Ilustração: Capa do livro de Benício Chaves: Água de Lambary. Lambary, MG : Pinto & Cia., 1932
Benício Chaves, médico paraense formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, por mais de 30 anos clinicou em Lambari, nas primeiras décadas dos anos 1900.
Estudioso da crenoterapia [tratamento com águas minerais], escreveu um livro sobre as propriedades curativas de nossas águas (v. abaixo). Coube a ele também, no início dos anos 1900, lançar a campanha para a captação e separação das fontes das águas de Lambary.
O Hospital e Asilo São Vicente de Paulo foi fundado por sua iniciativa, tendo sido também Benício Chaves quem orientou a construção e presidiu a comissão encarregada da edificação dessa instituição, que há um século serve à comunidade lambariense.
Benício Chaves faleceu no Rio de Janeiro, em 1943. Abaixo, um pouco da história desse grande benemérito de Águas Virtuosas de Lambary.
Dr. Benício Chaves passeia com a amiga Zulmira Silvestrini, no centro da cidade do Rio de Janeiro, anos 1930.
Uma pequena biografia de Benício Rodrigues Chaves consta do livro Ruas de Lambari, de José Nicolau Mileo. Confira:
Livro sobre as Águas de Lambary
O livro Águas de Lambary, de Benício Chaves, editado em 1914 e reeditado em 1932, trata-se de um pequeno relato médico da ação, indicações e contraindicações das águas minerais de nossa terra.
O texto faz referências às primeiras pesquisas médicas acerca das propriedades das águas de Lambary, efetuadas em 1877 pelos médicos Agostinho José de Souza e Ezequiel Correia dos Santos, e bem assim os resultados das observações que ele próprio realizou durante 5 anos.
Por essa época, as fontes hoje existentes jorravam de um só poço, e foi Chaves quem iniciou a campanha para as obras de captação e separação das águas, que, encampada por diversas personalidades políticas da época, sensibilizou o Governo de Francisco Salles. Então, em 1905, o engenheiro Benjamin Jacob foi designado para a realização das obras (veja aqui).
Após isso, uma amostra da fonte número 1 foi mandada à Europa para análise, realizada pelo célebre químico H. Pellet.
Discorre o dr. Chaves também sobre os poderes acocítico, anagocítico e anagotóxico das águas minerais, e informa que o emprego de nossas águas em injeções intramusculares foi iniciado por Vital Brasil, o famoso cientista filho de Campanha (MG)., secundado pelos médicos José Nicolau Mileo (aqui) e José dos Santos (aqui). Essa técnica foi posteriormente utilizada pelos médicos João Lisboa Júnior (que também escreveu um livro sobre as propriedades das águas de Lambari - aqui), Ismael Gesualdi (aqui) e José Benedito Rodrigues (aqui)
Acerca do poder filático de nossas águas, diz Benício Chaves à pág. 26 do livro citado:
a propriedade que tem as águas mineraes de evitar a anaphylaxia, ou de modifical-a, produzindo uma defeza aguda no organismo, tornando nulla a ação das toxinas, é que se deu o nome de poder phylático. [Mantida a grafia da época]
Refere também Benício Chaves algumas experimentações feitas pelo Dr. Vital Brasil, em Lambari, acerca das propriedades da água mineral no combate às toxinas do veneno da cascavel. Sobre isso, Chaves publica uma correspondência do cientista, datada de 19 de fevereiro de 1932, na qual Vital Brasil relata experiências que fizera, por "curiosidade científica", sem ter chegado a conclusões definitivas.
Eis um trecho dessa correspondência:
Conteúdo do livro de Benício Chaves
A fundação do Asilo e Hospital São Vicente de Paulo
Benício Chaves teve destacado papel na construção do Asilo e Hospital São Vicente de Paulo.
Formação da Comissão Organizadora da construção do Hospital:
Correio Paulistano - 15, jun, 1913 (bn.digital.gov.br)
Na construção dessa obra, Benício Chaves teve grande apoio do então prefeito Antônio Pimentel Júnior, como se vê a seguir:
Outra informação importante se refere a Juvêncio Assis Toledo, que dá nome a uma das travessas da cidade. Carpinteiro e construção, Assis Toledo foi o responsável pela construção e direção da obra do nosso hospital, tendo feito isso graciosamente, a título de colaboração.
