Ilustração: A Bitaca do Veiaco, local onde se reúnem ex-jogadores, ex-técnicos, ex-árbitros, ex-torcedores e cornetas ainda em atividade, para (re)contar histórias, causos e lendas do glorioso futebol lambariense.
Como se sabe, é na Bitaca do Veiaco que se contam as melhores histórias de futebol. A língua afiada do Veiaco não esconde nem as glórias nem as mazelas do futebol aqui praticado desde os anos 1920. (aqui)
Veiaco, Guima e Jorginho Coca-cola, time do AVFC (1975)
Por lá, fatos, mentiras, coisas inventadas e lendas se misturam, podendo-se saber, por exemplo, quem foi o artilheiro do campeonato interno de 1943, a escalação do Águas Virtuosas na final de 1953, em Baependi, contra o Esporte São Lourenço (aqui), a idade verdadeira do atleta Misca — um dos segredos mais bem guardados do futebol lambariense.
Pois bem, dito isso, vamos recordar uma história que já contamos aqui no GUIMAGUINHAS, contar uma outra bem divertida, mas verdadeira, e lançar um grande desafio aos amantes da história do futebol lambariense.
Confiram a seguir.
Betinho, Guima e Veiaco. Veteranos do A.V.F.C. (1980)
Entre as lendas do nosso futebol, conta-se que no Campeonato interno de 1978 ocorreu o seguinte:
Um reserva que nunca saiu do banco
A cada domingo, eram realizadas duas partidas: a preliminar às 13h30, e a principal às 15h30.
Pois bem, ocorreu que numa partida preliminar, um time entrou em campo com 10 atletas, pois um jogador "titular" se atrasara.
A mesa diretora alertou o dirigente e o técnico do time sobre o fato, e mandou que se completasse a equipe com 11 jogadores, como determina a regra, colocando-se um dos atletas do "banco de reservas", que, aliás, só tinha um jogador "que não era lá muito bom de bola..."
Então, o técnico se recusou terminantemente a colocar o dito "reserva" em campo, alegando que o "titular" logo chegaria e que "não iria desperdiçar uma substituição!"
Coisas do futebol, minha gente, coisas do futebol!
O nome do "atleta"?... Bem, deixa pra lá, esse fato é bem conhecido e ele próprio ainda hoje se diverte com o ocorrido!
Hoje vamos contar uma história ouvida na Bitaca do Veiaco, a qual confirmei com várias testemunhas, inclusive com o próprio personagem, que é nosso amigo, deu boas risadas, mas não autorizou que seu nome e apelido fossem publicados, com medo de que alguém, de forma deliberada, tente quebrar o seu recorde.
Vamos lá!
O beque mais faltoso do mundo
Certo Time de Bairro de nossa cidade fazia seus treinos e jogos num campinho das proximidades, e entre eles estava um zagueiro das antigas chamado João (esse não é seu nome verdadeiro, mas vamos chamá-lo assim como o famoso personagem João, marcador de Garrincha).
João era um bom sujeito, e também um beque vigoroso, que chegava junto e dava da medalhinha pra baixo, como se diz. Mas tinha um porém: o dito zagueiro só jogava descalço, e ainda assim era temido por todo e qualquer atacante, que corriam de bolas divididas.
Assim foi até que, num belo dia, o Time de Bairro aceitou convite pra um amistoso em Olímpio Noronha, contra o time da Fazenda Santana. Na carroceria do caminhão que fez o transporte da equipe estavam, entre outros: Fulano, Sicrano e Beltrano — testemunhas oculares desta história, as quais entrevistei — e o nosso portentoso João.
Pois bem, na hora de entrar em campo, o Fulano, misto de técnico, dono do time e ponta-esquerda, deu ao João um velho par de chuteiras número 43, e disse:
— Ô João, hoje tem que usar, senão os homi não deixa cê entrar em campo, que o gramado aqui é tamanho oficial e tem regra, e nóis só tem onze jogadô, num tem reserva!
O pobre João, que nunca pusera um calçado pra jogar futebol, reclamou, discutiu, fez pé firme, mas não teve jeito: num esforço danado, empurra pra cá, amarra pra lá, dá nó de lá, dá nó de cá, acabou entrando em campo devidamente enchuteirado...
Prá quê???!!!!
O jogo começou e o nosso poderoso beque não parava em pé, não acertava a bola, não conseguia chegar junto (como gostava) nos atacantes adversários. Parecia que estava num campo de pura lama, desequilibrando-se à esquerda, à direita, na bola alta, na bola rasteira...
Mas o jogo seguiu, e logo aos 7 minutos o time da Time do Bairro fez 1 x 0. Tão logo a equipe do Santana deu a saída, o ponta arrancou, cruzou a bola e o João, atrapalhado pelas chuteiras, deu uma formidável rasteira no atacante. E o Paulista, famigerado árbitro de ÓNoronha, mostrou de pronto a marca do pênalti.
O primeiro de uma série que viria a ser cometida pelo João.
Reprodução. Desenho de Gut. Globo Esportivo, 25, ago, 1951
O Time do Bairro fez o segundo gol, e o João empatou, quer dizer, fez novo pênalti. O Paulista trilou o apito, bola na cal e o time da Santana igualou o placar: 2 x 2!
E assim foi até o fim do jogo: a cada gol lá, um pênalti cá, e a partida terminou com o placar de 5 x 5, tendo o nosso glorioso beque alcançado um recorde imbatível, digno do Guiness, qual seja: cometer 5 pênaltis numa partida de futebol.
E eu perguntei a ele: — E se não fosse a chuteira, João?
E ele respondeu:
— Aí, bão, teria feito só uns 2 ou 3 pênarti!
Se é vero? Claro que é, pergunte ao Veiaco!
O GRANDE DESAFIO: QUAL É A IDADE DO ATLETA MISCA?
Como dissemos acima, a idade verdadeira do atleta Misca é um dos segredos mais bem guardados do futebol lambariense.
Guima e Misca, time de Veteranos (Anos 1980)
Ocorre que não só a (verdadeira) idade do Misquete é um mistério, como também tem a seguinte e grave questão: em que time o atleta (?) Misca atuou antes de ser aceito no time de Veteranos do Águas?
Exatamente — isso também é um grande mistério, um dos maiores da história do já centenário futebol lambariense!
Daí o desafio, lançado pelo Veiaco:
— Quem conseguir provar que o Misca jogou futebol, em qualquer time que seja, antes de atuar (?) pelo Veterano do Águas será grandemente recompensando.
Mas veja bem: prova bem provada! Uma foto antiga (sem montagem), um borderô de um jogo ou a ficha de atleta original arquivada numa Liga de Futebol oficialmente reconhecida, uma ata registrada em cartório, uma gravação de algum narrador de rádio mencionando seu nome durante uma partida, em que fique bem caracterizado que se trata mesmo do referido atleta (?), ou qualquer outra prova desse gênero.
