Ilustração: Vovó contando histórias assustadoras para a criançada. Fonte: Copilot/Microsoft
Nesta série RECANTO DOS NETOS contamos histórias das únicas criaturas que são mais encantadoras do que nossos filhos: os filhos dos nossos filhos — os nossos netos.
Como dito anteriormente, oito são os nossos netos: Leo e Rafa; Maria Elisa e Paulo Emílio; Isabela e Rafaela; e Cecília (e Guga, que veio em 2022)
Nesses últimos dias, andam todos em recolhimento social, mas de carinha boa. [Exceto o Guga, que chegou depois]
Confiram:
Rafael e Leonardo | Paulo Emílio e Maria Elisa |
Cecília e Guga | Rafaela e Isabela |
SÉRIE RECANTO DOS NETOS Confira os posts já publicados:
Confira os áudios vinculados aos posts: |
Dito isso, neste post (e nos seguintes desta série), vamos contar um pouco de como eles passam as férias e feriados na Casa Gorda (nome dado por Rafa e Leo à casa da vó Celeste. Veja aqui)
Quando em Lambari, os netos
(...) brincam o dia inteiro ... de andar de bicicleta, rodar pião, jogar bolinha de gude, soltar pipa lá no morro (...) À noite, ... jogam videogame, mas a brincadeira mais gostosa é o pique-esconde na rua ou então a queimada.
Pois bem, dessas e de outras atividades, todos gostam muito, mas hoje vamos falar de um tema que faz grande sucesso na turminha: histórias assustadoras da vó Celeste.
Vamos lá.
Internet. Reprodução. Fonte: picsels.com
Vó Celeste, Vô Guima e Paulinho e Rafaela
Três motivos principais há para contarmos essa história aqui no RECANTO DOS NETOS. O primeiro se refere ao momento por que estamos passando, todos nós, a humanidade inteira, em face da crise mundial do Coronavírus/Covid19. Essas lembranças de passagens felizes com nossos netos têm ajudado a mim e a Celeste a suportar a sua ausência, visto que todos eles moram fora de Lambari. O segundo diz respeito a compartilhar nossa experiência com pais e avós leitores deste espaço eletrônico, ressaltar a importância da contação de histórias e de estímulo à leitura, desde os primeiros anos da criança, e incentivar a que façam o mesmo que nós. E o último tem a ver com nossos próprios netos: queremos deixar-lhes um registro, uma memória desses tempos felizes, para que tenham histórias para contar e lembranças para narrar, quando eles próprios estiverem a entreter seus netos. |
Casa assombrada... Meia-noite... Escuridão!
De repente, um homem na janela... com uma faca na mão!...
— Passando manteiga no pão...
Vó Celeste, dando início à contação de "histórias assustadoras"
Todos tivemos nossos contadores de histórias. Eu, por exemplo, como anotei no meu livro de memórias (Menino-Serelepe), ouvi histórias de meus pais e meus avós, e tenho no meu avô paterno — José Batista, o Pai Véio — o contador de histórias preferido (aqui).
E bem assim minha mulher também ouviu muitas e muitas histórias — algumas delas "assombrosas" — contadas por seus pais e avós.
Celeste, aliás, até escreveu um livro infantil, contando uma história "assustadora", que se deu com os netos Leo e Rafa.
Vejam este trechinho:
Três horas da manhã um barulho estranhíssimo acordou o Leo. Era um barulho assustador. Não era aquele barulhão do caminhão que pega o lixo de madrugada e nem era o barulhão dos ônibus que passam perto da sua janela lá na cidade grande. Era uma coisa horrível, que o Leo nunca tinha escutado antes. Ele ficou em pânico. Primeiro, berrou tanto que acordou o irmão, o Rafa. Depois o Rafa também escutou aquele barulho horrível e, como eles são gêmeos, o que um faz o outro faz igual, começou a chorar também. (O galo e a coruja cupinzeira por Celeste Krauss).
Pois bem, desse modo foi que ela tomou gosto pela coisa e hoje adora contar historias para os netos, como as narrativas tradicionais (O homem do saco, João e o pé de feijão, Os três porquinhos), os mitos do folclore (Saci Pererê, Capora, Mula sem cabeça, etc.), os contos de fada (Chapeuzinho vermelho, A bela adormecida), etc.
Mas o que vovó Celeste e as crianças gostam mesmo é de uma história bem "assombrada"...
