Ilustração: Antigo e raro bóton* do Águas Virtuosas Futebol Clube, pertencente ao sr. Manoel Marne Gonçalves
Dias atrás, eu calibrava os pneus do carro no Posto Gregatti e usava esta camisa branca do Águas Virtuosas:
(Sobre os uniformes do A.V.F. C., veja este post aqui)
De repente, um senhor alto, de óculos, que abastecia o carro, usando máscara e guardando distância, se aproximou, apontou o dedo para minha camisa, e disse:
— Lindo esse escudo do A.V.F.C em sua camisa!
— Sim, respondi, muito bonito.
— Pois eu possuo uma coisa rara do time do Águas Virtuosas. E não conheço ninguém que tenha outro igual.
— O que é? perguntei curioso.
— Um antigo bóton do Águas Virtuosas Futebol Clube.
— Que interessante, senhor! Como é mesmo o seu nome?
— Manoel, ele respondeu.
— Ah, sim. Eu sou autor de um site chamado GUIMAGUINHAS, que publica memórias de Águas Virtuosas de Lambari e do time do Águas, e gostaria de publicar uma foto desse bóton. O senhor tem como me enviar uma?
— Sim, claro, me passa seu telefone.
E foi desse rápido encontro que nasceu este post.
Vamos lá.
No dia seguinte, pelo WhatsApp, fez contato comigo a sra. Lílian Marne, filha do seu Manoel, encaminhando fotos do bóton do A.V.F.C., que postamos a seguir.
Esse raro bóton é um símbolo histórico que enche de orgulho o lambariense amante do futebol e do time do A.V.F.C., ao tempo que nos deixa o amargo sentimento de saber que as atividades do grande clube foram encerradas...
Juntamente com as fotos do bóton, Lílian Marne encaminhou fotos de medalha comemorativa dos 50 anos de fundação da Sociedade Esportiva Palmeiras (1914-1964), clube pelo qual Manoel Marne jogou hóquei sobre patins, como goleiro. Nessa posição, foi o primeiro atleta a defender uma equipe brasileira num jogo internacional.
Confira:
Pois bem, a partir daí pesquisei na internet sobre Manoel Marne Gonçalves e descobri que ele escrevera livros de contos e poesias, nos quais há referências à nossa Lambari — e dele também, pois é lambariense.
Como a pandemia dificulta encontros pessoais, novamente recorri a sua filha, que me passou outras informações sobre seu pai. Manoel nasceu em 27 de junho de 1933, tendo deixado a terra natal, com toda a família em 1946, e se fixado em São Paulo. Depois de aposentado (trabalhou na Light/Eletropaulo por 36 anos), veio fazer moradia novamente entre nós.
Por parte de pai, é neto de dona Bizica e João Gonçalves, o antigo dono da fazenda em que se situa a famosa cachoeira que leva seu nome.
A cachoeira do João Gonçalves. Tela de Olímpio Portela
Por parte de mãe, é neto de dona Olga e Júlio Augusto Pinto, proprietários do Hotel Central e ele também fundador e dono do Jornal Hidrópolis, que circulou em Lambari nas primeiras décadas dos anos 1900.
Recorde-se que Júlio Pinto era também músico e compôs o Hino de Lambari, cuja letra é de Bernardo Aroeira (veja aqui).
À direita, o antigo Hotel Central
Discreto quanto aos seus contos e versos, Manoel Marne tem como hobby a equitação, a literatura, a poesia e a música.
Em post futuro vamos falar sobre o escritor e poeta.
- Agradecemos ao sr. Manoel Marne Gonçalves e à sua filha Lílian Marne as informações e fotos utilizados neste post.
- Museu Américo Werneck (foto do Hotel Central)
- Dr. Ricardo Rambaldi Leite (tela de Olímpio Portela)
Ilustração: Rótulo da água mineral de Lambari, ao tempo da concessionária Superágua, do grupo Supergasbras. Anos 1980.
No post número 1 desta Série (aqui), vimos marcos e registros históricos de nossas águas minerais a partir de 1815 até os anos 1930.
Hoje veremos alguns outros mais.
Vamos lá.
Propaganda da Água Virtuosa (de Campanha). Reprodução. Correio Paulistano, SP, 13, set, 1883 (bn.digital.gov.br).
A propaganda mencionava algumas doenças que poderiam ser tratadas pelos efeitos curativos da água: inflamação, incômodos do estômago e da pele, etc.
Propaganda Água Virtuosa de Lambary. Reprodução. Jornal do Commercio, RJ, 16, abr 1893
O Formulário Farmacêutico, destinado aos hospitais e farmácias militares de todo o Brasil, recomendava, entre outras, o uso da água de Lambary. Reprodução. O Paiz, RJ, 4, set, 1901 (bn.digital.gov.br)
Reprodução. Revista Fon Fon n. 44, 8, fev, 1908. A propaganda destaca: as únicas naturalmente supergazeificadas
O famoso rótulo das Águas Virtuosas de Lambari, com as medalhas que recebeu. Anos 1930
Reprodução. Propaganda O Cruzeiro. Anos 1960 (bn.digital.gov.br)
Garrafa Água mineral de Lambari. Hidrominas. Anos 1960. Reprodução
Anos 1980. Rótulo Água mineral de Lambari. Superagua. Reprodução
Ilustração: Céu de Lambari. Recorte. Postal Igreja Matriz de Lambari, MG
Na Série AGUINHAS MUSICAL já publicamos:
Hoje vamos falar sobre a música Céu de Lambari.
Confira, a seguir.
