Ilustração: Recorte título reportagem Jornal O PAIZ, 11, jan, 1902 (bn.digital.gov.br)
Em 1901, a atual cidade de Lambari, foi elevada à categoria de vila com a denominação de Águas Virtuosas, pela Lei estadual nº 319, de 16-09-1901, desmembrada de Campanha e Baependi.
Sua sede se deu na antiga povoação de Águas Virtuosas, e era constituída por 2 distritos: Conceição do Rio Verde e Lambari (atual Jesuânia).
As solenidades de instalação se deram 02/01/1902.
Esse o tema deste post.
A solenidade de instalação do município de Águas Virtuosas
O jornal O PAIZ, edição de 11 de janeiro de 1902, trouxe uma completa reportagem da solenidade de instalação do município de Águas Virtuosas. Confira:
Reprodução: Jornal O PAIZ, 11, jan, 1902 (bn.digital.gov.br)
Abaixo, foto histórica da primeira câmara de Águas Virtuosas, instalada em janeiro de 1902:
PRESIDENTE: João Lisboa - VICE-PRESIDENTE: Gabriel Romão Carneiro
SECRETÁRIO: Oscar Paes Pinheiro -
VEREADORES DE ÁGUAS VIRTUOSAS: Joaquim Manoel de Melo, Bibiano José da Silva, Martinho Vaz Tostes, Egydio de Lorenzo
VEREADOR ESPECIAL DE CONCEIÇÃO DO RIO VERDE: Deusdedith Vieira
VEREADOR DE LAMBARY (atual Jesuânia): Francisco Antônio Correa
Ilustração: Placa indicativa da Rua dos Italianos, na casa da esquina com Praça N. S. Saúde
Não existe rua com pedras mudas nem casa sem eco.
Góngora
No começo dos anos 1850, os primeiros italianos chegaram ao Sul de Minas, instalando-se em Campanha (MG). A partir daí, essas famílias atraíram outros conterrâneos com destino àquela cidade. Nas décadas seguintes, diversos membros dessa colônia de italianos se instalaram em Águas Virtuosas de Lambari.
Em 1894, em Águas Virtuosas, a rua em que moravam diversas dessas famílias passou a se chamar Rua dos Italianos.
É a história dessa rua que vamos narrar a seguir.
Vista da Rua dos Italianos
Gerações de lambarienses passam por esta rua sem conhecer sua importância na história de nossa cidade, surdas ao vozerio de suas pedras centenárias, indiferentes aos ecos de suas antigas casas...
Veja também:
As famílias italianas em Águas Virtuosas de Lambari
Na década de 1870, João Marçano e em seguida Lucas Zaccaro vieram para Águas Virtuosas de Lambari, sem as respectivas famílias, e aqui se instalaram como comerciantes; alguns anos depois, retornaram a Itália.
Vindo de Campanha, a partir de 1880, um grupo de famílias originárias da mesma região da Campânia — província de Basilicata, cuja capital é Potenza, situada entre as províncias de Nápoles e Calábria — se instalou em Águas Virtuosas e aqui se fixou.
Região da Basilicata, Itália (Reprodução: GoogleMaps)
Quase todos vinham do mesmo paese* e muitos eram parentes próximos. Ordeiros, operosos, respeitosos à lei, esse grupamento de italianos muito contribuiu para o progresso de nossa cidade. [3, p. 111]
Fonte: Paulo Roberto Viola [2, p. 72]
Nos anos 1890, várias famílias de italianos estavam fixadas na Rua Camilo Fraga. Na eleição realizada em 15 de novembro de 1894, se decidiu pelo voto dos eleitores italianos — cerca de 30 imigrantes que aqui residiam.
Esses votos ajudaram na eleição do grupo político liderado por Garção Stockler e João Bráulio Júnior, que homenagearam a colônia de imigrantes dando o nome de Rua dos Italianos à antiga Camilo Fraga. Essa circunstância atraiu para aquela rua diversas outras famílias de origem italiana, que residiam em pontos diferentes da povoação. [1, p. 51]
E a história de Mileos, Violas, Grandinettis, já de origens muito próximas, misturou-se ainda mais ao vozerio, às comidas, às profissões, às artes de Lorenzos, Biasos, Raimundis. E novos laços familiares se formaram: MILEO e VIOLA. VIOLA e LORENZO. MILEO e RAIMUNDI. GRANDINETTI e VIOLA. BIASO e MILEO.