Referência: MILEO, 1970, págs. 38, 39 e 67
O Dr. Duarte do Rego Monteiro, que juntamente com João Bráulio Júnior fundara em nossa cidade, em 1894, o Instituto Cirúrgico e Ginecológico, doou ao Hospital São Vicente, quando do fechamento daquele instituto, os equipamentos cirúrgicos da clínica que dirigira por anos.
Confira:
Reprodução. Jornal do Comércio, 4, out, 1953 (bn.digital.gov.br)
Como se recorda, o Instituto Cirúrgico Ginecológico tratava-se de um serviço de assistência médico-cirúrgica, fundado pelos médicos Dr. Duarte Peres Rêgo Monteiro e Dr. João Bráulio Júnior, este, também, renomado crenólogo e político.
Tal instituto funcionou até as primeiras décadas dos anos 1900 em antigo prédio onde se instalaria, mais tarde, o Hotel América.
A rigor, foi nosso primeiro hospital.
O Dr. Benício Chaves deu nome a uma das ruas de Lambari, localizada nas proximidades do antigo campo do Águas Virtuosas F. C.
Veja no Google/Street View (aqui)
Ilustração: Recorte jornal O Sul-Mineiro Esportivo, de Varginha (MG) - Edição 25/07/1941
Em 1941, o Águas Virtuosas Futebol Clube participou de um torneio regional, promovido pela Liga de Futebol de Varginha (LFV), em disputa da Taça Guaraína.
Tratava-se de um torneio renomado, disputado pelas mais importantes cidades da região Sul-mineira, que se dividia em duas zonas: Sapucaí e Rio Verde. Confira:
Infelizmente, não temos registros de todo o torneio, somente de seu início e das primeiras partidas do Águas Virtuosas e do Olímpica de Lavras, que perderam os pontos ganhos em campo por decisão da Liga de Futebol de Varginha.
Mesmo assim, vamos à história, que contaremos em duas etapas.
Guaraína, patrocinadora do evento
Guaraína, produto do laboratório Raul Leite, que patrocinou a Taça Guaraína, em 1941
Regulamento do torneio e diploma de inscrição do Águas Virtuosas
Atletas do Águas Virtuosas inscritos no torneio
Preparativos de um jogo do Águas Virtuosas, em Lambari - Taça Guaraína 1941. A camisa do Águas era branca com listras vermelhas na vertical.
O Águas vence, mas perde os pontos
O Águas venceu sua primeira partida, disputada em Lambari, em 27 de julho de 1941, contra a agremiação da AVEA (Associação Varginhense de Esportes Athleticos), de Varginha, por 3 a 1. Mas a Liga de Futebol de Varginha (LFV) cassou-lhe os pontos, em face da suspeita levantada pela AVEA de que o Águas Virtuosas escalara alguns atletas que "residiriam em Cambuquira e não em Lambari". Argumentava a AVEA que as normas desportivas do torneio exigiam que os atletas residissem na cidade do clube.
Assim, a LFV cassou os dois pontos do Águas Virtuosas, dando-os ao AVEA, não obstante a petição desse clube fosse no sentido da realização de uma nova partida.
Essa história vamos contar na 2a. parte deste post. Aguardem.
(*) Caro(a) visitante,
Nosso objetivo é compartilhar informações, histórias e fotos de nossa cidade, com vista à preservação de sua memória. Assim, se você tiver notícias, informações, fotos das pessoas ou famílias aqui mencionadas, ou quiser fazer alguma correção ou complementação ao texto aqui publicado, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Dois registros de nossos antigos carnavais:
Veja a seguir:
Carnaval de 1948
O Globo, de 4/02/1948, noticiava que as estâncias do Sul de Minas estavam superlotadas no Carnaval daquele ano
Carnaval de 1962
O Globo, de 17/02/1962
Nenê Nascimento, em evento na Boite Imperial. Atrás: Vadinho Biaso, Marluce Krauss, José Capistrano, Virgilinho Ribeiro e Sílvio Barros
Sambistas, Boite Imperial, anos 1960
Orquestra Casino de Sevilla
A orquestra Casino de Sevilla está em atividade até hoje. Confira este vídeo do Youtube: (aqui)
Referências: Jornal O Globo, edições de 4/02/1948 e 17/02/1962
Abaixo, uma pequena história em fotos de jogadores que atuaram pelo Águas Virtuosas vindos de times juvenis, alguns do próprio Águas e outros de times de Lambari ou da região sul-mineira.