Huuuuuu!!!!
(Reprodução. Fonte: jornalcruzeiro.com.br)
picsels.com. Reprodução
Trata-se, no entanto, de um assombramento leve, de um susto do qual as crianças logo se recompõem, que não deixa mazelas nem as atemoriza, como é o caso destes gibis e desenhos que elas adoram:
Reprodução. Internet e frame YouTube
OS PALCOS DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Minhas estórias da Carochinha, meu melhor livro de leitura
capa escura, parda, dura, desenhos preto e branco.
Eu me identificava com as estórias.
Fui Maria e Joãozinho perdidos na floresta.
Fui a Bela Adormecida no Bosque.
Fui Pele de Burro. Fui companheira de Pequeno Polegar
e viajei com o Gato de Sete Botas. Morei com os anõezinhos.
Fui a Gata Borralheira que perdeu o sapatinho de cristal
na correria da volta, sempre à esperea do príncipe encantado,
desencantada de tantos sonhos
nos reinos da minha cidade.
CORA COLINA. Meu melhor livro de leitura. Vintém de Cobra (1984)
Pra contar uma história, é preciso um público interessado e atento e um bom palco. Assim, vó Celeste organizou dois lugares especiais para contar suas histórias assustadoras.
E neles ajuntam não só os netos, mas também sobrinhos-netos e amigos da criançada.
Sala com lareira
Fogueira no terreiro, com netos e sobrinhos-netos da vó Celeste
No chalezinho, preparando a fogueira, elemento indispensável no cenário das histórias assustadoras
Quando acende a fogueira, é porque vai ter contação de histórias assustadoras
Hoje tem churrasquinho no pão, antes da contação de histórias
Ah, depois das histórias tem marshmellow! Na foto, netos e sobrinhos-netos da vó Celeste e amigos da criançada
Quando o frio aperta, bom é ficar na cama ouvindo histórias assustadoras
Noite fria e histórias horripilantes — melhor é ficar todo mundo juntinho...
DEPOIS DE OUVIR — CONTAR, LER E ESCREVER HISTÓRIAS
No ler e contar histórias para crianças — as histórias familiares, inclusive, das quais já falamos aqui e aqui — há não somente a parte lúdica, estética, emocional, como o estímulo a que façam o mesmo: contem histórias, deem asas à imaginação, inventem, criem.
Isso abre o mundo da leitura e da escrita.
E vimos — eu e Celeste — isso acontecer aqui na nossa família. Contávamos ou líamos uma história e abríamos espaço para que as crianças fizessem o mesmo. E havia uma "disputa" entre eles. Rafa e Leo, os mais velhos, narravam histórias em forma de roteiros, com começo, meio e fim, como se fossem montar um filme. As meninas, mais novas, contavam ou inventavam historietas do seu universo: os contos de fadas, os gibis, os desenhos e filmes a que tinham assistido.
E isso abria-lhes a mente, inspirava-os.
E os livros de histórias foram se amontoando. Inicialmente, "liam" as gravuras; depois de alfabetizados, começaram a ler tudo que pudessem. Mais à frente, começaram a "escrever" suas histórias.
Veja o que contamos sobre esse ponto:
Veja também este outro livro de Rafa e Leo, em parceria com o coleguinha Marco Thúlio, uma história de suspense intitulada ⇒ A fuga do supermercado:
Conforme já contamos aqui, fomos montando na Casa Gorda uma biblioteca infantil, que se renova a cada período de férias, com livros que compramos e outros mais, como os utilizados na escola, os adquiridos usados, em sebos, os presentes de aniversários [1] e também uns livros que foram distribuídos gratuitamente pelo Banco Itaú. [2]
E hoje temos livros que serviram a uns e vão servir a outros, à medida que vão crescendo.
[1] Aquisição de livros
Além das bibliotecas públicas e escolares, e de e-books gratuitos ou a preço módico disponíveis na internet, há muitas maneiras de conseguir literatura infantil/juvenil para nossos filhos e netos.
Por exemplos, podemos começar pelos livros escolares, de literatura inclusive, distribuídos nas escolas.
Podemos adquirir os mais acessíveis, como os livrinhos de história que podem ser encontrados a preço mínimo em lojas de 1,99 ou em sebos on-line, que vendem livros usados (em bom estado e a preço reduzido).
Podemos distribuir lista de livros como sugestão de presentes (aniversário, dia da criança, Natal).