Mas não foram só italianos que fizeram essa rua famosa: espanhóis, alemães, portugueses (Castilho, Pinto, Silva, Cruz, Sá e Silva, Krauss) também ali residiram, aproximando culturas e originando diferentes núcleos familiares: SANTORO e KRAUSS, SANTORO e PINTO, BIASO e PINTO, GRANDINETTI e CRUZ.
EgídioPelluse (ao centro) rodeado de membros das famílias Mileo e Viola
Família Grandinetti Cruz - José Honório, d. Silvia e filhos
Olavo Krauss, sua esposa Maria e filhos, ao tempo que moravam na Rua dos Italianos
História de crianças - Solta o Violento!
Os filhos do seu Olavo Krauss passaram parte da infância na Rua dos Italianos, misturados às crianças de lá e a muitas outras que apareciam para as brincadeiras de rua.
Uma dessas brincadeiras tem como personagem o cachorro Violento, que na verdade era um vira-latas ligeiro e brincalhão, caçador de tatus, que era a alegria dos meninos daquela época. O cão pertencia ao Expedito Guimarães (conhecido por Expedito-sem-braço), primo do meu pai (Dé da Farmácia) e é Expedito quem me recordou essa história, também contada pelo meu falecido sogro Célio Krauss.
Pois bem, a brincadeira consistia em levar o Violento para o alto da rua, segurá-lo e soltá-lo juntamente com alguns meninos, numa corrida tresloucada ladeira abaixo.
Dizem que o menino Célio Krauss era o único que vencia o Violento nessa brincadeira...
Os meninos Expedito Guimarães e Célio Krauss, personagens dessa história
Rua dos Italianos nos tempos de Werneck
Em 1909, Américo Werneck assumiu a prefeitura de Águas Virtuosas de Lambary e a presidência da Comissão de Melhoramentos e a superintendência das obras de embelezamento da cidade. Para isso, adquiriu cerca de 100 terrenos e prédios, alguns na Rua dos Italianos, seja para dotar a cidade de novas ruas e avenidas, seja para construção de prédios e edificações que idealizara (cassino, lago, hotel, teatro, etc.), alguns dos quais não chegou a realizar.
Vista da Rua dos Italianos, nos anos 1900
Ao lado direito do Cassino, em 1911, ainda estavam de pé os prédios pertencentes a Manoel Viola e Salvador Priante, que foram demolidos para formação da esplanada onde deveria ser erguido um grande hotel
1911: Ao fundo, à direita do Cassino, veem-se antigos prédios da Rua dos Italianos, posteriomente demolidos
Rua dos Italianos nos anos 1950
Na foto abaixo, dos anos 1950, veem-se os principais prédios da Rua dos Italianos, alguns dos quais ainda existentes.
Vista da fachada das casas na Rua dos Italianos, anos 1950.
Anos 1940: Esquina da Rua dos Italianos com Silviano Brandão (atual Dr. José dos Santos), a chamada Esquina dos Três Poderes (em razão de 3 bares que existiam nas esquinas, entre eles o conhecido Bar Sete)
As Vilas
Com o morar muito próximos e a formação de novas grupos familiares, surgiram as vilas* de casas — pequenas casas construídas aos fundos dos prédios principais fronteiros à rua.
Arranjo de azulejos com imagem de Santo Estevão, que dá nome à vila, construída por José Freire das Neves
A fachada da Vila Santo Estevão foi preservada
O sobrado da família Sá e Silva ainda persiste
E também o sobrado da família Grandinetti Cruz
Em 5 décadas, muita coisa mudou na área urbana de Lambari. Como é natural — em prejuízo dos pósteros e da memória urbanística das cidades — antigos prédios cederam espaço a construções modernas.
