Ilustração: Recorte capa jornal O Globo, de 2 de maio de 1946
Os cassinos existiam no Brasil desde o Século XVIII, havendo referência histórica ao "Beira-Mar Cassino", localizado no antigo Passeio Público no centro do Rio de Janeiro. [1]
Em 1907 o Rio de Janeiro passou a oferecer incentivos para a construção de hotéis, e o "boom" hoteleiro começou (o hotel Copacabana Palace foi inaugurado em 1922). Tais hotéis eram projetados dentro do sistema "acomodação de classe com disponibilidade de alguns serviços". Claro está que entre os "serviços" encontrava-se o jogo. [1]
Nas estâncias hidrominerais de Minas, havia cassinos nas cidades de Araxá, Lambari, Poços de Caldas, São Lourenço e Caxambú.
Em São Lourenço oito estabelecimentos foram construídos. No Hotel Brasil, ainda existente, ao lado do jogo ocorriam shows com artistas de renome, como O Rei da Voz, Francisco Alves.
Poços de Caldas, a estância de maior movimento, ficou conhecida como a Las Vegas brasileira e chegou a possuir vinte cassinos, entre eles o Quisisana e o Imperial, ambos tocados por Vivaldi Leite Ribeiro, que em Lambari empreendeu o Hotel Imperial e o Grande Hotel. [3]
Poços era o destino preferido do Presidente Getúlio Vargas, que gozava de uma suíte especial no Palace Hotel, com decoração idêntica àquela encontrada no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. O aposento era conhecido como "Catetinho".
O Cassino de Lambari, de beleza ímpar, perfeito em cada detalhe, foi inaugurado em 1911, com a presença dos mais poderosos políticos do Brasil à época. Encantou a todos, porém só funcionou uma noite. [1]
Em 1933, Getúlio Vargas legalizou o jogo associado ao espetáculo de arte. A partir daí, os cassinos impulsionaram a indústria do turismo e a economia, empregando milhares de pessoas. [2]
Naqueles tempos, Lambari possuía cassinos e atraía levas e levas de turistas, quer a busca do jogo — e dos negócios e diversões que esse proporcionava —, quer pelas águas e pelo clima — veranistas que aqui faziam demoradas "estações de águas", que essas, por aquela época, ainda eram programas regulares de muitas famílias brasileiras.
Neste 30 de abril de 2016, completaram-se 70 anos da proibição dos jogos, estabelecida mediante o Decreto-lei 9.215, de 30 de abril de 1946, no Governo Dutra.
No post a seguir, vamos lembrar um pouco dessa história.
Lances dos cassinos em Lambari
Jogo de roleta - Cassino em Lambari, anos 1940 - Fonte: Facebook Lambari (aqui)
No livro O caminho dos homens, de Fernando de Castro (Editora Pongetti, RJ, em 1962), já comentado no GUIMAGUINHAS (aqui), narra-se uma cena de jogo de roleta, ocorrida num cassino de Lambari.
Eis o trecho (p. 154):
Veja também:
No Casssino de Lambari o jogo somente funcionou na noite de sua inauguração, em 1911 (aqui)
Cassino no Hotel Gloria em Caxambu (Fonte: http://jornalarte3.blogspot.com.br/)
Veja também:
Literatura da época do jogo no Sul de Minas
Além do livro O caminho dos homens, de Fernando de Castro, citado acima, que descreve lances de jogos num cassino de Lambari, nos anos dourados da jogatina, veja-se também esses outros dois livros:
(1) (2)
(1) Editora Scipione/Fundação Casa de Rui Barbosa-Instituto Moreira Salles, 3a. ed., 1992 (2) Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1977
O desafios aos limites, de Martha Antiero, é a crônica de uma estância hidro-mineral em decadência (Cambuquira, que recebe o nome fictício de Santa Quitéria), vivendo da nostalgia de uma época em que o jogo e as águas faziam o fausto da cidade.
Já o conhecido escritor João do Rio, no livro A correspondência de uma estação de cura, mediante bilhetes e cartas, escritos de Poços de Caldas durante o período mais animado da temporada de 1917, mostra pequenas ambições, misérias e intrigas de um grupo de pessoas de nível social diverso, construindo um malicioso painel da agitação mundana da mais elegante das nossas estações de águas no início do século.
Segundo o Jornal O Globo:
As roletas giraram sem parar no Cassino da Urca, no Cassino Atlântico, no Copacabana Palace, no Quitandinha (Petrópolis) e no Icaraí (Niterói), além de outros em quase todos os estados do país, como a mineira Poços de Caldas, com seus 20 grandes cassinos, que lhe valeram o apelido de “Las Vegas brasileira”. O jogo também era atração turística em todas as estâncias hidrominerais no Sul de Minas Gerais.