A música Céu de Lambari, de Roberto Ferreira, foi gravada em 1959 por Renato Restier, pela Copacabana Discos.
A composição foi resgatada por Luciano Hortencio e está no Youtube. Confira:
https://www.youtube.com/watch?v=exQY5FFWVRo&feature=youtu.be
Céu de Lambari - Roberto Ferreira
O céu parece, parece pertinho
Por estas noites de Lambari
Com um céu assim é doce ter um ninho
Com o meu amor junto de mim
Tanta estrela assim, céu tão perto eu nunca vi
Como este claro céu de Lambari.
Se voltasse aqui um dia
Em nossa lua de mel
Feliz eu queria,
As estrelas deste céu
Lambari, Lambari
Nunca vi céu tão lindo quanto o céu daqui.
https://jornalggn.com.br/musica/renato-restier-exalta-o-ceu-de-lambari/
Renato Restier nasceu em Santana do Livramento. RS - 24/02/1920 e faleceu em São Paulo no dia 1º/08/1984. Filho de Procópio Ferreira e Hortência Santos. Cantor, radioator e ator de cinema e televisão, ficou conhecido como um dos maiores vilões do cinema brasileiro.
(Ref.: Wikipedia e Museudatv.com.br)
Ilustração: Recorte. Título. Coluna "Conselhos às mães", pelo dr. Rinaldo de Lamare. Revista Fon Fon n. 18, de 4 de maio de 1944 (bn.digital.gov.br)
Reprodução. ANM
O dr. Rinaldo Victor de Lamare (1910-2002) foi presidente da Academia Nacional de Medicina e da Sociedade Brasileira de Pediatria e um dos mais importantes pediatras brasileiros.
De Lamare introduziu entre nós o uso do soro caseiro no tratamento da desidratação e durante décadas orientou mães e pais em assuntos tais como planejamento familiar, aleitamento materno, vacinação, primeiros socorros, doenças infantis e emergências pediátricas.
(Ref. IstoÉ/Gente - 17.01.2000. O Globo - 24.01.2017. Foto: Academia Nacional de Medicina)
O doutor Rinaldo é autor do livro A Vida do Bebê, de 1941, o primeiro livro no Brasil com noções básicas de pediatria. O livro se tornou uma espécie de bíblia das mães brasileiras e um best-seller com mais de seis milhões de exemplares vendidos, até 2014, época do lançamento de sua 43a. edição.
Essa edição foi revisada e atualizada pelo professor de infectologia Edimilson Migowski, diretor geral do Instituto de Pediatria da UFRJ, e incluiu novas orientações, em face dos avanços da ciência nas últimas décadas.
(Ref.: Jornal Extra/O Globo - 30.11.2014)
1a. edição (1941). Reprodução. Extra/O Globo.
34a. edição (1984). Reprodução. Internet
43a. edição (2014). Reprodução. Internet
Nos anos 1940, antes de lançar o seu livro que ficaria famoso, o dr. Rinaldo de Lamare assinava a coluna Conselhos às mães, na revista Fon Fon, do Rio de Janeiro. Essa coluna durou até 1943; posteriormente, ele assinaria a coluna Criança, na revista A Cigarra.
Por que vomita o bebê? foi o título de sua coluna publicada no número 44, de 4 de maio de 1940, da Revista Fon Fon.
Nesse texto, há menção à nossa água mineral e à de São Lourenço, como terapêutica caseira auxiliar, no caso de vômito dos bebês.
Confira:
Reprodução. Revista Fon Fon n. 18, de 4, maio, 1940. (bn.digital.gov.br)
Ilustração: Antiga propaganda da água mineral de Lambari, feita pelo seu distribuidor no Rio de Janeiro (Lourenço da Costa & Cia.). Do lado direito, estilizada, aparece uma vista geral da cidade. Reprodução. Fonte: bn.digital.gov.br
Como sabemos, o mais precioso bem de LAMBARI são suas ÁGUAS VIRTUOSAS.
E a história de nossa cidade é a história de nossas águas.
De fato, logo após o descobrimento das fontes nas terras do fazendeiro Antônio de Araújo Dantas, em 1780/90, as virtudes miraculosas da água medicinal passaram a ser apregoadas por todos, e elas começaram a ser designadas, já a partir de 1801, por águas santas.
A expressão águas virtuosas começa a ser utilizada a partir de 1805, e acabou por nomear toda a região detrás da serra da Campanha por aquele nome: Águas Virtuosas.
Desde as décadas iniciais dos anos 1800, inúmeras pessoas acorriam às fontes das águas virtuosas, à procura de seus benefícios medicamentosos, e logo um pequeno vilarejo foi se formando.
Neste post, vamos dar pequena visão histórica de nossas águas.
Vamos lá.
Recorte partitura da polca A Fonte do Lambary, de Ernesto Zazareth (1888). Reprodução
Veja este post AQUI
Reprodução. Jornal do Comércio 16, abril, 1893. Reprodução. bn.digital.gov.br
Revista Fon Fon. n. 3, de 1912. Reprodução. bn.digital. gov.br
Almanaque Laemmert n. 69, de 1913. Reprodução. bn.digital.gov.br
Revista Fon Fon. nos. 19 e 20, de 1929. Reprodução. bn.digital.gov.br
Reprodução. Revista O Cruzeiro n. 25/1919 (bn.digital)
Reprodução. Originalmente publicado no jornal Hidrópolis, de 16, ago, 1931. Lambari, MG
Reprodução. Vida Doméstica dez, 1937. Reprodução. bn.digital.gov.br