Confira duas ocorrências nas fotos abaixo:
Foto dos anos 1960: Ao fundo, a Rua dos Italianos, com o Casarão do sr. Olavo Krauss. Na esquina, à direita, um antiga residência
O casarão do seu Olavo Krauss foi demolido
A antiga residência da esquina (Rua São Paulo - atual Wadih Bacha - com Rua dos Italianos) deu origem a uma casa moderna
Os meus bisavós italianos: Bordigoni e Gentilli
Neste link (aqui), eu conto as origens dos meus bisavós, que, vindos de Massa (Itália), se instalaram primeiramente na região dos Ribeiros (próximo de Heliodora) e depois se fixaram em Águas Virtuosas, na Vargem (bairro Vila Nova), como horticultores.
Francesca Bordigoni (Chica Gorda) e Giuseppe Gentili (José Gentil), meus bisavós italianos
Outras ruas e praças mencionadas no site GUIMAGUINHAS
[1] MILÉO, José Nicolau. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, págs. 47 e 50
[2] VIOLA, Paulo Roberto. Lambari, como eu gosto de você. Rio de Janeiro : Ed. Navona, 2002, pág. 63 e 72.
[3] MILÉO, José Nicolau. Subsídios para a história de Lambari [A fixação do elemento italiano na cidade]. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, págs. 107 a 114
Fotos: Museu Américo Werneck e arquivo pessoal do autor.
Ilustração: Montagem - Referência à canção do Águas Virtuosas e o escudo do clube
Em 1976, na gestão de David Fonseca Reis (aqui), ao completar 50 anos de sua fundação, ocorrida em 2 de agosto de 1926 (aqui), o time do Águas Virtuosas Futebol Clube foi homenageado com uma canção, criada por J. R. de Almeida Netto e Maria Letícia Carvalho. Intitulado Canção do Águas Virtuosas Futebol Clube, este hino [canção ou poema que exprime admiração ou entusiasmo por algo ou alguém] não havia ainda sido gravado.
Agora, o site GUIMAGUINHAS faz um resgate histórico desse hino e você poderá ouvir na voz e guitarra de Bruno Camarcio uma palinha, visto que a versão final ainda está em preparo.
A imensa torcida do Águas Virtuosas, conhecida desde os anos 1920 por sua paixão ao clube da camisa vermelha, sempre acompanhou o time seja aqui em nossos domínios, seja nos jogos realizados fora de casa. Basta visitar as cidades do Sul de Minas e fazer referência ao clube, que as pessoas vão ter, como nós lambarienses, essa mesma impressão.
Infelizmente, talvez essa torcida fantástica nunca mais cante esse hino com o seu time em campo...
Sobre a torcida do Águas Virtuosas veja:
Meus filhos (Alan, Guiminha e Carlo Emílio) e netos (Leonardo e Rafael) vestindo a camisa do Águas Virtuosas, em viagem a Orlando (EUA)
A letra da Canção do Águas Virtuosas Futebol Clube
CANÇÃO DO ÁGUAS VIRTUOSAS FUTEBOL CLUBE J. R. de Almeida Neto Maria Letícia Carvalho |
1
VAMOS TODOS CORRENDO AO GRAMADO
VER O ÁGUAS PINGAR DE SUOR
LEMBRANDO SEU NOBRE PASSADO
NA CERTEZA DE SER O MELHOR
ESSE TIME QUE LANÇA CENTELHAS
INCENDEIA QUALQUER CORAÇÃO
QUANDO VESTE A CAMISA VERMELHA
FAZ VIBRAR IMORTAL TRADIÇÃO
Coro
NOSSO CANTO PRESENTE AO SAUDAR-TE
VALENTE E FELIZ CINQUENTÃO
SEJA SEMPRE UM SONORO ESTANDARTE
CLAMANDO O GENIAL CAMPEÃO
2
MARQUES SEMPRE A PRESENÇA DO FORTE
SOB O TETO DE ANIL DESTES CÉUS
NAS RENHIDAS BATALHAS DO ESPORTE
NAS CONQUISTAS DOS NOSSOS TROFÉUS
NESTE DIA, MAIS UMA VITÓRIA
ORNAMENTE TEU GRANDE VALOR
MAIS UM ANO COMPLETAS DE GLÓRIA
VIVA O ÁGUAS! LEAL LUTADOR!
