Alaíde, Henriqueta, Oswaldo e Pedro
Abaixo, segue reprodução de um documento histórico, disponível para venda no site Mercado Livre.
Trata-se de uma carta de João de Almeida de Lisboa, escrita em 14 de fevereiro de 1911, e coassinada por Afonso de Vilhena Paiva*, encaminhada aos eleitores de Águas Virtuosas, pedindo votos para a reeleição de Almeida Lisboa à Câmara Estadual.
Confira:
Dados biográficos de Afonso de Vilhena Paiva
Fonte: José Nicolau Mileo [2]
Tanto João de Almeida Lisboa como Afonso de Vilhena Paiva têm seus nomes inscritos em logradouros públicos de Lambari. Almeida Lisboa deu seu nome à Praça da Fonte Luminosa, e Vilhena Paiva, à rua que sobe do Parque das Águas até o início do bairro Campinho.
[1] MILEO, José N. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, págs. 27/28.
[2] MILEO, José N. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, pág. 34
- Museu Américo Werneck - Lambari, MG
- Site Mercado Livre
Série Memórias Políticas de Aguinhas
Veja os demais posts da série acima,
Ilustração: Manchete Jornal Última Hora, de 6, ago, 1917 (Reprodução)
Na primeira parte deste artigo, vimos os planos de Werneck para a Estância Hidromineral de Águas Virtuosas, o que ele efetivamente conseguiu terminar e as consequências para o futuro de nosso cidade, conforme o índice que vai a seguir.
Note-se que mesmo tendo ficado distante de concretizar todo o plano de obras para Águas Virtuosas, o que Werneck conseguiu realizar, ainda assim, forma o conjunto de obras fundadoras de Lambari (Cassino, Lago, Parque Novo, Farol, avenidas centrais, remodelação do Parque das Águas, etc.).
Nesta segunda parte, vamos examinar as críticas que Werneck recebeu, sua defesa e um resumo do Caso Minas X Werneck — a demanda histórica que encerrou os planos de crescimento, embelezamento e modernização de Águas Virtuosas de Lambary.
Vamos lá.
Da primeira parte deste artigo constam os itens abaixo.
Para acessar, clique aqui.
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Críticas a Werneck e sua autodefesa
Críticos de Américo Werneck condenaram não só a "suntuosidade das obras" e a "gastança de dinheiro público", como também a "cobertura encomiástica e exagerada" da inauguração feita por alguns jornais.
Vejamos:
No livro O memorial dos setenta, Antônio Fonseca Pimentel, falando sobre a nomeação de seu pai, Antônio Pimentel Júnior, que sucedeu Américo Werneck, anotou:
Em outubro de 1912, foi meu pai nomeado prefeito de Lambari, então denominada, por extenso, Águas Virtuosas de Lambari.
Essa nomeação se deveu a dois fatos principais.
.............................................
O segundo fato a que se deu a nomeação de meu pai foi a decisão de Bueno Brandão de substituir, na prefeitura daquela estância hidromineral, a Américo Werneck, que, dentre numerosas outras obras, concluíra a construção do famoso cassino de Lambari e o inaugurara em 1911.
Bueno Brandão, como chefe do executivo estadual, estivera presente às festas de inauguração, verdadeiramente de mil-e-uma noites, segundo a tradição conservada. E, em sua conhecida simplicidade e austeridade, regressara a Belo Horizonte, segundo os íntimos, escandalizado com tamanha pompa e, de acordo com uma anedota, achando que, naquele andar, Américo Werneck quebraria não só Lambari, mas o próprio Estado de Minas, o que era evidentemente um exagero.
Meu pai era, assim, nomeado com a recomendação expressa de não gastar, ou gastar o menos possível, para compensar os gastos da administração anterior.