Testemunhos não serão aceitos, até porque eventuais testemunhas desse fato absolutamente improvável, se vivas estivessem, já estariam com bem mais de 100 anos!
Fica aí o desafio. Mãos à obra!
Uma suposta prova está sub judice
A propósito, o Kit, de olho na premiação, encontrou nos guardados do vô Pedro uma reprodução de foto da Associação Athlética de Lambary, datada de 1914, e a apresentou como prova de que o Misca teria jogado nessa equipe: o decano do nosso futebol seria o primeiro atleta, sentado, à esquerda da foto (v. abaixo).
Nossos peritos estão examinando antigos alfarrábios do museu do futebol para confirmar, primeiramente, se a reprodução da foto confere com o original, se não há nenhuma montagem, e bem assim estudando aspectos físicos do referido atleta, analisando sua evolução corporal ao longo das décadas, para verificar possíveis correspondências...
Mas, até o momento em que escrevo este post, continuam em dúvidas: acham que o Misca, por aquela época, era um pouco mais velho que o jovenzinho da foto...
Vamos aguardar a palavra final dos peritos.
O desafio continua em aberto!
Associação Athlética Lambary - Campeã do Sul de Minas - 1914 (Revista Fon Fon n. 40/Set/1914)
Ilustração: Martelo que pertenceu a Antônio Rosatti, imigrante italiano que trabalhou nas obras do Cassino de Lambari (1909-1911). Reprodução/Facebook/Ariovaldo R. Fonseca
Já falamos sobre o Cassino de Águas Virtuosas de Lambary em diversos posts, como estes:
Hoje falaremos um pouco sobre as obras do Cassino e seus obreiros.
Vamos lá.
A CONSTRUÇÃO DO CASSINO DE LAMBARI
Como se recorda, em 1909, Américo Werneck foi nomeado Prefeito de Águas Virtuosas de Lambary e Presidente da Comissão de Melhoramentos e Superintendente das obras de modernização e embelezamento da estância, tendo realizado, entre 1909 e 1911, a construção das obras fundadoras da cidade (Cassino, Lago, Parque Novo, Parque das Águas, Farol), além das obras de urbanização: abertura de vias de acesso ao Parque das Águas, calçamento, demolição de prédios antigos, retificação do Rio Mumbuca, luz elétrica, canalização da água potável e rede de esgotos, projeto esse que fora aprovado por Garção Stockler, quando exerceu o cargo de agente executivo municipal.
Para dar cabo desse gigantesco plano de obras, Werneck adquiriu mais de 100 imóveis, importou materiais de construção, contratou centenas de obreiros e artífices e a empresa Poley & Ferreira, do Rio de Janeiro, para elaboração dos projetos, entre eles a joia da coroa — o nosso magnífico Cassino.
Escritura de compra de terrenos por Américo Werneck. Reprodução/Facebook/Adriana M. Fonseca
Desenho em nanquim do Cassino de Águas Virtuosas de Lambary, projeto de Poley & Ferreira
Numa época em que a indústria nacional ainda engatinhava, o edifício do Cassino foi construído com materiais importados que chegaram por meio da via férrea. Desse modo, vieram: cimento e telhas, da França; ferragens, ladrilhos azulejos, peças de banheiro e materiais elétricos, da Inglaterra; pinho-de-riga, da Lituânia; canos de ferro, da Alemanha; pisos e forros, da Ásia.
Os milhares de tijolos gastos nas obras foram produzidos por dezenas de olarias existentes no vale do ribeirão São Simão, onde se formou o Lago Guanabara, nas vargens do Bairro Serrote e de "uma grande olaria a vapor no quilômetro 54 da rede Sul-Mineira para o fornecimento de quatro milhões de tijolos" (LIMA DA SILVA, 2011)
Mediante isenção aduaneira, foram importados diversos materiais de construção. Reprodução. Jornal do Comércio, 1910
Importação de material elétrico e maquinismos e acessórios (jogos de salão). Reprodução. Jornal do Comércio, 1910
Postes de iluminação para o entorno do Cassino de Lambari. Fonte: Francislei Lima da Silva
Recorde-se que a usina de força (atual prédio da prefeitura) e a iluminação pública de Águas Virtuosas de Lambary contam-se entre as obras de Werneck. Reprodução. bn.digital.gov.br
Também o primitivo sistema de água e esgoto e a caixa d'água no Alto do Sertãozinho foram obras de Werneck. Os canos de aço, pela primeira vez utilizados no Brasil, foram importados da Alemanha. (Foto de 1917)
Além da importação de materiais de construção, Werneck contratou no Rio de Janeiro diversos trabalhadores especializados (pedreiros, carpinteiros, estucadores).
[Estuque: Espécie de argamassa preparada com pó de mármore, cal, gesso, areia fina e cola, com a que se revestem paredes e tetos ou se fazem ornamentos. Fonte: Michaelis digital]
Anúncios. Procura-se bons oficiais: carpinteiros, estucadore e pedreiros para emboço e reboques. Reprodução. Jornal do Comércio, Rio, 1910
Muitos imigrantes italianos e portugueses, que vieram para Águas Virtuosas de Lambari e aqui se fixaram a partir dos anos 1890, também trabalharam nas obras do Cassino, entre eles, membros das famílias Raimundi, Rosatti, Machado, Framil, Lofiego, Lorenzo.
O Cassino em obras. Década de 1910. O cimento vinha em barricas, importado da França
Martelo que pertenceu a Antonio Rosatti, imigrante italiano que trabalhou nas obras do Cassino de Lambari. Reprodução. Facebook/Ariovaldo R. Fonseca
Rescisão do contrato de trabalho: Prefeito Américo Werneck e seu Antônio Rossati. Reprodução. Facebook/Adriana M. Fonseca
FOTO HISTÓRICA: WERNECK E OS OPERÁRIOS DAS OBRAS DO CASSINO
Durante a construção do Cassino, Américo Werneck posou com dezenas de trabalhadores para esta foto histórica.
Confira:
Reprodução. Facebook/Memória de Lambari
Foto histórica: Operários da construção do Cassino, meses antes da inauguração. Na foto, entre outros: Américo Werneck (de terno branco e bastão), e membros das famílias Lofiego, Raimundi e Machado
Acompanhado de autoridades civis e militares da União, do Estado de Minas Gerais e de Águas Virtuosas de Lambari, o Cassino foi inaugurado em 24 de abril de 1911 pelo Presidente da República Hermes da Fonseca.
Reprodução. Revista FonFon n. 572, de 1911 (bn.digital.gov.br)
Ilustração: Espingardinha de madeira e elástico para atirar milho. Reprodução. Fonte: Internet
As aventuras de Tom Sawier - Prefácio
A maioria das aventuras relatadas neste livro foram vividas: uma ou duas me são pessoais, as outras aconteceram com meus colegas de escola. Huck Finn é descrito na sua essência, Tom Sawier também. Os traços deste último são, no entanto, emprestados de três garotos conhecidos meus: consequentemente ele pertence ao que os arquitetos chamam de ordem composta.