Abaixo, letra e cifra da Canção do Águas Virtuosas Futebol Clube
Bruno Camarcio é casado com Ju e pai de Amanda e Ana Clara. Engenheiro e músico. Mora em Brasília.
Capa do CD (pra saber), de Bruno Camarcio, lançado em 2012
Bruno Camarcio já participou do site GUIMAGUINHAS, quando musicou Eu olho pra você, uma "composição" de meus netos Leonardo & Rafael, caso que já contamos aqui.
O hino do Águas Virtuosas ao piano
Veja este post aqui
Conheça também a versão do hino do Águas Virtuosas ao piano, na interpretação de Dayse Alencar Rodrigues, e na voz de seus pais Maria Décia e Wilton.
Ilustração: Luiz Paulo & Eduardo - Os Mineirinhos - foto da dupla - Capa CD lançado em 2000
No final dos anos 1980, dois jovens, oriundos do Sul de Minas Gerais, afinaram a viola, soltaram a voz e puseram o pé na estrada, à busca de um lugar no cenário do sertanejo nacional.
Era o começo tão parecido de tantas duplas pelo Brasil afora..
E assim também foi o começo da história que escreveram dois moços de Lambari, MG.
Vamos lá.
Não se faz uma dupla boa sem um bom nome
Os irmãos José Laércio Ferreira e Valdecir Fernandes Ferreira pensaram num primeiro nome para a dupla, o nome natural: Laércio e Valdecir. Não soava bem, não ornava um com o outro, como se diz aqui pela região do Lambari. Isso não dá nome de dupla.
Então, buscaram inspiração numa dupla afinada — no nome e no talento: Leandro e Leonardo. Daí, associando os nomes de dois sobrinhos, é que surgiu: Luiz Paulo & Eduardo - nome afinado, ornado, como pede a tradição sertaneja.
Nome escolhido, talento e vontade não faltavam. Era preciso agora mostrar o valor no palco, pois é lá que uma dupla de fato mostra seu valor. E o palco era modesto: bares, festas, pequenos rodeios no Sul das Gerais.
Era preciso dar um passo à frente, e a dupla seguiu para São José dos Campos, onde o cenário era mais concorrido, claro, mas também mais promissor. E aí surgiram novas oportunidades nas casas de show, nas boites, nos rodeios, nas feiras, como a famosa FAPIJA, de Jacareí, onde chegaram a tocar.
Reprodução: Logo da FAPIJA - Feira Agropecuária e Industrial de Jacareí (www.fapija.com.br)
E a dupla rodava pelo Vale do Paraíba afora...Trabalho não faltava, faltava mesmo era gravar... e estourar!
E em 1993, enfim, o primeiro disco. O lançamento se deu na Danceteria Casa Blanca, São José dos Campos, com a participação da Banda Sol Maior, Valdir do Piston, e Rony (Dupla Tony e Rony).
No Youtube está um vídeo desse lançamento. Confira Youtube
Ouça uma música deste disco:
Em 2000, veio o CD e o apelido OS MINEIRINHOS
O primeiro CD veio em 2000, e foi lançado no Programa do Ratinho. E o apresentador quando os chamou disse:
— Vamos receber agora dois mineirinhos, que vêm hoje mostrar aqui no programa o CD que acabaram de lançar.
E, a partir daí, a dupla começou a ser chamada de OS MINEIRINHOS.
Abaixo, a capa do CD:
Ouça uma música desse CD:
O grande sucesso não veio, mas valeu a jornada
Meados da Era Collor, e os valentes Mineirinhos se preparavam para um salto na carreira. Patrocínios confirmados, música nova, ensaios, ansiedade...Eles iam aparecer semanas sucessivas na TV. A primeira apresentação seria no Programa do Bolinha.
E a bomba estoura! Vem o impechment! Inflação descontrolada. Era a crise. E a crise abortou o sonho dos Mineirinhos!
Vinte e cinco anos de luta, de pé na estrada, de shows e viagens cansativas. E resolveram dar um tempo. A longa jornada em busca do sucesso, para eles, chegara ao fim. Mas a viagem valera, e muito!