Era uma tarefa antipática e ingrata perante uma comunidade que esperara que Américo Werneck transformasse Lambari na Monte Carlo não só de Minas, mas do Brasil, o que não ocorreu nem sequer com o Cassino de Quintandinha, construído trinta anos depois em Petrópolis, a algumas dezenas de quilômetros apenas do Rio de Janeiro. [10]
Em 1917, apareceu esta crítica, de cunho nitidamente político, publicada por um anônimo, que se intitulava Tiradentes:
Crítica assinada por Tiradentes, em A lanterna, de 1917 [11]
Exageros da cobertura jornalística
Em 1915, na discussão entre Werneck e o Estado de Minas, Heitor de Souza, subprocurador-geral do Estado, escreveu:
Crítica de Heitor de Souza à cobertura jornalística das obras inauguradas por Werneck [12]
Werneck se defende de críticas e acusações
Quando prefeito de Águas Virtuosas e comandante das obras de remodelação e embelezamento da vila, Werneck foi objeto de inúmeras críticas e acusações, a maioria anônima. E mais de uma vez solicitou fossem suas contas examinadas pelo Governo do Estado.
Questão Minas x Werneck, Obras Completas de Rui Barbosa, vol. V, p. 107
E no discurso que fez em 24 de abril de 1911 por ocasião das inauguração das obras da estância de Águas Virtuosas, respondeu duramente aos ataques que vinham sendo feitos ao seu projeto e à aplicação dos recursos públicos do Governo de Minas.
Disse ele:
Reprodução - O Paiz, 25, abril, 1911 [4]
A demanda com o Governo do Estado: Caso Minas X Werneck
De 1913 a 1921, arrastou-se a demanda de Américo Werneck contra o Governo do Estado, fato que ficou conhecido como Minas X Werneck. [13]
Resumidamente, ocorreu o seguinte:
Nesses longos nove anos, Lambari praticamente ficou abandonada, visto que Werneck recusava-se a devolver ao Governo de Minas os bens que arrendara, até que recebesse a indenização que o Juízo Arbitral lhe concedeu.
E o grande fluxo de turistas com que sonhou a vila de Águas Virtuosas não ocorreu: o hotel, o teatro e outros melhoramentos e diversões, que poderiam atraí-los, não foram construídos, e os jogos de azar, no Cassino maravilhoso, nunca aconteceram...
Relatório Pres. Estado MG - Governo Delfim Moreira - 1915 - O litígio fora instalado em 1913, e, em 1915, para tentar sua solução, as partes resolveram adotar o Juízo Arbitral.
Relatório Pres. Estado MG - Governo Delfim Moreira - 1916 - Nesse ano, o Juízo Arbitral decidira em favor de Werneck, mas o Governo de Minas resolveu apelar ao STF.
Relatório Pres. Estado MG - Governo Delfim Moreira - 1917 - Nesse ano, o STF decidira pela validade da sentença arbitral, mas Rui Barbosa embargou a decisão. O resultado final, desfavorável ao Governo de MG, sairia em 1918.
Relatório Pres. Estado MG - Governo Wenceslau Braz - 1920. Como se vê, o Governo de Minas, mesmo tendo perdido a causa, e não tendo pago a indenização, tentava reaver judicialmente os bens arrendados a Werneck, e por esse retidos.
Insucessos do Estado de MG na Justiça
Como se vê acima, o Governo mineiro tentou por diversas vezes reaver os bens na justiça, mas não conseguiu.
Confira:
Reprodução: O Paiz, 20, abr, 1920 [14]
O STF decide a favor de Werneck
Em agosto de 1917, foi a julgamento no STF a ação de apelação que o Governo de Minas intentara contra a decisão do laudo arbitral, exarada em 13 de março de 1916, que dera ganho de causa a Werneck de uma vultosa indenização.
O famigerado litígio, além de sua importância forense, foi objeto de grande repercussão política, tanto que nesse julgamento estiveram presentes vários líderes da situação mineira. [15]
Mas o Governo de MG perdeu a causa, e a repercussão dessa decisão foi tão estupenda que o Secretário de Fazenda do Governo Mineiro, à época de Delfim Moreira, Theodomiro Santiago, pediu demissão. Veja a notícia abaixo.