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Ainda que este livro tenha como objetivo principal divertir os jovens, espero que seja apreciado também pelos adultos aos quais me propus, igualmente, fazer lembrar, para seu prazer, o ambiente em que viveram, seus sentimentos, sua mentalidade na época e as empreitadas, por vezes curiosas, das quais puderam participar.
Mark Twain. Hartford, 1876
Há tempos venho mexendo e remexendo no conto A guerra das espingardinhas, capítulo XXIX do meu livro Menino-Serelepe, com o objetivo de desenvolver o texto e transformá-lo num livro infantojuvenil.
Aliás, já me referi a esse livro embrionário em 3 posts aqui no GUIMAGUINHAS:
Pois bem, esta semana minha neta Maria Elisa, após ler o post Desenhos, leituras e contação de histórias (aqui), me perguntou, no WhatsApp, sobre o tal livro A guerra das espingardinhas, dizendo que não o conhecia e se eu já o tinha escrito.
Passei a ela os links supracitados, e disse que não havia terminado o livro, mas que ia fazer isso logo, logo, pois a heroína da história é uma menina que se parece com você (Maria Elisa) e sua prima (Isabela), daí: Maria Bela.
Em casa recolhido, com tempo de sobra, e após a cutucada de minha neta, fui à procura dos planos, anotações, fotos e rascunhos do livro.
Foi assim que nasceu esta série, em que vou contar os bastidores de A guerra das espingardinhas: quem são os personagens (reais e ficcionais), em que locais a história se deu, recursos literários utilizados e livros inspiradores, e outras informações de autor, e, ao fim, vou antecipar capítulos do livro aos leitores do site GUIMAGUINHAS.
Vamos lá? Voltar aos meados dos anos 1960, em Aguinhas (nome literário desta nossa Lambari), numa esquina famosa?
Trata-se da esquina da Rua Tiradentes com a antiga Rua Teófilo Otoni (atualmente Rua Fabiano Pereira Krauss), ponto de partida desta história, onde se reunia um grupo de meninos e meninas — a Turma da Tiradentes — que eram muito unidos, ativos e arteiros, e que, para se defender de um grupo rival agressivo e malvado, tiveram que fazer uma guerra — que ficou conhecida nas tradições de Aguinhas como A guerra das espingardinhas.
Em frente, pois.
Veja também os seguintes posts sobre a A GUERRA DAS ESPINGARDINHAS |
Lambari, MG. Esquina da Rua Tiradentes com a antiga Teófilo Otoni. GoogleMaps, 2012
Armas de brinquedo Hoje em dia, as crianças não brincam mais de armas de brinquedo, e está mesmo interditada a fabricação, importação circulação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir. Muitos pais e educadores, de outro lado, também têm orientado as crianças a não fazer uso de armas de brinquedo. Isso de fato constitui um avanço nos costumes e na formação das crianças, em face de um mundo violento e conturbado. Mas no meu tempo de criança, nos anos 1960, a gente brincava. Mais do que isso: nós mesmos construíamos nossas "armas" e nos divertíamos a valer. |
Abaixo vai o conto original, publicado no livro MENINO-SERELEPE, em que a história é narrada resumidamente.
Agora, no livro A guerra das espingardinhas, o tema central é ainda a guerra entre turmas de meninos, só que com a inclusão de diversos elementos, circunstâncias e personagens essenciais à trama da história e ao seu desfecho, tais como: quem é Maria Bela, como ela veio morar em Aguinhas, como se enturmou ao grupo da Esquina da Tiradentes, como conheceu e se ligou ao personagem Serelepe. E também: como se formou a turma de meninos maldosos contra quem a turma da Tiradentes vai lutar, por que razão se deu a guerra. E mais ainda: a descrição dos cenários, dos preparativos, das estratégias e do grand finale da histórica batalha.
Os textos abaixo, extraídos de A guerra das espingardinhas, mencionam alguns personagens da nossa história.
Confira:
Recortes de texto Ao tempo que conversava, recordava e tomava notas, fui me lembrando nitidamente das carinhas de cada um dos membros do grupo − Turquinho, Espicula, Nice, Binélson, Nuninha, Gaia, Tista, Xandi, Xepinha, Tadeu, Zé Elias, Magrelo, Careca, China, Paulinho do Ico, Vaduca, Chis e, claro, Serelepe. Meninas e meninos éramos então, e ninguém com mais de doze anos. ........................................ De repente, um bando de meninos, de várias classes, e que se atraíam magneticamente na hora das peladas, entre eles Xandi, Binelson, Careca, Espicula, Zé Elias e Serelepe, este carregando a bola, passaram em disparada. ........................................ E eu mesma escalei nosso time: Eu, Maria Bela, no gol, Serelepe e Magrelo na zaga, Binelson e Xandi no meio e Xepinha na frente. O resto aguarda na reserva, que vão entrar no segundo tempo. E o jogo começou. ...................................... A turma era heterogênea, e nela cabiam desde o Xandi, o Zé Elias e o Binelson, que provinham de famílias tradicionais, mas não tinham o travo dos meninos “riquinhos”, como também Zé, seu Altino, Espicula e Cida, que eram muito pobres, filhos de operários. Mas todos se ajustavam às “regras” do grupo, que eram negociadas e consentidas por cada um de nós. O China era filho de japoneses, nissei, portanto, mas para nós era “China”... |
Foi com base em pessoais reais, muitas delas mencionadas no livro MENINO-SERELEPE, que redigimos os textos acima, mas incluímos alguns outros personagens de ficção para compor a história.
Por exemplo, das personagens mencionadas nos textos acima, quem efetivamente participava de nossas brincadeiras de guerras de espingardinhas, estoques, etc. costumava ser: Serelepe, Turquinho, Nice, Gaia, Tista, Cida, Zé e seu Altino.
(1) Jorge Careca e Eunice (1967) — (2) Ana Alice (anos 1960) — (3) Alexandre e Guima, Rubens Nélson e José Elias, formatura do João Bráulio, 1966
Espicula, China e Chis, por outro lado, são personagens ficcionais. Outros personagens baseados em pessoas reais, como Tadeu e Zé Elias, não participavam das batalhas de espingardinhas.
Os personagens do jogo de futebol: Xandi, Binélson, Magrelo e Xepinha, e bem assim as meninas Nuninha e Gaia, são baseados em pessoas reais.
Alexandre, Xepinha e Celinho, Quadra da S.O.L (1967)
Alexandre, Celinho, Xepinha e Rubens Nélson. Mirim do Águas (1968)
O Serelepe: (1) Guima, com 7, 11 e 12 anos
Os personagens integrantes da Cupincharia dos Boys são ficcionais, e assim também Nassinho, Conchão e o delegado Mostardinha.