Podemos formar uma biblioteca comunitária, composta de parentes e amigos, para troca e empréstimo de livros.
Podemos ler (ou assistir vídeos) ou baixar e-books gratuitos (ou vídeos) na internet.
Podemos baixar o aplicativo Kindle (ou outro semelhante) para o qual há centenas de livros infantis gratuitos, para serem lidos no celular, no IPad, no notebook (veja aqui)
[2] Kidsbook - Itaú Criança
Tempos atrás, o Banco Itaú fez uma campanha de distribuição gratuita de livros infantis, que se dava mediante o preenchimento de cadastro. Essa campanha, contudo, foi encerrada. Mas a instituição mantém uma página eletrônica com livros infantis que podem ser baixados ou lidos on-line.
A ideia de uma literatura infantil e juvenil é bem menos antiga que a de literatura, sem qualificativos. É a partir do século XVII, com a publicação de Fábulas e As Aventuras de Telêmaco, ambas escritas por Fénelon (1651-1715), que é a inaugurada a produção literária dirigida às crianças e jovens. Há, contudo, obras anteriores à de Fénelon, publicadas nos séculos XVI e XVII, como os textos de Gonçalo Fernandes Trancoso (15--), Giovanni Battista Basile (1575-1632), La Fontaine (1621-1695) e Charles Perrault (1623-1703), que posteriormente viriam a ser reputados como clássicos da literatura infantil. Além desses, há as narrativas da Grécia e Roma clássicas, como Esopo e Fedro, na tradição das fábulas.
LITERATURA INFANTIL E JUVENIL. Enciclopédia Itaú Cultural
Da infância da humanidade, das culturas primitivas às clássicas, do Oriente ao Ocidente, mitos, lendas, fábulas passaram de geração a geração, de povo a povo, de civilização a civilização.
Contadas e recontadas, recriadas, renovadas, narrativas antiquíssimas e longínquas foram, através dos tempos, migrando de cultura em cultura.
Na idade medieval europeia, a partir do Século XIV, as narrativas orais clássicas, míticas e lendárias, começam a dar lugar a narrativas em prosa e verso (narrativas poéticas, gestas cavaleirescas, novelas românticas), essas grandemente influenciadas e enriquecidas pela migração dos contos maravilhosos do oriente, traduzidas do sânscrito e do árabe.
Nesse período, no caldeirão cultural que aí se formou, é que vamos encontrar as raízes da literatura infantil europeia (Perrault, Grimm e Andersen), que chegou aos nossos dias.
Recorde-se ainda que navegadores ibéricos, cujos países dominaram os mares a partir do Século XVI, levaram e trouxeram contos, histórias, lendas e fábulas, nas relações com os povos que conquistaram (África, América) e/ou países com que estabeleceram comércio (Ásia). Acresça-se também que famílias, funcionários e missionários religiosos portugueses e espanhóis se fixaram nas colônias, e que comerciantes ibéricos se estabeleceram em muitos dos novos mercados que foram descobertos. Tempos depois, outros povos europeus seguiram o mesmo caminho.
Esses desbravadores — fossem franceses, portugueses, holandeses, espanhóis, ingleses — onde residiam, se casavam, tinham filhos e contavam e ouviam histórias seculares. Histórias que, ao longo do tempo, foram enriquecidas ao contato com povos indígenas e negros escravizados. E as histórias dos europeus também influenciaram culturas locais.
E os contos, lendas e fábulas, que a tradição oral ia propalando e enriquecendo, correram mundo e se espalharam por inúmeras culturas.
Esse contexto histórico explica, por exemplo, a ocorrência dos contos universais, isto é, contos assemelhados que a tradição oral espalhou pelos Continentes. Quando se investigam as origens e as formações das histórias populares, vê-se que, com pequenas variantes, contos como A gata borralheira, João e Maria, O sapo com medo d'água e O sapo e o coelho aparecem em vários pontos do globo.
Contos clássicos de origem europeia
Das penas hoje lendárias de Charles Perrault (1628-1703), dos Irmãos Grimm, (Jacob/1785-1863 - Wilhelm/1786-1859), de Hans Christian Andersen (1805-1872) — que a seu tempo recolheram tradições populares, suavizando-as, retirando passagens escabrosas, e bem assim recontaram antigas histórias e escreveram outras —, podemos citar, por exemplos:
De origem popular, vindos de Portugal e Espanha:
Contos origem ameríndia e africana
ESCRITORAS LAMBARIENSES E HISTÓRIAS INFANTIS
Sobre Alaíde e Henriqueta Lisboa, já escrevemos diversas vezes no GUIMAGUINHAS, como aqui, aqui e aqui.