E não foi somente isso. Santiago, que era cunhado de Wenceslau Braz, durante o mandato desse último como Presidente da República (1914-18), perseguiu implacavelmente o jurista Edmundo Lins, que, como árbitro no Juízo Arbitral, decidira em favor de Werneck. Confira aqui.
Reprodução: Jornal Última Hora, de 6, ago, 1917 [16]
Reprodução: Jornal do Brasil, 17, ago, 1917 [17]
Werneck, enfim, recebe a indenização
Até que finalmente, em maio de 1921, no Governo de Artur Bernardes, a indenização foi paga, pondo fim na espetacular demanda, que teve repercussão nacional em face dos grandes juristas que dela participaram, como Rui Barbosa, advogado de Minas Gerais; Rodrigo Octávio, advogado de Werneck; Edmundo Lins, árbitro indicado pelo Governo de Minas; J. X. de Carvalho Mendonça, árbitro de Werneck; e Heitor de Souza, subprocurador-geral do Estado de MG. [18]
Relatorio Presidente MG - Governo Artur Bernardes - 1921
Quem despertará Lambari do seu sonho de longos anos?...
O jornalista, escritor e historiador Gustavo Barroso, de quem já falamos aqui, frequentou Lambari por muitos anos e aqui tinha o seu Retiro do Lago. Em 1943, ele escreveu esta, digamos, crônica-poema intitulada A Bela Adormecida no Lago, com que fechamos este post sobre Werneck e suas obras.
Reprodução. Revista Fon Fon n. 11, de 1943 (Acervo de Gustavo Barroso)
As referências a seguir abragem a 1a. e 2a. parte deste artigo
[1] O Parque Estadual de Nova Baden - aqui
[2] [Américo Werneck] - Parlamentar e Homem Público - disponível aqui
[3] MARTINS, Armindo. Lambari – Cidade das Águas Virtuosas. 1ª. edição, 1949
[4] O Paiz, de 25,abril, 1911 e 20, mai, 1912 [bn.digital.gov.br]
[5] Jornal do Comércio, 7, mai, 1890 [bn.digital.gov.br]
[6] Almanaque Laemmert, edição de 1910 [bn.digital.gov.br]
[7] Corrreio Paulistano de 15, abr,1910 e 20, mai, 1912 [bn.digital.gov.br]
[8] Revista Fon Fon n. 18, de 1911 [bn.digital.gov.br]
[9] OS MONUMENTOS DA ÁGUA NO BRASIL - Pavilhões, fontes e chafarizes nas estâncias sul mineiras (1880-1925) . Francislei Lima da Silva. [Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012. Disponível aqui
[10] PIMENTEL, Antônio Fonseca. Memorial dos Setenta. Brasília, DF : Gráfica Brasiliana, 1989, p. 57/58.
[11] A lanterna, edição de 15,ago, 1917 [bn.digital.gov.br]
[12] SOUZA, Heitor. Arrendamento da estância hydro-mineral de Lambary. Belo Horizonte : Imprensa Oficial, 1915.
[13] Rui Barbosa e a Questão Minas X Werneck - disponível aqui - Novos aspectos da Questão Minas X Werneck - aqui
[14] O Paiz, 20, abr, 1920 [bn.digital.gov.br]
[15] NASCIMENTO E SILVA, Luiz Gonzaga do. Prefácio de Questão Minas x Wernerck Obras Completas de Rui Barbosa - Vol. XLV 1918 - Tomo IV - Rio de Janeiro : MEC/Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980.
[16] Jornal Última Hora, de 6, ago, 1917. [bn.digital.gov.br]
[17] Jornal do Brasil, 15, jan, 1910 e 17, ago, 1917. [bn.digital.gov.br]
[18] A indenização recebida por Werneck - aqui
[19] Carlos Henrique Rangel (Historiador) - Lambari: o município e a estância hidromineral - Histórico elaborado para o Processo de Tombamento do Conjunto Arquitetônico do Cassino de Lambari – IEPHA/MG.