Algumas outras pessoais reais são mencionadas ao longo da história, entre elas: Dona Sara Bacha, Elias Bacha, Anita Carvalho, Maria José Moreira, Terezinha Machado, Osvaldo Dutra, Paulo Minguta, Ico Scaldaferri, Dade Modesto, Ivan Lins, Nascime Bacha, Dé da Farmácia, Neli Guimarães, Catarina Bacha.
D. Catarina Bacha
D. Dade Modesto, na agência da Evanil
Guima. Esquina da Tiradentes x Teófilo Otoni, 1967
Esquina da Tiradentes. Luiz e Silvio do Paulo Minguta. Anos 1950
E, claro, Maria Bela e seus parentes (avós, pais e tias) são todos personagens fictícios.
Maria Bela, cest moi!
Não existiu uma Maria Bela, trata-se de uma personagem fictícia, com o duplo papel de ser a narradora e a heroína da história.
O nome Maria Bela foi composto a partir dos nomes de minhas netas Maria Elisa e Isabela. Como elas gostam muito de ler e escrever, — e até já publicaram seus primeiros livrinhos (aqui) — é este um modo de estimulá-las a que continuem e desenvolvam seu talento Quanto à personagem Maria Bela, ela foi inspirada em muitas meninas que de fato brincavam com os meninos, lá pelos meados da década de 1960, na esquina da Tiradentes com a Teófilo Otoni. Algumas delas eu referi no livro Menino-Serelepe: Vilminha, Cida do Zé da Fábrica, Eunice Bacha e suas amigas veranistas do Hotel Rezende, a lourinha do Circo do Careca. |
No livro Menino-Serelepe, escrevendo na primeira pessoa, o narrador deixa claro (até no subtítulo da obra: Um antigo menino levado contando vantagem) que está contando vantagem... Pois bem, neste A guerra das espingardinhas os personagens da Turma da Tiradentes fazem suas tropelias, mas são mostrados como pessoas inteligentes, criativas e destemidas, e o autor do livro (Guima, o Serelepe) optou por deixar que outra personagem contasse a história. Por esse motivo criou Maria Bela.
Com esse artifício, o autor se apropriou da voz de Maria Bela. A voz de Maria Bela é, na verdade, a voz do autor, e, assim, esse poderá sempre se desculpar: — Não fui eu que escrevi isso, foi Maria Bela.
Desse modo, ele pôde contar vantagem, exagerar lances, pintar de herói a si e seus amigos, sem receio de parecer exibido, mascarado, mentiroso.
A GUERRA DAS ESPINGARDINHAS Dedicatória do livro Este livro é para minhas netas Maria Elisa e Isabela, que inspiraram MARIA BELA, a heroína desta história. E é também para Celeste Emília, que teve – e ainda tem, na convivência com os netos – seu tanto de MARIA BELA. |
(Gertrude Stein) construiu sua própria biografia da maneira mais engenhosa possível. A narradora do livro é Alice, companheira de Gertrude Stein durante toda a vida, o que lhe permitiu falar de si própria em terceira pessoa e claro, tecer elogios a si mesma sem falsa modéstia.
A AUTOBIOGRAFIA DE ALICE B. TOKLAS. Gertrude Stein. L&PM
No post Quem vai contar as pequenas histórias (aqui), procurei estimular os leitores do meu blog e aqueles que interagem comigo nas redes sociais a que contem suas histórias pessoais, como eu próprio venho fazendo com a série HISTÓRIAS DE AGUINHAS (aqui).
Nos livros anteriores dessa série, todos eles tendo como cenário a cidade de Lambari (que nos livros é chamada de Aguinhas), utilizei diferentes formas narrativas, quais sejam:
Pois bem, neste livro A guerra das espingardinhas a narrativa da história é feita por uma das personagens principais: Maria Bela.
Neste livro, o autor faz uso de um recurso narrativo à la Gertrude Stein, falando de si mesmo e de suas brincadeiras de criança por meio de uma narradora-menina, arteira como Pélica, geniosa como Emília, mordaz como Morley, que conta as aventuras na primeira pessoa, de forma alegre, dinâmica, numa linguagem cheia de sentenças terminantes, ditos curiosos e frases e expressões costuradas por hifens, muitos deles correntes na língua e outros criados por ela mesma.
Texto extraído da orelha do livro A GUERRA DAS ESPINGARDINHAS
Com esse artifício, Maria Bela funciona como uma "testemunha fictícia" da história e a narra do seu ponto de vista, além de colar trechos de um "diário" que supostamente elaborara na sua infância/adolescência.
Para introduzir a personagem-autora Maria Bela, e contar como ela escreveu o livro, extraímos também desse "diário" duas páginas, e as pusemos no capítulo 4 intitulado Pequena história dos meus oito anos.
Tudo isso, esperamos, para tornar a história mais atraente e bem contada.
Tomara eu tenha acertado o tom e que meus leitores gostem.
O Enzo – aquele meu primo distante, com fumaças de escritor, lembra-se dele? –, que veraneava por aqui, pediu pra ler, gostou e fez uma pequena apresentação.
TRECHO DO LIVRO A GUERRA DAS ESPINGARDINHAS
A trama de A guerra das espingardinhas requereu também que o texto da apresentação e da contracapa do livro fossem escritos por um personagem, e para isso fizemos uso de "um primo distante" de Maria Bela com "fumaças de escritor, chamado Enzo Salgatti.
Um amigo do autor, que leu os originais e quis permanecer anônimo, redigiu esses dois textos.
Confira um dos textos referidos:
Como está no post Como escrevi o "Menino-Serelepe" (aqui), o escrever um livro pressupõe muita leitura, pesquisa, treino, escritura e reescritura, e certas obras inspiradoras da história que se quer contar.
No caso deste A guerra das espingardinhas, partimos de um fato verdadeiro: sim, brincávamos de guerra de espingardinhas de milho e disputávamos com outras turmas. Mas, para desenvolver a história, compulsamos muitos livros e autores, que aparecem citados e/ou referidos nas narrativas, como estes:
(Qual foi sua intenção ao escrever Menino-Serelepe?)
Foi um modo de resgatar o mundo em que nasci e no qual fui criado. A maneira que encontrei para registrar e fixar os costumes, a cultura, a fé religiosa e o modo de falar das pessoas com quem convivi. Aliás, cheguei mesmo a incluir no livro o Vocabulário de Aguinhas, com cerca de quinhentos ditos, expressões e palavras populares da região Sul de Minas.
(Antônio Lobo Guimarães – autor do livro Menino-Serelepe - Entrevista ao Boletim Regional da 1ª. Região Fiscal/RFB, 2010)
Nos livros da série HISTÓRIAS DE AGUINHAS que tenho publicado, na qual utilizo o pseudônimo literário de Antônio Lobo Guimarães, sigo a orientação que pus acima: falar das gentes, da parentalha, dos costumes, das brincadeiras e do modo de expressar das pessoas com quem convivi, especialmente meus avós, que tiveram importante papel na minha criação/formação.
