O Dr. Américo Werneck é um dos nosso mais operosos polygraphos. Si já escreveu trabalhos austeros sobre finanças, sobre agricultura, sobre educação, já publicou também novellas e romances. De todos os seus livros, o mais célebre é A arte de educar os filhos.
MEDEIROS E ALBUQUERQUE, escritor, professor e político.
Os lambarienses reconhecem em Américo Werneck o
artífice de Lambari, emérito engenheiro que iniciou as obras de remodelação da antiga Águas Virtuosas,
como o descreveu o memorialista Armindo Martins. (1)
Neste post vamos examinar uma sua face pouco divulgada — a de escritor. Vamos lá.
Américo Werneck, engenheiro de formação, foi fazendeiro, político e empresário. E foi também jornalista e escritor; deixou romances, alguns inspirados na vida pessoal, e opúsculos sobre agricultura, política e comércio. E, ainda, publicou livros sobre questões jurídicas, sociais, constitucionais, tributárias, financeiras, educacionais e históricas. Traduziu, também, Hamlet, de Shakespeare. [2]
Republicano e abolicionista, ocupou importantes cargos públicos (deputado, secretário de Estado, prefeito).
Nesta série sobre os livros de Werneck, vamos comentar alguns aspectos de sua vida de publicista e de seus principais livros, da seguinte forma:
No livro Um punhado de verdades (Rio de Janeiro : A. Gomes Pereira & C., Editores, 1923), consta a seguinte relação das obras literárias de Américo Werneck:
No site Literatura Digital, mantido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), aparece esta lista de obras de Américo Werneck:
As obras A conjuração mineira e Romance brasileiro foram publicadas em folhetins. A primeira, na Gazeta Sul-Mineira, de São Gonçalo do Sapucaí (MG), no período de 11/10/1885 a 14/02/1886, sem que tivesse sido concluída. A segunda, no Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro, no ano de 1898. Esse folhetim, provavelmente, trata-se do embrião do romance Graciema, que, depois de refundido, foi lançado em livro em 1898 (1a. edição).
E também o romance Morena, antes de aparecer em livro, foi publicado na forma de folhetim, nas páginas da Gazeta Sul-Mineira, no período de 15/08/1886 a 17/04/1886. [3]
NOTAS
Publicou artigos na Gazeta Sul Mineira, fundada pelo Partido Republicano em São Gonçalo do Sapucaí (MG), e também artigos na Gazeta de Petrópolis, e bem assim colaborou em importantes jornais como Gazeta de Notícias, O Paiz, Jornal do Commércio e A Época. (Fonte: Dados biográficos de Américo Werneck. CPDOC/FGV - Luciana Pinheiro).
Graciema e Juracy trata-se de uma primitiva edição do livro Graciema, "em quatro volumes detestáveis, de estylo indeciso e incorrecto", confessaria Werneck mais tarde, em nota ao livro Judith. (6)
Werneck informa ter escrito e publicado Graciema e Juracy ainda muito jovem, dominado "pela impaciência da estreia". Assim, refundiu completamente o livro e dele aproveitou apenas "a metade do título e umas 12 páginas" para lançar a primeira edição de Graciema, em 1898. (6)
Em 1920, aparece uma outra edição de Graciema, em 2 volumes, pela Editora Typographia Leuzinger, do Rio de Janeiro.
José de Alencar - o seu mestre literário
Eugênio Werneck assim se refere ao escritor Américo Werneck:
Fonte: Antologia Brasileira (7)
Foi no livro Judith (8) que Werneck apontou José de Alencar como sendo seu mestre literário. Eis o texto:
E essa influência vai bem transparecer no romance Graciema e Juracy. De fato, no jornal GAZETINHA, edição de 11 de junho de 1882, diz o o redator da coluna Bibliotheca da Gazetinha, num comentário ao citado romance:
Onde estão os livros de Werneck?
O nome de Américo Werneck, como escritor, desapareceu, e suas obras, sem reedições, caíram no esquecimento.