De volta ao Sul de Minas, continuaram se apresentando em show e rodeios.
Ainda hoje, Eduardo Mineirinho faz apresentações. Quem quiser contratá-lo, ele está no Facebook, veja aqui:
Ilustração: Cassino de Lambari, detalhes da fachada. Fonte: Site IEPHA/MG
Sobre o nosso Cassino já publicamos diversos posts, como estes:
Neste post vamos comentar a reforma por que vem passando o Cassino de Lambari e sua destinação para instalação do Museu das Águas.
Confira.
As “águas virtuosas” desabrocharam a povoação que se fez sobre as propriedades terapêuticas de suas fontes. A partir de 1909, iniciou-se uma nova fase para a antiga Águas Virtuosas.
A Lambari atual tem sua origem em 1909, fruto do sonho visionário de um homem, e do apoio do Estado, que viu na pequena estância hidromineral o potencial para se tornar o maior complexo de lazer do país, uma “Vichy” brasileira em nada inferior aos balneários europeus. O símbolo máximo deste sonho, o Cassino, imponente edifício que impressiona ainda hoje pela grandiosidade e beleza de suas linhas, domina a paisagem da pequena cidade. Este grandioso edifício, destinado a se tornar o maior templo da indústria de entretenimento do pais, símbolo da ousadia empreendedora do Dr. Américo Werneck, infelizmente não conheceu as glórias sonhadas. No entanto, resistindo ás intempéries políticas e contendas humanas, chegou até nossos dias ainda em sua arrogante magnitude merecendo do povo mineiro o seu reconhecimento como patrimônio cultural do Estado.
Carlos Henrique Rangel (Historiador)
Transformar a acanhada Vila de Águas Virtuosas numa estância hidromineral moderna, capaz de concorrer com as melhores da Europa — o sonho de Américo Werneck foi longamente visionado por mais de 20 anos.
De fato, desde que chegara a Águas Virtuosas de Lambary, em 1889, começou a devanear essa possibilidade. E nos anos seguintes, empregou todos os seus recursos — o gênio criador, a formação técnica, a atividade parlamentar, os contatos políticos, o trânsito no mundo das letras, o relacionamento com a imprensa — na realização da maior de suas fantasias.
O sonho começou a ser realizado quando, com o apoio político e financeiro do Governo de Minas, nas figuras de Wenceslau Braz e Bueno Brandão [presidentes do Estado em 1909/10 e em 1908/09 e /1910/14, respectivamente], contratou a empresa carioca Poley & Ferreira para projetar as edificações e melhorias, transformando a vila modesta, por cerca de 2 anos, num formidável canteiro de obras.
Parte desses projetos foram inaugurados em 24 de abril de 1911, e entre eles a joia do conjunto imaginado por Werneck - o Cassino.
Com linhas arquitetônicas de um gosto apurado, de estilo barroco e neoclássico, o prédio ocupa uma área de 2.800 m2 e situa-se defronte a um lago artificial, que era iluminado por um farol e oferecia aos turistas legítimas gôndolas de Veneza para passeios.
Cassino é palavra originária do italiano casinó, com o mesmo significado: Casa ou lugar de reunião para jogos de azar, geralmente com espetáculos de música e dança.
Frontão da fachada principal do Cassino de Lambari (Reprodução: estilonacional.com.br)
Era isso que se esperava fosse o nosso Cassino do Lago, a mais bela obra de todo o conjunto arquitetônico e paisagístico pensado e construído por Américo Werneck.
Mas assim não se deu. Na verdade, no cassino de Lambari, os caça-níqueis, as roletas e as mesas de apostas só funcionaram na noite da inauguração, e assim mesmo de forma parcial, visto que havia equipamentos de jogos e diversões ainda incompletos e/ou não instalados, e problemas na iluminação do imóvel. E foi nesse estado que a obra foi inaugurada em 24 abril de 1911.
Pouco mais de um ano depois, isto é, em 16 de maio de 1912, quando Werneck arrendou ao Governo de Minas a estância de Águas Virtuosas, as obras e instalações do cassino ainda não tinham sido concluídas. E, a partir de 27 de junho de 1913, data em que teve início a discussão judicial do contrato de arrendamento citado, nada mais se fez nas décadas seguintes para completar o projeto original.