E esse também é meio de dar conhecimento aos meus filhos e netos das formas de expressão de seus antepassados.
Assim, o ter resgatado palavras, expressões e ditos antigos, com que recheamos o texto deste A guerra das espingardinhas, faz parte daquela diretriz.
Confira esta pequena amostra:
PALAVRAS E EXPRESSÕES
FRASES FEITAS
A capa do livro ainda não foi concluída, mas há modelos possíveis em estudo.
Os dois primeiros modelos foram montados com base em ilustrações feitas pelo brasileiro Henrique Alvim Corrêa (1876-1910) para o livro A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, edição de 1906.
O terceiro, sobre uma foto de uso livre, disponível na internet.
Como dissemos, toda a história se passa em Lambari, MG, no entorno da Esquina da Tiradentes/Teófilo Otoni: local em que verdadeiramente minhas turminhas de infância costumávamos brincar.
Nas fotos e croquis abaixo, tentamos resgatar imagens daqueles locais, a maioria deles já muito alterados. Mas dá pra se ter uma ideia dos cenários da história e visualizar melhor os lances da trama.
Cenário de A guerra das espingardinhas. Toda a história se desenrola nos locais indicados no círculo. Lambari, MG. Vista aérea. Final anos 1950
Planta baixa do cenário da batalha decisiva de A guerra das espingardinhas
Cenário de A guerra das espingardinhas. Outro ângulo de visão. Lambari, MG. Vista aérea. Anos 1960
Cenário de A guerra das espingardinhas, com indicação mais detalhada dos locais em que a história se passa. Lambari, MG. Vista aérea. Anos 1960
A Farmácia Santo Antônio, a Casa da Dona Sara e seus porões e o observatório em cima dos depósitos da farmácia, de onde se podia observar o movimento do Parque das Águas e da Rua Tiradentes
Planta baixa da Farmácia Santo Antônio, da casa da Dona Sara e do observatório da Turma da Tiradentes
Planta baixa do cenário e lances da batalha final de A guerra das espingardinhas
Cenário de A guerra das espingardinhas. Lambari, MG. Vista frontal do Parque das Águas. 1960
Cenário de A guerra das espingardinhas. Rota do esconderijo da Cupincharia dos Boys. Lambari, MG. Vista aérea. 1960
Cenário. Fundos do Arranca-rabo, local em que passa a a batalha que decidiu a famigerada Guerra das espingardinhas. Lambari, MG. Antiga Rua Teófilo Otoni. Anos 1960
Caldeira na (antiga) Rua Teófilo Otoni. Passagem secreta para esconderijo da Turma da Tiradentes. (Na foto, D. Neli, mãe do personagem Serelepe). Lambari, MG. Anos 1960
Início dos anos 1970.Cenário de A guerra das espingardinhas. Arranca-rabo e fundos da antiga madeireira, local aqui já bastante modificado em face das obras preparatórias para a construção da piscina, hoje existente no local.
Início dos anos 1970. Cenário de A guerra das espingardinhas. Arranca-rabo em obras e, ao fundo o Hotel Velho. Locais já bastante modificados com o início da construção da piscina de água mineral. O Hotel Velho seria posteriormente demolido.
Início dos anos 1970. Cenário de A guerra das espingardinhas. Arranca-rabo. Obras.
Cenário de A guerra das espingardinhas. Vista aérea. Ano 2012 (GoogleMaps)
Cenário de A guerra das espingardinhas. Esquina da Rua Tiradentes com (antiga) Teófilo Otoni.Ano 2012 (GoogleMaps)
Cenário de A guerra das espingardinhas. Esquina da (antiga) Rua Teófilo Otoni com Tiradentes. Ano 2012 (GoogleMaps)
Cenário de A guerra das espingardinhas. Vista da (Antiga) Rua Teófilo Otoni. Ano 2012 (GoogleMaps)
Cenário de A guerra das espingardinhas. Vista da antiga Rua Teófilo Otoni (fundos do antigo Arranca-rabo; atualmente é a piscina do Parque das Águas). Ano 2012 (GoogleMaps)
O livro A GERRA DAS ESPINGARDINHAS encontra-se à venda na editora UICLAP, neste link:
https://loja.uiclap.com/titulo/ua13587
O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem trata-se de uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS.
Ilustração: Vovó contando histórias assustadoras para a criançada. Fonte: Copilot/Microsoft
Nesta série RECANTO DOS NETOS contamos histórias das únicas criaturas que são mais encantadoras do que nossos filhos: os filhos dos nossos filhos — os nossos netos.
Como dito anteriormente, oito são os nossos netos: Leo e Rafa; Maria Elisa e Paulo Emílio; Isabela e Rafaela; e Cecília (e Guga, que veio em 2022)
Nesses últimos dias, andam todos em recolhimento social, mas de carinha boa. [Exceto o Guga, que chegou depois]
Confiram:
Rafael e Leonardo | Paulo Emílio e Maria Elisa |
Cecília e Guga | Rafaela e Isabela |
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Dito isso, neste post (e nos seguintes desta série), vamos contar um pouco de como eles passam as férias e feriados na Casa Gorda (nome dado por Rafa e Leo à casa da vó Celeste. Veja aqui)
Quando em Lambari, os netos
(...) brincam o dia inteiro ... de andar de bicicleta, rodar pião, jogar bolinha de gude, soltar pipa lá no morro (...) À noite, ... jogam videogame, mas a brincadeira mais gostosa é o pique-esconde na rua ou então a queimada.
Pois bem, dessas e de outras atividades, todos gostam muito, mas hoje vamos falar de um tema que faz grande sucesso na turminha: histórias assustadoras da vó Celeste.
Vamos lá.
Internet. Reprodução. Fonte: picsels.com
Vó Celeste, Vô Guima e Paulinho e Rafaela
Três motivos principais há para contarmos essa história aqui no RECANTO DOS NETOS. O primeiro se refere ao momento por que estamos passando, todos nós, a humanidade inteira, em face da crise mundial do Coronavírus/Covid19. Essas lembranças de passagens felizes com nossos netos têm ajudado a mim e a Celeste a suportar a sua ausência, visto que todos eles moram fora de Lambari. O segundo diz respeito a compartilhar nossa experiência com pais e avós leitores deste espaço eletrônico, ressaltar a importância da contação de histórias e de estímulo à leitura, desde os primeiros anos da criança, e incentivar a que façam o mesmo que nós. E o último tem a ver com nossos próprios netos: queremos deixar-lhes um registro, uma memória desses tempos felizes, para que tenham histórias para contar e lembranças para narrar, quando eles próprios estiverem a entreter seus netos. |
Casa assombrada... Meia-noite... Escuridão!
De repente, um homem na janela... com uma faca na mão!...
— Passando manteiga no pão...