NELSON WERNECK SODRÉ (9)
Sabe-se que parte de seus livros e textos Werneck escreveu no recolhimento de sua propriedade em Lambari — a Fazenda dos Pinheiros, onde viveu com sua família, a espaços de tempo, no final dos anos 1800, início dos 1900. A sede dessa fazenda — o Casarão, como é chamada — ainda existe, mas não guarda nenhum livro ou outra recordação dessa atividade do escritor. (10)
No Museu Américo Werneck, em Lambari, podem ser encontrados alguns livros, pois me lembro da dedicação do Nascime Bacha à cata das obras de Werneck. Assim, com certeza, pelos menos os seguintes títulos encontram-se no acervo do museu: Graciema, Judith, Lucrécia, Um Punhado de Verdades e Marido e Amante.
No Arquivo Público Mineiro, podem ser encontradas estas obras de Werneck:
Seus livros hoje são raridades, mas alguns deles podem ser encontrados em sebos brasileiros. Na Estante Virtual — um sebo eletrônico —, os livros abaixo estavam à venda na data deste post:
No Google Books, encontram-se referências a estes outros livros:
Referências
Ilustração: Recorte capa vol. 5 - OBRAS COMPLETAS DE RUI BARBOSA (Questão Minas x Werneck)
Sumário
Já comentamos no GUIMAGUINHAS sobre a Questão Minas X Werneck, expressão por que ficou conhecido o processo sobre pagamento de perdas e danos relativo a rescisão do contrato de arrendamento da Estância Hidromineral de Águas Virtuosas (aqui).
E retornamos hoje ao tema, para acrescentar alguns novos aspectos. Vamos lá.
Um dos mais célebres processos do STF
Como se sabe, a Questão Minas X Werneck foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nos anos 1910, e se tornou um dos mais célebres processos daquela Corte no início do Século XX, em razão dos grandes juristas que participaram da discussão, especialmente Rui Barbosa.
De fato, Alberto Venancio Filho, advogado, jurista, professor, historiador, em palestra proferida no STF no dia 28 de outubro de 2008, na qual comentou as atividades do Supremo nos seus 30 primeiros anos de existência (entre os anos 1890/1920, na República Velha), assim se referiu a Rui Barbosa:
A história do Supremo Tribunal Federal está indissoluvelmente ligada à atuação de Rui Barbosa desde o habeas corpus de 1892 até as questões da década de 1920.
Em sua fala, Venancio Filho destacou as causas mais expressivas examinadas pelo Tribunal naquele período, e entre elas pôs a Questão Minas X Werneck:
Questão de relevância teve o Supremo ao decidir matéria de arbitramento. Américo Werneck contratou, com o Estado de Minas Gerais, a exploração por noventa anos da Estância Hidromineral de Lambari. Logo no início do contrato, surgiram divergências, e Werneck ingressou com ação por inadimplemento culposo. No curso da ação, as partes decidiram submeter a questão à arbitragem (...) O laudo concluiu que Werneck tinha direito à indenização. Inconformado com a decisão, o Estado de Minas contratou Rui Barbosa para apresentar a apelação ao Supremo.
Curiosamente, em questão anterior em que representara o Estado de Minas em questão contra o Espírito Santo, defendia ele que não era possível apelação no caso de arbitragem, mas sim pedido de anulação. O fato foi explorado pelo advogado de Werneck, Rodrigo Otávio, e Rui teve de reconhecer a incoerência. No pedido estava o fato de que os árbitros excederam os seus poderes. Mas o Supremo, restringindo o exame da matéria, denegou o pedido, Relator Pedro Lessa, julgando que não houvera excesso dos árbitros. (1)
Os juristas que participaram do processo
Os principais juristas que participaram Questão Minas X Werneck foram: Rui Barbosa, advogado de Minas Gerais; Rodrigo Octávio, advogado de Werneck; Edmundo Lins, árbitro indicado pelo Governo de Minas; J. X. de Carvalho Mendonça, árbitro de Werneck; e Heitor de Souza, subprocurador-geral do Estado de MG.
Sobre Rui Barbosa, o mais famoso deles, podem-se examinar os volumes IV e IV de suas Obras Completas (4).