Mas até a banca perder para o governo, foram anos de sucesso, luxo e lucros milionários. Associados ao jogo, shows memoráveis. Carmen Miranda, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e Grande Otelo deram mais brilho à era de ouro dos cassinos. Carmen chegou a ser artista exclusiva do Cassino da Urca de 1937 a 1940. Eternizada com sua fantasia de baiana, saiu de lá para conquistar os Estados Unidos. O palco da Urca recebeu também astros internacionais, como Josephine Baker, Bing Crosby e Maurice Chevalier. Na plateia do teatro — e nas mesas dos salões e jogos —, políticos, artistas, autoridades diversas e renomadas figuras públicas.
(Fonte: Jornal O Globo 16/07/13 - aqui)
Palácio Quitandinha, em Petrópolis, construído em 1944 para ser o maior cassino do Brasil (Fonte: Wikipedia)
Veja também
A proibição dos jogos de azar no Brasil foi estabelecida por força do decreto-lei 9 215, de 30 de abril de 1946, assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra sob o argumento de que o jogo é degradante para o ser humano. Muitos destacam, no entanto, a forte influência que a esposa de Dutra, Carmela Teles Leite Dutra, teria exercido na proibição, motivada por sua forte devoção à Igreja Católica. [Fonte: Wikipedia - aqui]
Veja também:
Reprodução: http://acervo.oglobo.globo.com/ - (aqui)
(**) Se você, caro(a) visitante, tiver notícias, informações, casos e fotos dessa época, ou quiser fazer alguma correção ou complementação ao texto aqui publicado, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Abaixo vai uma coletânea de antigos anúncios de jornais, que entremostra um pouco da história de nossa cidade.
Em 1872, o Dr. Eustáquio Garção Stockler fixou residência na então povoação das Águas, e durante os anos de 1884 e 1885 realizou intensa propaganda acerca das virtudes da água, criando para isso um periódico quinzenal intitulado Águas Virtuosas.
Em 1888, lei estadual conferiu-lhe o direito de exploração das águas, e em sua gestão foi reformado o estabelecimento hidroterápico, que, inaugurado em 1872, jamais entrara em funcionamento e aumentada a área do parque das fontes, formando o respectivo jardim. Stockler fundou também a primeira empresa exportadora das águas e formou a temporada de veraneio (de janeiro a março e de setembro a dezembro). [MARTINS, Armindo. Lambari - A cidade das Águas Virtuosas. 1a. edição, 1949, p. 49]
Por essa época, o Hotel Brazil já publicava esta propaganda em jornais de São Paulo:
Anúncio do Hotel Brazil, de 10 de abril de 1888
O Hotel Brazil ficava próximo do Parque das Águas
Anúncio de copos em 1898 - Jornal A Peleja - Águas Virtuosas - 15/05/1898
A Peleja, de 15/05/1898
Propagandas no jornal A Peleja (1898)
Hotel Mello - o início do Hotel Imperial
Sobre o Hotel Mello, veja este post (aqui)
Propaganda do Hotel Mello, em 1918
Propaganda: Revista O Malho (1923)
Anos 1940: propaganda dos latões ABI, já então famosos em todo o Brasil, lançava o desafio: Não tememos confronto com os similares
Anúncio, jornal Sputinik, agosto de 1960
Reprodução: Jornal O Globo - 15, maio, 1963
Hotel Itaici - Reprodução: Jornal O Globo - 12, dez, 1963
Reprodução: O Globo, 2, fev, 1959
Reprodução: O Globo, 10, jul, 1963
Reprodução: O Globo, 6, fev, 1964
Referências
Vivaldi Leite Ribeiro (aqui) realizou grandes empreendimentos em Lambari, com destaque para o Hotel Imperial e o Grande Hotel. Foi ele também responsável pelo aterramento da vargem fronteiriça ao Hotel Ideal, bem como pela grande reformulação e obras nele realizadas.
O Hotel Imperial já foi objeto de posts no GUIMAGUINHAS (aqui) (aqui); hoje falaremos do Hotel Central.
Vamos lá.
Como ocorrera com o Hotel Imperial, que foi fruto da reforma e ampliação do antigo Hotel Melo, em 1938, o Grande Hotel do mesmo modo surgiu em 1948 do antigo Hotel Grandinetti, que foi também reformado e ampliado.
E de igual modo como se fez no Imperial, parte da água consumida no Hotel Central vinha também diretamente canalizada da Chácara Floresta, mais conhecida por Chacara do Vivaldi, que fica ao pé das Serra das Águas, nos fundos do atual bairro Vista Verde.
O Grande Hotel foi inaugurado em maio de 1948, como se vê da propaganda abaixo:
Reprodução: Jornal O Globo - 5, mai, 1948
Propaganda extraída do livro de Armindo Martins (Lambari, cidade das Águas Virtuosas, 1949).