Vó Celeste, dando início à contação de "histórias assustadoras"
Todos tivemos nossos contadores de histórias. Eu, por exemplo, como anotei no meu livro de memórias (Menino-Serelepe), ouvi histórias de meus pais e meus avós, e tenho no meu avô paterno — José Batista, o Pai Véio — o contador de histórias preferido (aqui).
E bem assim minha mulher também ouviu muitas e muitas histórias — algumas delas "assombrosas" — contadas por seus pais e avós.
Celeste, aliás, até escreveu um livro infantil, contando uma história "assustadora", que se deu com os netos Leo e Rafa.
Vejam este trechinho:
Três horas da manhã um barulho estranhíssimo acordou o Leo. Era um barulho assustador. Não era aquele barulhão do caminhão que pega o lixo de madrugada e nem era o barulhão dos ônibus que passam perto da sua janela lá na cidade grande. Era uma coisa horrível, que o Leo nunca tinha escutado antes. Ele ficou em pânico. Primeiro, berrou tanto que acordou o irmão, o Rafa. Depois o Rafa também escutou aquele barulho horrível e, como eles são gêmeos, o que um faz o outro faz igual, começou a chorar também. (O galo e a coruja cupinzeira por Celeste Krauss).
Pois bem, desse modo foi que ela tomou gosto pela coisa e hoje adora contar historias para os netos, como as narrativas tradicionais (O homem do saco, João e o pé de feijão, Os três porquinhos), os mitos do folclore (Saci Pererê, Capora, Mula sem cabeça, etc.), os contos de fada (Chapeuzinho vermelho, A bela adormecida), etc.
Mas o que vovó Celeste e as crianças gostam mesmo é de uma história bem "assombrada"...
Huuuuuu!!!!
(Reprodução. Fonte: jornalcruzeiro.com.br)
picsels.com. Reprodução
Trata-se, no entanto, de um assombramento leve, de um susto do qual as crianças logo se recompõem, que não deixa mazelas nem as atemoriza, como é o caso destes gibis e desenhos que elas adoram:
Reprodução. Internet e frame YouTube
OS PALCOS DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Minhas estórias da Carochinha, meu melhor livro de leitura
capa escura, parda, dura, desenhos preto e branco.
Eu me identificava com as estórias.
Fui Maria e Joãozinho perdidos na floresta.
Fui a Bela Adormecida no Bosque.
Fui Pele de Burro. Fui companheira de Pequeno Polegar
e viajei com o Gato de Sete Botas. Morei com os anõezinhos.
Fui a Gata Borralheira que perdeu o sapatinho de cristal
na correria da volta, sempre à esperea do príncipe encantado,
desencantada de tantos sonhos
nos reinos da minha cidade.
CORA COLINA. Meu melhor livro de leitura. Vintém de Cobra (1984)
Pra contar uma história, é preciso um público interessado e atento e um bom palco. Assim, vó Celeste organizou dois lugares especiais para contar suas histórias assustadoras.
E neles ajuntam não só os netos, mas também sobrinhos-netos e amigos da criançada.
Sala com lareira
Fogueira no terreiro, com netos e sobrinhos-netos da vó Celeste
No chalezinho, preparando a fogueira, elemento indispensável no cenário das histórias assustadoras
Quando acende a fogueira, é porque vai ter contação de histórias assustadoras
Hoje tem churrasquinho no pão, antes da contação de histórias
Ah, depois das histórias tem marshmellow! Na foto, netos e sobrinhos-netos da vó Celeste e amigos da criançada
Quando o frio aperta, bom é ficar na cama ouvindo histórias assustadoras
Noite fria e histórias horripilantes — melhor é ficar todo mundo juntinho...
DEPOIS DE OUVIR — CONTAR, LER E ESCREVER HISTÓRIAS
No ler e contar histórias para crianças — as histórias familiares, inclusive, das quais já falamos aqui e aqui — há não somente a parte lúdica, estética, emocional, como o estímulo a que façam o mesmo: contem histórias, deem asas à imaginação, inventem, criem.
Isso abre o mundo da leitura e da escrita.
E vimos — eu e Celeste — isso acontecer aqui na nossa família. Contávamos ou líamos uma história e abríamos espaço para que as crianças fizessem o mesmo. E havia uma "disputa" entre eles. Rafa e Leo, os mais velhos, narravam histórias em forma de roteiros, com começo, meio e fim, como se fossem montar um filme. As meninas, mais novas, contavam ou inventavam historietas do seu universo: os contos de fadas, os gibis, os desenhos e filmes a que tinham assistido.
E isso abria-lhes a mente, inspirava-os.
E os livros de histórias foram se amontoando. Inicialmente, "liam" as gravuras; depois de alfabetizados, começaram a ler tudo que pudessem. Mais à frente, começaram a "escrever" suas histórias.
Veja o que contamos sobre esse ponto:
Veja também este outro livro de Rafa e Leo, em parceria com o coleguinha Marco Thúlio, uma história de suspense intitulada ⇒ A fuga do supermercado:
Conforme já contamos aqui, fomos montando na Casa Gorda uma biblioteca infantil, que se renova a cada período de férias, com livros que compramos e outros mais, como os utilizados na escola, os adquiridos usados, em sebos, os presentes de aniversários [1] e também uns livros que foram distribuídos gratuitamente pelo Banco Itaú. [2]
E hoje temos livros que serviram a uns e vão servir a outros, à medida que vão crescendo.
[1] Aquisição de livros
Além das bibliotecas públicas e escolares, e de e-books gratuitos ou a preço módico disponíveis na internet, há muitas maneiras de conseguir literatura infantil/juvenil para nossos filhos e netos.
Por exemplos, podemos começar pelos livros escolares, de literatura inclusive, distribuídos nas escolas.
Podemos adquirir os mais acessíveis, como os livrinhos de história que podem ser encontrados a preço mínimo em lojas de 1,99 ou em sebos on-line, que vendem livros usados (em bom estado e a preço reduzido).
Podemos distribuir lista de livros como sugestão de presentes (aniversário, dia da criança, Natal).
Podemos formar uma biblioteca comunitária, composta de parentes e amigos, para troca e empréstimo de livros.
Podemos ler (ou assistir vídeos) ou baixar e-books gratuitos (ou vídeos) na internet.
Podemos baixar o aplicativo Kindle (ou outro semelhante) para o qual há centenas de livros infantis gratuitos, para serem lidos no celular, no IPad, no notebook (veja aqui)
[2] Kidsbook - Itaú Criança
Tempos atrás, o Banco Itaú fez uma campanha de distribuição gratuita de livros infantis, que se dava mediante o preenchimento de cadastro. Essa campanha, contudo, foi encerrada. Mas a instituição mantém uma página eletrônica com livros infantis que podem ser baixados ou lidos on-line.