Confira.
Time do Verde, anos 1960: Walmando, Betinho e Celso Raimundi. Os dois primeiros jogaram no time profissional do Águas, dos anos 1960
Peladeiros na antigo campo da GRABI. Da foto, Rubinho e Edson (quarto e quinto, em pé, da direita para a esquerda) e Toninho e Nego (quarto e quinto, agachados, da direita para a esquerda) passaram pelo time do Águas.
Egberto (Véio), da direita para esquerda, segundo agachado, no time juvenil do Flamengo de Varginha, anos 1960. O terceiro em pé, ao lado do goleiro, é Paulo Favaro.
Juvenil do Águas, 1968. Guima, Vaca e Celinho (em pé) e Xepinha, Roberto, Pedro Guela e Rubens Nélson jogaram no time do Águas nos anos 1970.
Time de Olímpio Noronha, anos 1960: ainda jovens, Tatá (último em pé à direita) e Chiquinho e Serginho Barletta (segundo e quarto, agachados, da esquerda para direita) atuaram pelo Águas nos anos 1970.
Time do Ginásio de Lambari, anos 1960. Joel (goleiro) atuou pelo Águas nos anos 1970.
Time do Ginásio de Lambari, anos 1960. Bodinho, Aluísio Becão e Fausto (terceiro, quinto e oitavo, em pé, da esquerda para a direita) e Nego e Edson (segundo e quinto, agachados, da direita para a esquerda).
Mirim do Águas, anos 1960. Celinho e Décio (quarto e quinto, em pé, da direita para esquerda) e Xepinha, Rubens Nélson e Roberto (terceiro, quarto e quinto, agachados, da direita para a esquerda) jogaram no Águas dos anos 1970
Site Prefeitura Municipal de Olímpio Noronha
Ilustração: Pelotão de Saúde do Grupo João Bráulio, em 1942
Neste post, trazemos notícia de um artigo acadêmico elaborado por Lúcio de Franciscis dos Reis Piedade Filho acerca de um interessante fato histórico envolvendo o nosso Grupo João Bráulio: a criação de um Pelotão de Saúde, denominado Oswaldo Cruz, formado no âmbito de um cruzada higienista proposta pelo Governo Vargas, nos anos 1940.
Abaixo vai um pequeno resumo do trabalho, intitulado Asseados e Valorosos: O Pelotão de Saúde Oswaldo Cruz e sua Cruzada Higienista, cujo texto integral pode ser examinado (aqui)
O Pelotão de Saúde Oswaldo Cruz
Fonte: Autor e trabalho citados acima
Terezinha Brigagão, à época em que foi Coordenadora do Pelotão de Saúde
Mafalda Maria Teodoro, ex-aluna e ex-professora do Grupo Escolar Dr. João Bráulio Júnior, estudou na escola em fins da década de 1950 e recordou-se do Pelotão de Saúde. Segundo ela, para participar da organização era escolhido um grupo de crianças da quarta série. Esses alunos, então, ficavam encarregados de guardar a caixa de remédios do Pelotão, que era branca com uma cruz vermelha. No recipiente havia iodo, mertiolato, água oxigenada, entre outros medicamentos que eram usados caso alguma criança se machucasse. O Pelotão era sempre orientado por uma professora, que recebia instrução para tal fim. Mafalda Maria Teodoro compartilha com muitos outros lambarienses a memória de educadoras que faziam parte do quadro de funcionários da instituição no ano de 1957, como Alzira Pinto, Francisca Chagas, Sílvia Grandinetti, Maria de Lourdes Lisboa, Maria José Gama e Terezinha Machado Brigagão, muitas delas coordenadoras do Pelotão de Saúde.
Entrevista com Mafalda Maria Teodoro, concedida a Lúcio De Franciscis dos Reis Piedade Filho em 2009.
PIEDADE FILHO, Lúcio de Franciscis dos. Asseados e Valorosos: O Pelotão de Saúde Oswaldo Cruz e sua Cruzada Higienista [Artigo]. Temporalidades – Revista Discente do Programa de Pós-graduação em História da UFMG, vol. 1, n.º 2, ago./dez. 2009.