Com a proibição do jogo, no Governo Dutra, em 1945 e, a partir daí, o esvaziamento progressivo das estações de águas (aqui) e (aqui), as estâncias hidrominerais e seus hotéis entraram em grave crise. Em decorrência disso, o Hotel Imperial, em 1963, foi transformado em Condomínio, e o mesmo viria a ocorrer com o Grande Hotel, pouco depois.
Reprodução O Globo (2, dez, 1963 e 10, jul, 1963)
O Condomínio Grande Hotel, nos dias de hoje
Fonte: Ruas de Lambari, José N.Mileo, 1970
A praça fica defronte ao Hotel Imperial e sobre a cobertura do Rio Mumbuca, ambos empreendimentos de Vivaldi Ribeiro.
Em setembro de 1981, realizou-se, sob o patrocínio da Prefeitura Municipal de Lambari, a PRIMEIRA OLÍMPIADA MUNICIPAL, com torneios de diversas modalidades de esportes, como futebol de salão, vôlei e basquete.
Nesse evento, a disputa final do torneio de Futebol de Salão se deu entre o SERTÃOZINHO e o AZULÃO. O jogo ocorreu na Quadra do Colégio Estadual de Lambari (atual Prof. Maria Rita Pereira Santoro). O resultado foi 1 x 1, e o time do SERTÃOZINHO, beneficiado pelo saldo de gols, sagrou-se campeão.
Quadra do Ginásio, em Lambari (Fonte: GoogleMaps)
O SERTÃOZINHO vencia por 1 x 0 até os minutos finais da partida, gol assinalado por Juscelino. O AZULÃO empatou no final, mas o resultado deu o título ao SERTÃOZINHO. Vitória expressiva, tendo em vista que o modesto time do SERTÃOZINHO superou o AZULÃO, time esse que mais torneios de Futebol de Salão venceu naqueles anos 1980.
Entre os jogadores do time campeão, figuravam: Dito Machado, Fabinho Castilho, Carlos André (Patinho), Glaucio, José Machado,Juscelino Krauss e Olavo Krauss. Pelo time do AZULÃO, jogaram Dimas ,Tucci, Picolé,Celinho Machado e Flavinho.
As fotos abaixo recordam times do SERTÃOZINHO e AZULÃO daquela época.
Dito, Fabinho Castilho, Gláúcio. Agachados: Olavo, Juscelino e Zé Machado.
Azulão - Futebol de Salão
Algumas formações do time do Azulão, em 1981
Lambari, Dimas, Luizinho, Betinho, Tucci, Celinho e Biguá. Agachados: Rubens Nélson, Flavinho, Kit, Juninho e Picolé.
Tucci, Betinho, Dimas, Hélio (Helimar) e Lambari. Agachados: Rubens Nélson, Luizinho, Heitor e Helinho.
Ilustração: JK caminha no Parque das Águas, durante visita a Lambari, anos 1950
Nossa Águas Virtuosas de Lambary foi, ao longo de sua história, bem frequentada por importantes políticos brasileiros.
Abaixo, alguns registros de visitas de algumas personalidades de nossa política.
Como se recorda, no início dos anos 1900, havia deputados federais e estaduais ligados a Águas Virtuosas, tais como: Américo Werneck (aqui), Garção Stockler (aqui), João Bráulio Júnior (aqui), João de Almeida Lisboa (aqui).
Em 1911, por ocasião das inauguração das obras fundadoras de Águas Virtuosas de Lambary, aqui estiveram, além de Ministros e Secretários de Estado, o Presidente da República Hermes da Fonseca (1910-1914) e o Presidente [Governador] do Estado de Minas Gerais Júlio Bueno Brandão (1910-1914) (aqui).
Benedito Valadares (anos 1930)
Benedito Valadares , Presidente do Estado de MG entre 1933-1945, e esposa, em visita a Águas Virtuosas do Lambari (anos 1930)
Juscelino Kubitschek (Anos 1950)
Anos 1950: Juscelino Kubitschek passeia no Parque das Águas, acompanhado de diversos políticos mineiros
Aureliano Chaves, governador de Minas Gerais (1975-1978), ao lado de funcionários municipais e políticos lambarienses, entre eles: José Sgarbi Astério, Clóvis Chagas, Gilberto Leite.
Francelino Pereira (Anos 1980)
Francelino Pereira, Governador de Minas (1979-1983), ao lado dos vereadores de Lambari Gilberto Leite e Clóvis Chagas
Anos 1980: Tancredo Neves, governador de Minas (1983-1984) em solenidade política, ao lado de Renato Nascimento, Prefeito de Lambari
2014 - O governador Antonio Anastasia (2010-2014) e o prefeito municipal Sergio Teixeira na inauguração das obras de reforma do Parque das Águas de Lambari
(Fonte: Agência Minas - reprodução)
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