A ideia de uma literatura infantil e juvenil é bem menos antiga que a de literatura, sem qualificativos. É a partir do século XVII, com a publicação de Fábulas e As Aventuras de Telêmaco, ambas escritas por Fénelon (1651-1715), que é a inaugurada a produção literária dirigida às crianças e jovens. Há, contudo, obras anteriores à de Fénelon, publicadas nos séculos XVI e XVII, como os textos de Gonçalo Fernandes Trancoso (15--), Giovanni Battista Basile (1575-1632), La Fontaine (1621-1695) e Charles Perrault (1623-1703), que posteriormente viriam a ser reputados como clássicos da literatura infantil. Além desses, há as narrativas da Grécia e Roma clássicas, como Esopo e Fedro, na tradição das fábulas.
LITERATURA INFANTIL E JUVENIL. Enciclopédia Itaú Cultural
Da infância da humanidade, das culturas primitivas às clássicas, do Oriente ao Ocidente, mitos, lendas, fábulas passaram de geração a geração, de povo a povo, de civilização a civilização.
Contadas e recontadas, recriadas, renovadas, narrativas antiquíssimas e longínquas foram, através dos tempos, migrando de cultura em cultura.
Na idade medieval europeia, a partir do Século XIV, as narrativas orais clássicas, míticas e lendárias, começam a dar lugar a narrativas em prosa e verso (narrativas poéticas, gestas cavaleirescas, novelas românticas), essas grandemente influenciadas e enriquecidas pela migração dos contos maravilhosos do oriente, traduzidas do sânscrito e do árabe.
Nesse período, no caldeirão cultural que aí se formou, é que vamos encontrar as raízes da literatura infantil europeia (Perrault, Grimm e Andersen), que chegou aos nossos dias.
Recorde-se ainda que navegadores ibéricos, cujos países dominaram os mares a partir do Século XVI, levaram e trouxeram contos, histórias, lendas e fábulas, nas relações com os povos que conquistaram (África, América) e/ou países com que estabeleceram comércio (Ásia). Acresça-se também que famílias, funcionários e missionários religiosos portugueses e espanhóis se fixaram nas colônias, e que comerciantes ibéricos se estabeleceram em muitos dos novos mercados que foram descobertos. Tempos depois, outros povos europeus seguiram o mesmo caminho.
Esses desbravadores — fossem franceses, portugueses, holandeses, espanhóis, ingleses — onde residiam, se casavam, tinham filhos e contavam e ouviam histórias seculares. Histórias que, ao longo do tempo, foram enriquecidas ao contato com povos indígenas e negros escravizados. E as histórias dos europeus também influenciaram culturas locais.
E os contos, lendas e fábulas, que a tradição oral ia propalando e enriquecendo, correram mundo e se espalharam por inúmeras culturas.
Esse contexto histórico explica, por exemplo, a ocorrência dos contos universais, isto é, contos assemelhados que a tradição oral espalhou pelos Continentes. Quando se investigam as origens e as formações das histórias populares, vê-se que, com pequenas variantes, contos como A gata borralheira, João e Maria, O sapo com medo d'água e O sapo e o coelho aparecem em vários pontos do globo.
Contos clássicos de origem europeia
Das penas hoje lendárias de Charles Perrault (1628-1703), dos Irmãos Grimm, (Jacob/1785-1863 - Wilhelm/1786-1859), de Hans Christian Andersen (1805-1872) — que a seu tempo recolheram tradições populares, suavizando-as, retirando passagens escabrosas, e bem assim recontaram antigas histórias e escreveram outras —, podemos citar, por exemplos:
De origem popular, vindos de Portugal e Espanha:
Contos origem ameríndia e africana
ESCRITORAS LAMBARIENSES E HISTÓRIAS INFANTIS
Sobre Alaíde e Henriqueta Lisboa, já escrevemos diversas vezes no GUIMAGUINHAS, como aqui, aqui e aqui.
Nascidas em Lambari, as irmãs se transferiram depois para Belo Horizonte. Escritoras, poetas, professoras, Alaíde e Henriqueta também se interessaram por literatura infantil.
Alaíde publicou cerca de 30 livros entre ensaios de educação, didáticos e literários. Foi professora em Lambari, no Instituto de Educação de Minas Gerais e na Universidade Federal de Minas Gerais. Foi colaboradora do Estado de Minas. Na área de literatura infantil, escreveu o clássico A Bonequinha Preta, que teve sucessivas edições desde 1938, e O Bonequinho Doce.
Henriqueta estreou na poesia com o livro Fogo fátuo, em 1925. Em Belo Horizonte atuou como poeta, tradutora, ensaísta e professora. Publicou 17 livros e mais quatro volumes com seleção de sua poesia. Muito do seu livro de poesias O menino poeta e a coletânea de lendas e contos Literatura oral para a infância e a juventude contam-se entre obras de literatura infantil.
Um clássico sobre o folclore no Brasil
E não se esqueça de Basílio de Magalhães, o professor, escritor e político que viveu e morreu em Lambari, e aqui está enterrado (veja aqui), e de sua obra magistral sobre o Folclore no Brasil.
Estudo sobre o folclore brasileiro, feito com erudição e farta bibliografia. Análise dos livros sobre o assunto publicados até 1928, data da edição da obra de Basílio de Magalhães. O autor examina manifestações populares segundo conceitos bem sintonizados com a pesquisa europeia realizada à época. Contém ainda oitenta e um contos populares recolhidos por João da Silva Campos.
À venda na livraria do Senado Federal:
https://livraria.senado.leg.br/index.php?_route_=o-folclore-no-brasil-vol-253
AOS MENINOS DO BRASIL
Ainda me lembro hoje da Velha Totônia, bem velha e bem magra, andando de engenho a engenho, contando as suas histórias do Trancoso.
Não havia menino que não quisesse um bem muito grande, que não esperasse, com o coração batendo de alegria a visita da boa velhinha, de voz tão mansa e de vontade tão fraca aos pedidos dos seus ouvintes.
Todas as velhas Totônias do Brasil se acabaram, se foram. E outras não vieram para o seu lugar. Este livro escrevi pensando nelas... (...)
JOSE LINS DO REGO. Histórias da velha Totônia. Introdução
Com as facilidades da internet, há um mundo de histórias, vídeos e músicas infantis disponíveis.
Confira estes exemplos:
Oito contos de Charles Perrault
Disponível aqui: https://www.pensador.com/contos_de_charles_perrault/
Disponível aqui: https://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/index?page=1
Três contos de Andersen (vídeo)
A Pequena Sereia - A Rainha da Neve - A Pequena Vendedora de Fósforos
Disponível aqui: https://www.youtube.com/watch?v=6km03abj9u0
Reprodução. multiplasoralidades
Aqui: Contos do folclore
Annie e Ben - Histórias assustadoras para crianças
Reprodução (frame) YouTube
Contos clássicos para crianças que falam do medo
Reprodução. Guiainfantil.com
João sem medo. Aqui: https://br.guiainfantil.com/materias/cultura-e-lazer/contos-infantis/conto-infantil-joao-sem-sedo/
Rolando Boldrin e Ranchinho: https://www.youtube.com/watch?v=HRC6RXv0AD8
Ilustração. Reprodução Youtube.Beatriz Blanco/UNICAMP
Para saber mais
O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem trata-se de uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
O e-book O galo e a coruja cupinzeira, de Celeste Krauss, romanceia uma história real acontecida com nossos netos, os gêmeos Leonardo e Rafael, já foi comentado no GUIMAGUINHAS (aqui) e está disponível, em forma de e-book, distribuído gratuitamente (aqui)
As belíssimas ilustrações desse livro são de autoria de Fabiana Martins, designer que se assina Fabi Martins, que já fez trabalhos para a Folha de S. Paulo, Jornal São Paulo, Propaganda Trip, entre outras publicações (aqui).