Nascidas em Lambari, as irmãs se transferiram depois para Belo Horizonte. Escritoras, poetas, professoras, Alaíde e Henriqueta também se interessaram por literatura infantil.
Alaíde publicou cerca de 30 livros entre ensaios de educação, didáticos e literários. Foi professora em Lambari, no Instituto de Educação de Minas Gerais e na Universidade Federal de Minas Gerais. Foi colaboradora do Estado de Minas. Na área de literatura infantil, escreveu o clássico A Bonequinha Preta, que teve sucessivas edições desde 1938, e O Bonequinho Doce.
Henriqueta estreou na poesia com o livro Fogo fátuo, em 1925. Em Belo Horizonte atuou como poeta, tradutora, ensaísta e professora. Publicou 17 livros e mais quatro volumes com seleção de sua poesia. Muito do seu livro de poesias O menino poeta e a coletânea de lendas e contos Literatura oral para a infância e a juventude contam-se entre obras de literatura infantil.
Um clássico sobre o folclore no Brasil
E não se esqueça de Basílio de Magalhães, o professor, escritor e político que viveu e morreu em Lambari, e aqui está enterrado (veja aqui), e de sua obra magistral sobre o Folclore no Brasil.
Estudo sobre o folclore brasileiro, feito com erudição e farta bibliografia. Análise dos livros sobre o assunto publicados até 1928, data da edição da obra de Basílio de Magalhães. O autor examina manifestações populares segundo conceitos bem sintonizados com a pesquisa europeia realizada à época. Contém ainda oitenta e um contos populares recolhidos por João da Silva Campos.
À venda na livraria do Senado Federal:
https://livraria.senado.leg.br/index.php?_route_=o-folclore-no-brasil-vol-253
AOS MENINOS DO BRASIL
Ainda me lembro hoje da Velha Totônia, bem velha e bem magra, andando de engenho a engenho, contando as suas histórias do Trancoso.
Não havia menino que não quisesse um bem muito grande, que não esperasse, com o coração batendo de alegria a visita da boa velhinha, de voz tão mansa e de vontade tão fraca aos pedidos dos seus ouvintes.
Todas as velhas Totônias do Brasil se acabaram, se foram. E outras não vieram para o seu lugar. Este livro escrevi pensando nelas... (...)
JOSE LINS DO REGO. Histórias da velha Totônia. Introdução
Com as facilidades da internet, há um mundo de histórias, vídeos e músicas infantis disponíveis.
Confira estes exemplos:
Oito contos de Charles Perrault
Disponível aqui: https://www.pensador.com/contos_de_charles_perrault/
Disponível aqui: https://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/index?page=1
Três contos de Andersen (vídeo)
A Pequena Sereia - A Rainha da Neve - A Pequena Vendedora de Fósforos
Disponível aqui: https://www.youtube.com/watch?v=6km03abj9u0
Reprodução. multiplasoralidades
Aqui: Contos do folclore
Annie e Ben - Histórias assustadoras para crianças
Reprodução (frame) YouTube
Contos clássicos para crianças que falam do medo
Reprodução. Guiainfantil.com
João sem medo. Aqui: https://br.guiainfantil.com/materias/cultura-e-lazer/contos-infantis/conto-infantil-joao-sem-sedo/
Rolando Boldrin e Ranchinho: https://www.youtube.com/watch?v=HRC6RXv0AD8
Ilustração. Reprodução Youtube.Beatriz Blanco/UNICAMP
Para saber mais
O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem trata-se de uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
O e-book O galo e a coruja cupinzeira, de Celeste Krauss, romanceia uma história real acontecida com nossos netos, os gêmeos Leonardo e Rafael, já foi comentado no GUIMAGUINHAS (aqui) e está disponível, em forma de e-book, distribuído gratuitamente (aqui)
As belíssimas ilustrações desse livro são de autoria de Fabiana Martins, designer que se assina Fabi Martins, que já fez trabalhos para a Folha de S. Paulo, Jornal São Paulo, Propaganda Trip, entre outras publicações (aqui).