Quanto a Rodrigo Octávio, advogado, membro da Academia Brasileira de Letras e depois Ministro do STF, vejam-se as informações que resumimos (aqui).
Já Edmundo Lins, advogado, escritor e Ministro do STF (1917-1931), além da participação nesse processo de Werneck, está ligado a Lambari por outras questões. De fato, seu nome foi dado a uma de nossas praças — a Praça Dr. Edmundo Lins (Veja aqui):
numa homenagem ao grande cultor do Direito e da Justiça, e externa, também, apreço e estima da cidade ao seu ilustre filho, Ministro Dr. Ivan Lins, cidadão honorário de Lambari e grande amigo de seu povo e de suas águas. (2)
Registre-se, também, a participação de Heitor de Souza, subprocurador -geral do Estado de Minas Gerais nessa questão, posteriormente Ministro do STF, e autor do livro JUIZO ARBITRAL, de 1915, importante obra para conhecimento da Questão Minas x Werneck.
Dedicatória de Heitor de Souza a Edmundo Lins
E, por fim, J. X. de Carvalho Mendonça, advogado de grande saber jurídico, jurisconsulto, professor e autor de dezenas de obras jurídicas e de uma tratado clássico sobre Direito Comercial. Curiosamente, José Xavier de Carvalho Mendonça está também ligado a Lambari. Sua filha Maria José casou-se com Dr. Gabriel Carvalho, que morou em Lambari e foi proprietário rural no município. O filho do casal Maria José e Gabriel — Henrique Carvalho —, há muitos anos instalado em Lambari como fazendeiro e cafeicultor, vem a ser neto de J. X. de Carvalho Mendonça.
A indenização recebida por Werneck
Como se recorda, Werneck arrendou a Estância de Águas Virtuosas em 16 de maio de 1912, pelo prazo de 90 anos, e pediu a rescisão do arrendamento em 29 julho de 1913, em razão de dificuldades criadas por agentes do Estado de Minas na execução do contrato. A questão se arrastou por toda a década de 1910 até início da década de 1920, quando, em 1921, no governo de Artur Bernardes (1918-1922), a Assembleia Legislativa de Minas Gerais reconheceu a dívida e o pagamento foi efetuado.
O escritor e historiador Nelson Werneck Sodré, sobrinho-neto de Américo Werneck (sua avó materna era irmã de Werneck), informa o seguinte sobre essa indenização:
Werneck pleiteou e alcançou do Estado de Minas Gerais indenização vultosa para a época. (...) O dinheiro da indenização foi colocado, depois, na indústria Alba, pioneira, entre nós, na produção de material esmaltado. (3)
Propaganda de produtos das Indústrias Alba, divulgada em jornal do Rio de Janeiro, nos anos 1920
Cabeçalho de papel de carta das Indústrias Alba (anos 1920)
1 - VENÂNCIO FILHO, Alberto. Juízes e Tribunais – Perspectivas da História da Justiça no Brasil – O STF na República Velha. [Palestra]. Disponível em: http://www.direitopublico.idp.edu.br/index.php/direitopublico/article/viewFile/1115/1133.
2 - MILEO, José Nicolau. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1a. edição, 1970, p. 39.
3 - SODRÉ, Nelson Werneck. Memórias de um escritor [Vol. 1 - Formação]. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1970, págs. 6/7
4 - BARBOSA, Rui. Questão Minas X Werneck. Obras Completas de Rui Barbosa. Volume XLV 1918 – Tomo IV e V. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980.
Na Biblioteca Digital disponível no site do Supremo Tribunal Federal (STF), podem ser examinados as obras de Rui Barbosa que tratam da Questão Minas X Werneck.
- Vol. 4 -
https://bibliotecadigital.stf.jus.br/xmlui/handle/123456789/147
- Vol. 5 -
https://bibliotecadigital.stf.jus.br/xmlui/handle/123456789/145
A poesia — esse camaleão miúdo.../ É ela que empresta, ou mais que até secreta, / Uma linguagem nova a tudo.