Retomado em 1922 pelo Governo do Estado, o prédio passou pelas mãos de órgãos estaduais e da municipalidade. Nesse tempo, sofreu diversas reformas, que descaracterizaram áreas internas, mas mantiveram a originalidade da fachada.
Atualmente, o prédio passa pela quinta reforma de sua história, uma reforma predial e restauração de seus interiores, e nele se pretende instalar o Museu das Águas. Confira:
Descrições do Cassino de Lambari
Veja algumas descrições do Cassino de Lambari:
Segundo o historiador Carlos Henrique Rangel [4], ao longo das décadas, o Cassino de Lambari passou por algumas reformas, a saber:
Mas permaneceu fechado até meados de 2024.
Transferência para a Prefeitura Municipal de Lambari
Como visto acima, após longa espera e demorada reforma, que atravessou dois governos, o Cassino de Lambari permaneceu fechado de 2019 a meados de 2024, sem que nenhuma finalidade apropriada lhe fosse dada.
Agora, junho de 2024, Cassino de Lambari foi oficialmente transferido à Prefeitura de Lambari.
Em junho de 2024, o Cassino foi oficialmente transferido para a Prefeitura de Lambari
Voltar
(*) Veja: O Cassino de Lambari e a homenagem ao sol - aqui
Diversos usos do Cassino de Lambari
Na sua longa vida de mais de 100 anos, o Cassino foi objeto de diversas ocupações e funções, a maioria fora do plano original, intercaladas por períodos de abandono e subutilização. Entre os usos dados a ele, podemos citar:
A todo esse descaso, deve-se juntar também um incêndio ocorrido em 2000, num dos cômodos do andar térreo, que consumiu inúmeros livros ali guardados. Felizmente, o incêndio foi contido e não houve maiores danos ao imóvel. (Veja aqui)
O conjunto arquitetônico e paisagístico do Cassino
O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Cassino de Lambari compreende o Lago Guanabara, o Farol e o Parque Wenceslau Braz.
Atualmente o prédio do Cassino é tombado como Patrimônio Histórico e Cultural pelo município (Decreto 1.059/2000) e pelo IEPHA-MG (Conselho Curador do IEPHA/MG em 14 de agosto de 2002).
Confira: Site do IEPHA-MG - Tombamento do Cassino - aqui
O Cassino no Guia de Bens Tombados do IEPHA/MG
O volume 2 do Guia de Bens Tombados, do IEPHA/MG, traz um belo texto de Ailton Santana sobre o nosso Cassino.
Confira nas págs. 129-32, neste link aqui
Reprodução: texto sobre o Cassino de Lambari, no Guia de Bens Tombado, vol. 2, do IEPHA/MG
Gustavo Barroso, professor, ensaísta e romancista, membro da Academia Brasileira de Letras, autor de mais de 120 livros de história, folclore, ficção, biografias, memórias, política, arqueologia, museologia, economia, crítica e ensaios, além de dicionário e poesia, frequentou Lambari durante décadas e aqui possuía o Retiro do Lago — sua casa de veraneio, a qual visitava 8 temporadas por ano.
Pois bem, em 1952, Barroso dirigiu carta ao então Governador de Minas, Juscelino Kubitschek, propondo a transformação do Cassino de Lambari em um Museu Folclórico, e oferecendo ajuda para tal desiderato.
Recorde-se que o conhecido museólogo possuía capacidade técnica e gerencial para auxiliar na concepção e execução do projeto, visto tanto seus estudos, ensaios, assessoria e prática na área de história, museologia e folclore, como sua experiência como fundador e diretor do Museu Histórico Nacional. Veja aqui
Confira esta carta na íntegra:
Cópia datilografada - Reprodução. Fonte: Acervo Gustavo Barroso
Rascunho manuscrito - Reprodução. Fonte: Acervo Gustavo Barroso
Veja aqui o projeto do Museu das Águas, que deveria ter sido implantado no Cassino de Lambari, mas que não vingou, infelizmente.
Outros textos e referências sobre o Cassino de Lambari