Ilustração: Recorte capa da narrativa Um N que virou M, de minha neta Isabela
Nesta série RECANTO DOS NETOS contamos histórias das únicas criaturas que são mais encantadoras do que nossos filhos: os filhos dos nossos filhos — os nossos netos.
Como vimos escrevendo nesta série RECANTO DOS NETOS, a renca de netos de Celeste e Guima já conta 8 alminhas: Leo e Rafa; Maria Elisa e Paulo Emílio; Isabela e Rafaela; e Cecília e Gustavo.
A bisavó Neli e seus bisnetos: Paulo Emílio, Leonardo, Rafael, Isabela, Rafaela, Maria Elisa e a caçulinha Cecília. Passagem do ano de 2020
Pois bem, neste post vamos contar como divertimos os netos com desenhos, leituras e contação de histórias, e mostrar uma historinha narrada por Isabela — para nós a Bebela — a interessante história de Um N que virou M.
Bebela (acima à direita) e sua família: os pais José e Paula, tendo ao centro Rafa e Meg
Vamos lá.
DESENHOS, LEITURAS E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Era uma casa assombrada!!! As luzes todas apagadas...
Todo mundo dormindo... De repente, um grito:
— Chiiico!!! cadê o penico!!!
Vó Celeste, dando início à contação de "histórias assustadoras"
Quando os netos começaram a chegar, eu e Celeste, que tivemos excelentes avós, tentamos seguir o modelo. Como eles foram grandes contadores de histórias, procuramos fazer o mesmo para os filhos dos nossos filhos.
Pelo fato de morarmos longe dos netos, sempre que estamos juntos em Lambari, os encontros, além de passeios, brincadeiras de pipa-trolinho-pique, jogos, filmes e especialidades da vovó cozinheira, têm muitas histórias, revistas em quadrinhos, livros e músicas infantis — e caixas e caixas de lápis de cor, giz de cera, centenas de rabiscos, milhares de desenhos...
"Artistas" mostram o seu "talento"
As portas da Casa Gorda estão permanentemente "decoradas" com trabalhos das netas
E há também um tempão de contação de histórias...
E a "casa da vovó" e o "critório do vovô" (como diz a Rafa. Veja aqui), têm espaços próprios para essas atividades, bem como o "chalézinho" do Morro do Selado.
Espaços de escritura e leitura
E na Casa Gorda foram destinados espaços para as crianças rabiscarem, desenharem, escreverem e lerem à vontade...
O vovô teve de abrir espaço no "critório" para as netas: a mesa de trabalho das desenhadeiras e escrevedeiras, com livros infantis, folhas, cadernos, notebook, lápis, giz, cola, etc. etc. etc.
Entre os livros, estão: Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll), O menino marrom (Ziraldo), O mágico de Oz (Frank Baum), Silvia Pélica na Liberdade (Alfredo Mesquita, ilustração de Hilde Weber), O menino do dedo verde (Maurice Druon), Viagens de João Peralta e Pé-de-Moleque (Menotti Del Picchia), O Pequeno Príncipe (Saint-Exupéry), Aventuras do menino Chico de Assis (Luís Jardim), A famosa invasão dos ursos na Sicília (Dino Buzzati), O mistério do caderninho preto (Ruth Rocha), A invenção de Hugo Cabret (Brian Selznick) e muitos outros mais...
Na escrivaninha do quarto das meninas, mais livros. Entre eles, a coleção de livros infantis que ganhei de Sérgio Klein, meu colega da RFB, falecido muito jovem.
Veja aqui: https://editorafundamento.com.br/autores/index/profile/hash/sergio-klein
Procuramos incentivar, também, que contassem suas próprias histórias — e inventassem outras...
De início, fizeram isso oralmente, depois na forma de desenhos...
Todos eles ardiam de vontade de aprender a ler e escrever... Sonhavam com isso, enquanto iam desenhando figuras e rabiscando supostos diálogos e lances de grandes aventuras...
Por essas e por outras razões — apoio dos pais, boas escolas, professoras dedicadas, outros avós mais presentes do que nós pudemos ser —, noveis "contadores de histórias" foram aparecendo:
— Rafa e Léo tiveram redações já publicadas:
Livro editado pela Escola Mãe da Divina Providência, com redações de alunos (Brasília, Widbook+Edra, 2015) — Maria Elisa deu início à sua produção literária: Como já contamos, Maria Elisa escreveu dois livros: Lúcia: aventura no lugar mágico e A surpresa. Confira aqui: https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=57083 — E agora Isabela escreveu sua primeira história: Como se pode ver aqui: A história da Bebela |
Abaixo, o texto Um N que virou M, uma história contada por Bebela.
Confira.
[*] Foram corrigidos alguns erros de sintaxe, ortografia e pontuação
Um N que virou M
Era uma vez uma menina chamada Iasmin. Ela era muito generosa e carinhosa.
Mas tinha um problema: ela confundia 2 letrinhas: M e N.
Ela era inteligente mas sempre errava na prova as palavras com M e N, tipo:
— lâmpada, bombom, amor, panda...
Ninguém sabia disso além da professora, a melhor amiga e os pais dela.
A amiga e a professora fizeram de tudo. A professora, principalmente, todo dia ela ensinava M e N na escola.
Os pais também ajudavam com lições de memorização.
Mas, um dia um menino falou para a professora assim:
— Ô professora, por que toda a aula de Português a gente tem que aprender sobre M e N?
A professora sem palavras, com o rosto todo vermelho falou gaguejando:
— É porque M e N são parecidos, então temos que treinar.
Com um gesto de afirmação, a aula continuou.
Iasmin voltou para casa surpresa com o acontecido na aula.
Além das tarefas que a professora passa para toda turma, após todos irem embora, ela entrega para Iasmin uma folha com exercícios de M e N para fixação.
Um dia o colega de Iasmin ficou na porta espionando o que tinha na pasta que a professora trazia para a escola todos os dias.
E ele descobriu que ela dava para Iasmin uma folha com exercício de fixação, o que ele não sabia, apesar de ser muito curioso.
Com o passar dos meses Iasmin conseguiu decorar o uso das letrinhas M e N.
Ela ficou muito animada porque nunca mais ia errar seu nome.
FIM
Original da história manuscrita, ilustrada e montada por Bebela
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