Macchado Sobrinho, trecho do poema "Meio Ambiente" (*)
Lambari sempre inspirou seus poetas, e também poetas de outras terras, que aqui se enamoraram de suas águas, de suas belezas naturais, de seu povo, das obras de Werneck.
Neste post, vão alguns textos sobre nossa cidade.
Foto de abertura: parede lateral do Supermercados GF Palace, em Lambari, MG, ilustrada com texto/poema de duas poetas da terrinha: Henriqueta Lisboa e Sônia Gorgulho.
CIDADE DAS ÁGUAS VIRTUOSAS
Este vale tão querido
do rio dos lambaris
merece ser povoado
de gente boa e feliz.
No início, uma capela
e umas casas apenas
depois vieram muitas outras
ora grandes, ora pequenas.
Lambari das Águas Virtuosas
nossa cidade se chamou.
Lambari acolhe festiva
o viajeiro que aqui vier
com hospitalidade espontânea
de alma menina-mulher.
E as águas embalam sonhos
e os sonhos geram sorrisos,
e a cidade floresce,
a juventude se anima
e todos seguem cantando:
Lambari é uma canção.
Sônia Gorgulho, poeta, mestra de português de gerações de lambarienses, a minha, inclusive.
POEMAS
Nas quatro ou cinco ruas
Lambari se esconde entre
as montanhas no sul de Minas
onde encontro Henriqueta Lisboa
a passear poemas em volta do lago
diante do cassino amarelo
uma bicicleta invisível
pedal do universo
num poema.
Alvaro Alves de Faria. Babel - 50 poemas inspirados na escultura Torre de Babel, de Valdir Rocha. Editora Escrituras, SP, 2007 (aqui)
À SOMBRA DO CASSINO
José Carlos Brandão - http://poesiacronica.blogspot.com.br/2011/06/o-cassino-de-lambari.html
O menino poeta/não sei onde está.
Procuro daqui/procuro de lá./...
Mas onde andará/que ainda não o vi?/
Nas águas de Lambari,/nos reinos do Canadá?
(HENRIQUETA LISBOA. O Menino Poeta)
(*) Esse poema faz parte do livro Os Prós & Os Contras, de Macchado Sobrinho, poeta de Lambari. Veja este post (aqui).
Já falamos algumas vezes sobre as animadas noites lambarienses de antigamente. Veja abaixo os posts publicados (aqui).
Quer se tratasse de uma orquestra famosa, de um conjunto local ou de uma seleção de discos — as boates de Lambari — e assim também o Cassino do Lago — foram palcos de noites elegantes e saudosas.
Hoje voltamos ao tema, com fotos dos anos 1960.
Geraldo Machado e seu conjunto animaram muitas noites dançantes no Cassino das Fontes
Jurandir Mayer (Alemão), Hélio Nascimento e suas parceiras em elegante baile de formatura
Jandira Adami e Marluce Krauss dançam, respectivamente, com Nenê Nascimento e Dr. Toninho Ferreira, no Cassino das Fontes (1961)
Aguinhas elegante (1) - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37423
Aguinhas elegante (2) - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38294
Aguinhas elegante (3) - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38608
Aguinhas elegante (4) -http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=39206
Abaixo vai o time de Nova Baden, em foto de 1978. A seguir, o time da Vila Nova, em pose dos anos 1980.
Desse time da Vila Nova, alguns jogadores, mais tarde, também atuaram no Águas, como é o caso de Elias, Paulinho, Israel e Joãozinho.
Em pé: Joaquim, Serginho, Zicão, Eraldo, Paulinho, Elias e Braizinho. Agachados: Chevrolet, Joãozinho, Israel, Paulinho e Lobinho.
Em pé: Egídio, Vaca, João Boneco, João Marciano, Celinho, Tião Guanabra e Heraldo. Agachados: Marquinhos, Paulinho Benício, Hélio, Carlinhos, Noel e Jorge.
Na ilustração de abertura: Carlinhos, Noel e Jorge.
Veja também estas outras fotos do time da Vila Nova: aqui e aqui
Agradecemos a colaboração de Jorge Donizetti Borges.
(*) Se você, caro(a) visitante, tiver notícias, informações, casos e fotos dessa época, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com